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Morre Emanuel Amaral, chargista demolidor de políticos dos anos 80

Por TIÃO MAIA, PARA O CONTILNET

Morreu nesta quarta-feira (18), aos 76 anos de idade, de câncer, em Natal, no Rio Grande do Norte, o chargista Emanuel Cândido do Amaral, que vivem no Acre nos anos 80 cujos desenhos ácidos eram publicados em jornais como “Folha do Acre” e “O Rio Branco”. Em preto e branco, à nanquim, o traço inconfundível do cartunista, com textos ainda mais ácidos, desnudavam os políticos da época, quando os computadores nada mais eram peça de ficção e esse negócio de mídia digital parecia coisa de um futuro inatingível. Era conhecido como “Cabeça branca”.

Artista sensível, tinha também pendores políticos e adversários nesta área. Dois deles, o então prefeito biônico de Rio Branco, Flaviano Melo, e o governador da época, início dos anos 80, Nabor Júnior, comeram da banda podre com ele. Os dois políticos do MDB caíram em desgraça com o chargista porque teriam traído politicamente um de seus amigos, o então senador Mário Maia, e, como vingança, o chargista brindou os dois políticos com traços que faziam de Flaviano Melo um boneco de corda da empresa Mendes Júnior e o então governador, chamado “Ratito Kid”, um personagem nada edificante em relação às finanças públicas.

Emanuel Amaral chegou ao Acre trazido como artista para ministrar cursos de gravura e artes gráficas pelo Sesc (Serviço Social do Comércio), que estava se instalando no Estado. Logo se vinculou à Colônia Cinco Mil, à doutrina do Santo Daime. Seus traços e suas críticas logo chamaram a atenção dos editores da imprensa local, como Sílvio Martinello e Elson Martins da Silveira, então diretores do jornal “Folha do Acre”, onde ele passou a fazer uma charge diária. Era demolidor com adversários da linha editorial que o jornal defendia.

O então senador Mário Maia, eleito senador em 1982 e que pretendia disputar o Governo do Estado nas eleições de 1986 com o apoio do então governador Nabor Júnior, era um dos sócios, majoritário talvez, do jornal “Folha do Acre”. Quando Nabor Júnior mandou buscar o então desconhecido engenheiro da Mendes Júnior, Flaviano Melo, para fazê-lo prefeito indicado de Rio Branco e seu sucessor no Governo, Mário Maia entrou em rota de colisão com os dois, saiu do MDB e foi ser candidato pelo PDT, com o apoio do então PDS de Narciso Mendes de Assis. Perdeu a eleição justamente para Flaviano Melo e desacertou-se, a partir daí, com a política e nunca mais foi eleito a nada.

Mas Emanuel não deixaria a derrota barata e intensificou as charges e as críticas aos líderes do MDB, agora incluindo a governadora Iolanda Fleming, que sucedera Nabor no Palácio Rio Branco. A então governadora e um aviador de nome Pedro Yarzon passaram a ser personagens diárias das charges do desenhista, que apelidara Iolanda de “Pombinha”.

Um dia, o jornal “Folha do Acre” é explodido à bomba, num ato terrorista no qual alguém encontraria, no futuro, digitais do Palácio Rio Branco. Ninguém ficou ferido porque o atentado se dera de madrugada, quando não havia ninguém no prédio. Mas s máquinas que imprimiam o periódico foram literalmente pelos ares. Emanuel Amaral e seu trabalho foram atingidos em cheio.

Consta que, ao deixar o Acre, o artista fora preso no Ceará com um carregamento de drogas, como traficante, o que ele sempre negou e atribuía isso a mais uma ação do Palácio Rio Branco nas perseguições por seus desenhos. Cumpriu pena e, de volta a Natal, trabalhava numa fundação de cultura equivalente à Fundação “Elias Mansour”, no Acre. Dizia que jamais voltaria ao Acre.

A promessa se cumpriu.

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