Estão cada vez mais tensas as relações entre brasileiros que precisam atravessar a fronteira e os que vivem em território boliviano, como estudantes de medicina que se espalham por todo o território do país, de Cobija, em Pando, à capital La Paz. A tensão é tanta que o Portal Consular, do Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, a Casa da Diplomacia brasileira, está reiterando um comunicado a todos os brasileiros a evitarem viagens à Bolívia por esses dias.
Não bastasse a tensão por conta da instabilidade política no país desde a queda do então presidente constitucional Evo Morales, a crise agora é de fronteira, envolvendo colonos e indígenas, cujos protestos estão deixando várias estradas bloqueadas na região de Riberalta e Pando, na fronteira com o Brasil, no Alto acre. Os produtores bolivianos questionam, por exemplo, a queda no preço da castanha-do-brasil, produzida em abundância na Bolívia, na região da fronteira com o Acre.
Nas recomendações aos brasileiros por causa da crise política na Bolívia, o ministério das Relações Exteriores reitera aos cidadãos brasileiros “a importância e necessidade de evitar viagens não essenciais a qualquer parte do território boliviano”. De acordo com o Itamaraty, ainda que se identifiquem neste início de ano os primeiros sinais positivos de retomada da normalidade em relação ao abastecimento de alimentos e ao acesso à infraestrutura de transportes na Bolívia, há possibilidade de o viajante deparar-se com protestos, confrontos violentos e bloqueios de vias terrestres, além de enfrentar dificuldades de acesso aos aeroportos, embora em menor intensidade do que se observou no início da crise, em outubro passado. “O risco de tensão social parece ter-se atenuado; no entanto, a crise que desencadeou a deterioração das condições de segurança no país não pode ser considerada superada”, diz o boletim do Itamaraty.
Jornais da Bolívia informam que povoados como de Nanagua, El Sena, Batraja, Santa Elena, Santa Lúcia estão sofrendo com bloqueios. As associações de camponeses e indígenas acusam o governo, através do Ministério de Desenvolvimento Produtivo e Economia, em fracassar no acordo que iria elevar o preço da amêndoa brasileira – a Bolívia é o segundo maior produtor da castanha-do-brasil.
Há um grupo de brasileiros diretamente envolvidos na crise. Trata-se de quatro brasileiros que estariam estão impedidos de sair da Comunidade de El Carmem, distante cerca de 180 quilômetros de Cobija. Eles estriam na região realizando trabalhos religiosos. Na volta, ficaram sabendo do bloqueio e estão a cerca de 11 dias sem poder voltar para casa.
Algumas informações foram passadas por mensagens via telefone, onde mostram pedindo ajuda às autoridades do Brasil para poder sair do país e voltar para casa. “Somos seis pessoas querendo sair, quatro brasileiros e dois bolivianos. Eu vim passar cinco dias e já se passaram onze e o ‘permisso’ já tá vencido. Precisamos de ajuda”, disse um brasileiro numa mensagem enviada a um parente no Brasil, na região de Brasiléia.