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Covid-19 se espalhou pelo mundo mais devagar do que o H1N1, aponta levantamento

Por G1

A comparação entre o total de países afetados na atual epidemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) e na pandemia causada pelo H1N1 mostra que a Covid-19 teve número 41,8% inferior de territórios afetados. O cálculo considera igual período de dois meses no começo da circulação de cada vírus.

O H1N1, responsável pela gripe A, teve 55.867 casos entre 24 de abril e 24 de junho de 2009, contra mais 88.948 pessoas doentes pelo Sars-CoV-2 desde 31 de dezembro deste ano até 2 de março.

H1N1 e Sars-CoV-2, em dois meses:

Países com apenas 1 caso:

16 de 110 na gripe A (14,5%)

19 de 64 no novo coronavírus (29,6%)
Países com mais de 50 casos:

39 de 110 na gripe A (35,4%)

9 de 64 no novo coronavírus (14%)

Concentração em países:

Coronavírus – 95% dos casos na China

H1N1 – 63% dos casos nos Estados Unidos, Canadá e México

Por outro lado, se o novo coronavírus alcançou mais países do que a pandemia de H1N1, ele infectou mais pessoas, concentradas principalmente na China nos últimos dois meses.

A epidemia do H1N1 começou no interior do México, tendo o primeiro boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 24 de abril de 2009. Sessenta dias depois, o Brasil tinha 334 casos e nenhuma morte. O primeiro registro no país ocorreu em 8 de abril daquele ano, 15 dias depois do início do monitoramento do órgão de saúde da ONU.

No caso do coronavírus, 62 dias depois do alerta que apontou o surto na China, o Brasil tinha 2 casos confirmados.

Levantamento feito pelo G1 e publicado nesta segunda-feira (2) mostra que, até então, 41 dos 64 países tiveram casos importados. Para o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o momento ainda é de trabalhar na contenção do vírus.

“Mais de 130 países não reportaram nenhum caso. Eu deixo a pergunta para vocês: isso não pode ser contido? Para nós, eu espero que fique claro, se render não é uma opção. Nós temos que fazer o melhor com uma estratégia de contenção”, declarou.

Diferença entre circulação do H1N1 e do coronavírus

A infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estuda a família coronavírus e, além disso, também acompanha a circulação do H1N1 no Brasil. Para Bellei, fatores geográficos, políticos e tecnológicos contribuíram para a disseminação do H1N1 em mais países, além das características particulares do vírus. Um deles é que ocorria uma demora maior da OMS para os testes diagnósticos há 10 anos – hoje, a tecnologia e o mapeamento genético baratearam e agilizaram o processo.

“Agora, a gente não tem problema em identificar um gene novo, a genética dos seres vivos está na nossa mão”.
Outro ponto apontado pela pesquisadora é que, apesar da declaração de pandemia da OMS em 11 de junho de 2009, as barreiras internacionais contra a gripe A não foram estabelecidas como deveriam.

“Talvez porque era um vírus influenza. Havia uma preocupação da comunidade internacional de que fosse uma gripe aviária como a espanhola. Todo mundo achava que seria um H5N1. Mas rapidamente foi visto que tinham muitos casos em mais jovens e adultos, mas não havia a mortalidade da gripe espanhola”, disse Bellei.

Mais um fator, de acordo com médica, é que os casos surgiram no verão do México – época menos propícia para a disseminação de Influenza e, por isso, “pouco se achava que teria uma disseminação importante”. Isso influenciou em medidas preventivas menos rígidas contra o vírus H1N1, inicialmente.

Havia, ainda, um medicamento disponível: o tamiflu, que gerou uma corrida e mostrou uma discrepância entre países ricos e pobres, e seus sistemas de saúde.

“Na época, tivemos muitos problemas em São Paulo. Tinha uma série de protocolos para seguir, se segurou muito medicamento no início e se tratou só quem estava hospitalizado. Principalmente porque a gente não tinha estoque. Tanto que proporcionalmente, no final, o Brasil teve um grande número de óbitos. Foram muitos desacertos”, disse a infectologista.

Coronavírus

Apesar das barreiras implementadas pelo governo chinês ainda no primeiro mês de epidemia do Sars-CoV-2, o número de casos continuou a crescer. Porém, de fato, o maior número de registros está centralizado no país asiático e na província de Hubei – 5% das infecções estão em outros países do mundo. Bellei avalia que o confinamento dos pacientes na China pode ter contribuído.

Mesmo assim, de acordo com a médica, prever exatamente como será a disseminação nos próximos meses ainda depende de novos dados públicos sobre o novo vírus.

Ela avalia que, ao comparar o Sars-CoV-2 com o H1N1, a velocidade da divulgação das informações foi mais rápida há 10 anos. O governo chinês ainda não liberou e/ou estudou informações importantes sobre o vírus.

“Nós não sabemos a taxa de ataque, quantos % dos pacientes são assintomáticos, como de fato é feita a transmissão. É possível que o coronavírus tenha características que ainda não descobrimos que justificam essa transmissão mais fácil. Por exemplo, esses dias fizeram um teste molecular PCR em fezes e encontraram o vírus lá. Qual é o impacto disso na infecção?”, questiona a pesquisadora.

A taxa de ataque é a porcentagem oficial de pessoas que será infectada em um determinado local e em um determinado espaço de tempo. No caso do navio Diamond Princess, que teve centenas de infecções entre 3,7 mil passageiros e tripulantes, um “laboratório vivo” foi montado, disse a pesquisadora. Se analisarmos o local, de 10% a 20% das pessoas foram infectadas entre 8 a 10 semanas. De qualquer forma, apenas uma pesquisa científica real poderá confirmar esses números.

O status do problema de saúde com o coronavírus no Brasil é diferente do que foi visto em 2009 com o H1N1. O primeiro ponto é que, em dois meses, o país tem 2 caso da Covid-19, contra mais de 300 registros da gripe A no mesmo espaço de tempo há 10 anos.

A infectologista, que chegou a cuidar de um hospital para receber pacientes com a Gripe A, diz que algumas diferenças entre os cenários podem fazer a dispersão do Sars-CoV-2 no Brasil ser diferente.

Em 2009, o Ministério da Saúde chegou a negar uma circulação local do H1N1 no país. Neste ano, a pasta acompanha o coronavírus desde a primeira suspeita no território brasileiro, com divulgações diárias.

O H1N1 já tinha um medicamento pronto para tratar a doença, o tamiflu. No caso do Sars-CoV-2, não existe uma droga pronta, apesar de estudos com remédios do ebola e da malária apontarem uma taxa de sucesso.

No caso do H1N1, as vacinas da gripe já existiam, e foi relativamente rápida a adaptação pelos cientistas. Nenhum integrante da família coronavírus, nem Sars, nem Mers, tem uma vacina base para fazer mudanças e usar contra o novo integrante.

Uma coincidência entre os dois vírus respiratórios é que a disseminação começou durante o inverno e no Sudeste do país. A pesquisadora defende que a experiência vivida há 10 anos seja retomada, e que o país não repita os mesmos erros.

“Você precisa ter um local para atender os pacientes mais graves e outro para os menos graves. A comunicação precisa ser muito bem alinhada, com mapeamentos semanais. Temos que evitar o pânico em todas as classes sociais, porque assim vamos conseguir tratar quem realmente está em risco”.

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