Facebook diz que ajudou a eleger Trump sem fake news; entenda

Um executivo do Facebook disse, em memorando interno da empresa, que a rede social ajudou a eleger o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas apenas porque soube utilizar as plataformas de marketing da melhor forma na campanha de 2016. A declaração foi realizada no último mês e divulgada nesta terça-feira (7) pelo jornal The New York Times. Andrew Bosworth, que é chefe da divisão de realidade aumentada do Facebook, escreveu que Trump “não foi eleito graças à Rússia, à desinformação ou à Cambridge Analytica”, mas sim “porque teve a melhor campanha de publicidade digital já vista”.

Além disso, Bosworth avalia que as regras do Facebook teriam contribuído para a eleição do presidente em 2016. De acordo com o executivo, isso poderia ocorrer novamente em 2020, já que a empresa mantém uma política de não fiscalizar anúncios políticos na plataforma.

Bosworth, que no ano da eleição era chefe da divisão de anúncios do Facebook, admitiu no memorando do último dia 30 de dezembro que ele pessoalmente desejava a derrota de Trump. No entanto, disse que decidiu não interferir nos sistemas de publicidade da rede social para conseguir votos para a candidata democrata Hillary Clinton. Ele cita, porém, que as regras da plataforma de anúncios contribuíram para a vitória do atual presidente.

A mensagem faz referência à política do Facebook de não revisar anúncios de políticos. Dois anos depois da eleição de 2016, um ex-funcionário da Cambridge Analytica revelou que a firma de consultoria plantou notícias falsas na rede social para beneficiar a campanha de Trump. A prática teria sido favorecida pela falta de monitoramento por parte da plataforma.

Em audiência no Senado dos Estados Unidos, Mark Zuckerberg confirmou que a política de anúncios da empresa não envolve a checagem de fatos em anúncios, incluindo aqueles realizados por campanhas eleitorais. Além da questão das fake news, o fundador da rede social também foi chamado para esclarecer o uso indevido de dados de milhões de usuários pela Cambridge Analytica.

Desde então, o Facebook realizou diversas alterações nas políticas de privacidade para restringir o uso de dados por aplicativos de terceiros. A rede social, porém, não pretende começar a checar eventual desinformação em anúncios das eleições presidenciais americanas marcadas para 2020. A medida vai na contramão do Google, que anunciou restrições a esse tipo de propaganda, e do Twitter, que baniu posts patrocinados de políticos no microblog.

Segundo o New York Times, a mensagem no perfil interno de Bosworth gerou uma onda de comentários de demais funcionários da empresa. Vários cobraram um posicionamento mais enérgico da rede social no sentido de mudar a postura na intermediação de anúncios com o objetivo de impedir a distribuição de fake news em larga escala em período eleitoral.

O executivo, no entanto, defende a posição atual do Facebook, embora admita que a decisão “pode muito bem levar à reeleição de Trump”.

PUBLICIDADE