Com o fim do show e na volta à realidade, é hora de analisar o que significou os cinco dias e cinco noites de folia do Carnaval 2020 em todo o Acre e, principalmente, em Rio Branco, onde foi registrado o maior número de pessoas nas ruas e nos salões instalados para este fim. Em, que pese a onda de violência que transformou a capital do Acre, desde 2018, na segunda cidade mais violenta do país, o Carnaval que passou foi praticamente sem o registro de crimes por causa da festa, graças à organização e à tranquilidade da festa nos bairros, fruto do trabalho da prefeita Socorro Neri e de sua equipe.
Do ponto de vista econômico, não foi, também, o Carnaval da crise, como parecia. A liberação do pagamento do funcionalismo estadual, por determinação do governador Gladson Camdeli, e dos servidores municipais, pela prefeita Socorro Neri, ainda na sexta-feira e primeira noite da festa, parece ter contribuído para um Carnaval de paz, de tranquilidade. Os acreanos de Rio Branco foram à festa “buiados”, como se diz no popular em relação ao dinheiro no bolso. Ou nas contas.
Os órgãos de segurança, que trabalharam em conjunto evolvendo agentes federais e estaduais, ainda estão contabilizando suas estatísticas para divulgarem os números de ocorrência, mas já se sabe que os casos registrados foram muito abaixo do que era estimado e a maioria das ocorrências se deu por motivos alheios à festa, tanto na Capital como no interior.
Na Capital, o que se viu foi a integração dos bairros com a festa no centro da cidade, no chamado Novo Mercado Velho, às margens do rio Acre. Ali, a população dos bairros Esperança, Manuel Julião e Vila Ivonete, que realizaram seguramente os carnavais mais bem organizados da cidade, os brincantes iam se juntar aos brincantes que preferiram o espaço às margens do rio.
“Esta estratégia da Prefeitura de espalhar o carnaval pelos bairros tem mostrado eficiência e que deu certo”, elogiou o presidente da Fundação de Cultura “Garibaldi Brasil”, órgão da Prefeitura, Sérgio de Carvalho. O carnaval de Rio Branco em 2020 deu certo porque não faltou criatividade, inclusive na escolha das fantasias dos foliões.
Brincantes de blocos como o “Vai Quem Quer”, ou o Bloco dos Sujos, último a se apresentar na cidade, mostrou porque se mantém tradicional há 29 anos. Os foliões são, em sua maioria, moradores do Conjunto Tucumã, em Rio Branco, que recebem moradores dos bairros vizinhos, os quais se unem em uma só festa. O bloco é famoso pelo fato de os homens se vestirem de mulher – caso do jornalista Antônio Carlos Batista. Repórter de polícia há 40 anos e que ganhou o apelido de “Malvadeza” por não registrar nenhuma emoção em relação às ocorrências criminosas as quais é obrigado a relatar, esbaldou-se na festa com roupas femininas e um bigode embranquecido apenas para não deixar morrer ou esquecer a masculinidade ocultada dentro de si.
Danilo Lopes, o fundador do Bloco dos Sujos, falou da emoção de comandar mais um carnaval de rua. “Levamos às ruas uma grande quantidade de gente dentro do bloco. A comunidade e toda adjacência. Todos participando aqui com crianças, pessoas de idade brincando no nosso carnaval que sempre foi só alegria, completando 29 anos, esse ano”, disse. “Foi tudo tranquilo, tudo na paz e todo ano é assim, a gente carregando mais pessoas pro nosso bloco dentro do conjunto”, acrescentou.
Tranquilidade nas festas também do interior do Estado
Em Cruzeiro do Sul também houve festa no chamado Carnaval Cultural “Magid Almeida” – homenagem a um antigo folião falecido no passado. Os organizadores avaliam que nas quatro noites pelo menos 35 mil pessoas saíram às ruas para brincar o Carnaval promovido pela Prefeitura, reunindo cerca de 100 empreendimentos e com geração de renda para pelo menos 60 artistas acreanos. Cruzeiro do Sul recebeu turista de vários locais do Acre, e de estados vizinhos, como o Amazonas.
“Há mais de 30 anos, não tínhamos apresentações dos Marujos em Cruzeiro do Sul. E através da Lei de Incentivo à Cultura, conseguimos resgatar dois grupos,” disse o secretário municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Cruzeiro do Sul, Ademir Maciel. O carnaval foi realizado em Cruzeiro do Sul na praça “Governador Orleir Cameli”.
Na outra ponta do Acre, em Brasileia, na fronteira com a Bolívia, foi mantida a tradição de uma grande festa de Carnaval na região. A concentração da festa no Alto Acre se deu na Praça “Hugo Poli”, com jovens e adultos brincando juntos, a hora permitida. A apresentação mais esperada foi o do “Bloco as Rolinhas do Coronel”, composto, em sua maioria, por homens vestidos de mulher, com suas caras e bocas, e às vezes muito – mas mito mesmo – desajeitados.