Satanizado pelo movimento ambiental nacional por suas posições em defesa das propostas do governo do presidente Jair Bolsonaro para a área e pela aproximação com o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, o senador Márcio Bittar (MDB-AC) se tornou esperança e uma espécie de tábua de salvação para moradores da Reserva Chico Mendes, que inclui os municípios de Xapuri, Brasileia e Epitaciolândia. Na sua última passagem pelo Vale do Acre, no final de semana passado, liderando uma caravana do MDB que percorria os municípios ajustando seus pré-candidatos à disputa municipal das eleições deste ano, o senador foi convidado para um encontro com moradores da Reserva Chico Mendes, em Xapuri.
A reunião foi convocada pelo presidente da Amoprebi (Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Chico Mendes) em Brasiléia e Epitaciolândia, José Maria Pimentel Maia, 46 anos, conhecido por “Açúcar”. Ele disse que chamou o senador para o encontro porque há muitos problemas dentro da Reserva e disse que os moradores da região estão precisando de auxílio do poder público, incluindo os parlamentares. “Nós chamamos o senador aqui para que ele possa levar ao governo estadual e para Brasília o grito das nossas necessidades”, disse. “Nós vivemos um momento muito delicado porque a produção, dentro da Reserva, não é auto-sustentável para as nossas famílias”, acrescentou.
De acordo com “Açúcar”, se os moradores da localidade forem depender, única e exclusivamente, do que produzem na Reserva, muitos vão passar dificuldades, inclusive fome. “A produção do extrativismo nos deixa abaixo da linha da pobreza”, disse “Açucar”. “Os preços dos produtos estão muito baixos. A borracha, que é o nosso carro-chefe, está a R$ 2,00 o quilo. A castanha, apenas R$ 15 a lata e o outro produto que poderia nos ajudar seria o açaí, mas, em relação a isso, não há nenhuma política dentro da Reserva”, acrescentou.
O maior rendimento de quem vive na Reserva, segundo “Açúcar”, é a criação de gado, “com a venda de alguns bezerros”, e as transferências de renda de programas como o Bolsa-Família. “Eu não tenho vergonha de falar. A gente lamenta muito por isso porque vivemos num território que, se plantarmos pedra, ela vai germinar. Mas não plantamos porque não temos incentivos dos governos”, afirmou, falando metaforicamente sobre a germinaçõ de pedregulhos.
Outro problema da Reserva, de acordo com o presidente da Associação, é a trafegabilidade, principalmente nesta época do ano, em que os ramais estão cheio de atoleiros e quase intransponíveis. “As leis impedem o asfaltamento dentro da Reserva”, reclamou ao senador.
Márcio Bittar ouviu as reclamações e disse que nada melhor do que poder ouvir quem de fato vive os problemas, como os moradores da Reserva, e poder fazer uma espécie de prestação de contas de seu trabalho. “Eu disse a eles que, se nós não conseguimos alterar e flexibilizar algumas coisas do Acre e ao mesmo tempo em relação a algumas obras que o governo federal tem que fazer, nós não teremos saída. Nós chegamos a um ponto que somos o Estado mais pobre do Brasil e um dos estados mais violentos do país e este é um posto que não agrada a ninguém”, disse o senador.
Para Márcio Bittar, “morar numa Reserva ambiental pode ser muito bonito e bacana para quem está no Rio de Janeiro, em Copacabana, ou no bem estar do ar condicionado”. Para quem está lá dentro (da Reserva), segundo o senador, precisando de uma estrada que não existe, tendo que andar a pé uma hora ou duas em busca da aquisição de alimento ou no caso de uma mulher grávida que tem que ser transportada numa rede, como ocorria nos seringais no século passado, é uma vida muito difícil. “A pergunta que se faz é esta: é isso que o ganhamos por termos a região mais protegida do planeta? O bioma amazônico está praticamente intacto, mas as pessoas estão famintas e passando por outras necessidades. Para que isso mude, é preciso que as pessoas do Estado e da região, junto com o governo federal, tenham coragem de conversar serenamente e tomar as medidas necessárias para alterar a realidade”, disse. “Uma delas é flexibilizar as leis ambientais em relação às reservas. Ou a gente explora as terras férteis para plantar, para produzir, tirando o minério e o gás que existe debaixo do solo, não há como prosperarmos”, acrescentou.
O desenvolvimento pode ser aplicado sem depredação ambiental, disse o senador. “Há técnicas para fazer sem depredação. A depredação ambiental está nas cidades, onde esta turma que se diz preocupada com o meio ambiente, não fez nada ao longo do tempo em que esteve no governo”, disse, referindo-se aos 20 anos em que o Estado foi governado pelo PT através da chamada FPA (Frente Popular do Acre).