ContilNet Notícias

Políticos da velha e nova geração se despendem de ex-prefeito no Juruá, Aluísio Bezerra

Por TIÃO MAIA, PARA CONTILNET

A morte do ex-deputado federal por dois mandatos, ex-senador da República e ex-prefeito de Cruzeiro do Sul (um mandato em cada cargo), Aluísio Bezerra de Oliveira, aos 80 anos de idade, na tarde desta quarta-feira (25), em Brasília-DF, pegou o mundo político do Acre de surpresa. Primeiro, porque muitos pensavam que ele já havia falecido, já que ele estava ausente do Estado fazia muito anos, e, em segundo lugar, porque também havia informações de que o velho político, embora com as sequelas de três AVCs seguidos, com dificuldades na fala e locomovendo-se em cadeiras de rodas, parecia firme, duro.

Veja: Morre em Brasília o ex-deputado e ex-senador Aluísio Bezerra, nascido no Juruá

Ainda que surpreendidos, políticos da velha e nova geração fizeram questão de se manifestar e lamentar a perda. Do governador do Estado, Gladson Cameli, passando pelo vice governador Major Rocha, pelo prefeito de Cruzeiro do Sul, Ilderlei Cordeiro, deputados e até agentes políticos como o conselheiro do Tribunal de Cintas do Estado (TCE), Walmir Gomes Ribeiro – todos fizeram questão de lamentar a morte.

Na nota de pesar que mandou editar instituindo três dias de luto oficial do Estado em razão da morte de Aluísio, Gladson Cameli disse, entre outras coisas, que o Acre está a se despedir “de um homem além do seu tempo, tendo sido Aluízio Bezerra um visionário que não somente projetou, mas executou sonhos de grande relevância para a população acreana”.

Em sua nota de pesar, o prefeito de Cruzeiro do Sul, Ilderlei Cordeiro (Progressistas), lembrou que Bezerra era amigo de seu pai, o deputado federal Ildefonço Cordeiro, uma das vítimas do acidente aéreo de 2002 com um avião da Rico Linhas Aéreas, próximo ao aeroporto de Rio Branco. “Cruzeiro do Sul, o Vale do Juruá e o Acre perdem um grande líder. Nossos mais sinceros pêsames à família e aos amigos”, diz a nota.

O vice governador Major Rocha lembrou que, quando ainda era deputado estadual, em 2014, fez aprovar uma menção de louvor na Assembleia Legislativa em favor de Aluísio Bezerra por sua contribuição à democracia e à política. “O Acre perde um grande homem e a política perde um grande político! Quero me solidarizar com toda a família do ex-senador Aluísio Bezerra, o nosso “General da Borracha”, conhecido pela sua luta em favor dos soldados da borracha”, disse Major Rcoha.

Na Assembleia Nacional Constituinte, da qual foi um dos membros como senador, Aluísio Bezerra de Oliveira foi o autor da emenda constitucional que permitiu o atual pagamento de pensão vitalícia no valor de dois salários mínimos para os chamados “Soldados da Borracha”, cuja causa foi uma das mais fortes bandeiras de lutas do político, lembrou a deputada federal Perpétua Almeida (PC do B).

O conselheiro do TCE, Walmir Gomes Ribeiro, também se manifestou em redes sociais enaltecendo os feitos políticos e a pessoa de Aluísio Ribeiro, de quem se apresentou como amigo assim como também de seus familiares.

Albélia Bezerra e Aluisio

Enfim, Aluísio Bezerra de Oliveira era assim, uma figura emblemática. Dele, podia-se gostar ou não, mas jamais ignorá-lo. Sua presença emanava polêmica, principalmente na década de 1970, com o recrudescimento do regime militar. Bezerra, com inserção na esquerda, ligado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), o chamado “Pecebão”, e depois, com a cisão, no Partido Comunista do Brasil (PC do B), tornou-se um duro adversário dos generais.

Foi levado das barrancas do Juruá para Brasília, já o centro do poder da República, por ninguém menos que o então senador Adalberto Sena, seu amigo e conterrâneo de Cruzeiro do Sul, no início dos anos 70. Em Brasília, virou funcionário da Câmara dos Deputados como técnico legislativo. Em 1974, candidatou-se à Câmara Federal e surpreendeu a todos mesmo não tendo sido eleito – ficou na primeira suplência, com boa votação. Nas eleições seguintes, em 1978, conquistou uma das oito vagas do Acre na Câmara. Cumpriu o mandato de deputado federal até 1986, quando foi eleito senador constituinte.

Na Assembleia Nacional Constituinte, perfilou-se no grupo dos chamados senadores progressistas, aqueles que votavam a favor dos direitos trabalhadores e das garantias que fizeram da Constituição de 88 “uma Constituição cidadã”, no dizer do então deputado federal Ulysses Guimarães, amigo de Aluísio. Entre os chamados senadores estavam, além de Aluísio, Mário Maia, do Acre, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, de São Paulo, entre outros – todos agraciados com a nota dez do Diap (Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar), que conferia a nota de acordo com o comportamento do parlamentar (os deputados federais também eram avaliados com o mesmo critério) em relação às chamadas pautas sociais de interesse dos trabalhadores.

No Congresso Nacional, ainda como deputado federal, Aluísio Bezerra de Oliveira foi um dos primeiros a falar da integração do Brasil com o Peru, através do Acre. Por isso, chefiou inúmeras delegações àquele país para tratar do assunto com autoridades locais. Defendia a ligação terrestre exatamente através de Mâncio Lima, no Juruá, com a cidade peruana de Pucallpa, distante cerca de 150 quilômetros – exatamente como defende o governo e lideranças políticas atuais. O governo do Acre, através do então governador Nabor Júnior, encampou a ideia mas, quase 40 anos depois, só agora o sonho do velho político parece estar a caminho da realidade.

Nabor Júnior e Aluísio Bezerra sempre se odiaram calados

Nabor Júnior, também eleito senador constituinte em 1986, embora do mesmo partido, e Aluísio Bezerra de Oliveira, se eram companheiros em público, em privado queriam comer o fígado um do outro. Nabor carregava mágoas do aliado e dizia que, sob seu governo, Aluísio Bezerra lhe trouxera muitas dores de cabeça, quase dividindo o Estado. Aluísio dirigia a chamada “Tendência Popular”, na qual se abrigavam, dentro do MDB, ex-comunistas tanto do PCB como do PC do B e outros esquerdistas que, com a fundação do PT e a legalização de outros partidos de esquerda, preferiram ficar no MDB – isso sem deixar de reivindicar os principais cargos do governo, como as maiores secretarias de Estado, como a de Educação – por exemplo. Aluísio era a imagem deste grupo ambicioso. Isso irritou Nabor Júnior por todo seu governo.

Aluísio Bezerra era apontado também como o responsável pela vinda ao Acre do polêmico Rubem Branquinho, um engenheiro do Distrito Federal que no Acre se tornou secretário de Transporte de Nabor Júnior. Mesmo sob a realização de algumas obras polêmicas, como a ponte de madeira sobre o rio Acre em Brasiléia, que foi levada pela primeira enchente de 1984, dois anos depois também se elegeu deputado federal constituinte e, em 1990, foi candidato ao governo do Estado. Aluísio Bezerra dizia a amigos que sua aliança com Branquinho foi seu grande erro na política, o que talvez lhe tirou a chance de um dia disputar o governo do Acre, seu grande sonho.

Ao perder as eleições para a reeleição ao sendo, em 1990, Aluísio Bezerra passou a focar na esposa, Zila Bezerra, como sua substituta na política. Assim, a funcionária do Itamaraty obteve três mandatos seguidos de deputado federal e um de prefeita de Cruzeiro do Sul, nas eleições de 2005.

O cargo havia sido ocupado pelo próprio Aluísio Bezerra de 1986 a 2000, quando ele foi candidato à reeleição pelo MDB e viu seus próprios aliados, como o então senador Nabor Júnior e o então deputado estadual Vagner Sales traindo-o para apoiar César Messias, então no PP. Ao final, César Messias venceu por pouco mais de mil votos e também terminou o mandato traindo Nabor e Sales ao se transformar em aliado da então Frente Popular do Acre (FPA), encabeçada pelo PT do então governador Jorge Viana.

As derrotas e decepções calaram fundo no coração do velho comunista que se aliançara. Aí vieram os derrames cerebrais, a perda da fala e dos movimentos e o afastamento do Acre. Acabou seu casamento com Zila Bezerra e ultimamente ele vivia sob cuidados de assistentes e da única irmã Albélia Bezerra, que deverá decidir-se pelo sepultamento do ilustre acreano no cemitério de Brasília. Encerrou-se um ciclo da política local.

Sair da versão mobile