Independentemente do resultado em Tóquio-2020, a Seleção Brasileira feminina de vôlei terá um novo treinador após os Jogos, uma vez que José Roberto Guimarães já decidiu que encerrará o ciclo na equipe. Um personagem central nas conquistas do grupo é apontado como seu possível sucessor, mas prefere não criar expectativas para evitar frustrações.
Assistente da Seleção, braço direito do tricampeão olímpico e treinador do Dentil/Praia Clube, líder da Superliga feminina, Paulo Coco sabe que diversos fatores serão levados em conta pelos dirigentes da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Seu foco é, portanto, conquistar a taça do torneio nacional e ajudar o Brasil na caminhada para a Olimpíada.
Em busca do segundo título da Superliga (o primeiro foi na temporada 2017/2018), o time mineiro defende a primeira colocação nesta sexta-feira, às 21h30, contra o Osasco Audax/São Cristóvão Saúde, em Uberlândia (MG). O Itambé/Minas, que impediu o Praia de conquistar a taça do Sul-Americano, em fevereiro, aparece em segundo lugar e tenta tomar a liderança.
– É claro que treinar a Seleção Brasileira é o sonho de qualquer um, mas não vejo como realidade no momento. Não tenho nenhuma expectativa de dar continuidade ao trabalho, pois sabemos que há muitos fatores, inclusive políticos, para a decisão. Não perco meu tempo pensando nisso. Meu foco é desenvolver um bom trabalho no Dentil/Praia Clube, tentar conquistar o título da Superliga e, em segundo plano, me dedicar à Seleção, exclusivamente para os Jogos de Tóquio. Se decidirem por mim, pensaremos no momento oportuno – afirmou Paulo, de 53 anos, ao LANCE!.
Durante a Superliga, a parceria de anos na Seleção dá lugar a uma rivalidade, já que Zé Roberto comanda o São Paulo/Barueri. Mas eles não deixam de se falar. Primeiro, porque a comissão técnica planeja há meses cada detalhe do ano olímpico. O rendimento e a condição física das jogadoras na temporada de clubes é uma preocupação. Além disso, a amizade dos treinadores pesa mais do que qualquer disputa em quadra.
– Sou muito grato ao Zé, pela indicação como seu sucessor e pela amizade dele há mais de 30 anos. Todos os ensinamentos que me proporcionou no dia a dia contribuíram para minha carreira. Jogamos juntos, depois nos afastamos, mas ele foi o cara que me deu as primeiras oportunidades como técnico – lembra Coco, que já comandou Osasco, Murcia (ESP), Vôlei Amil e Minas e atuava como levantador, assim como Zé Roberto.
A sucessão é um tema delicado para a CBV, que durante décadas contou com dois dos técnicos mais vitoriosos do vôlei mundial. Campeão olímpico com o masculino em Barcelona-1992, Zé assumiu a Seleção feminina em 2003 e terá completado 17 anos à frente do grupo após os Jogos. Ele sempre declarou que Paulo, presente nas conquistas dos ouros em Pequim-2008 e Londres-2012, é o nome desejado por ele para seguir sua linha de trabalho.
Mas a preferência declarada dos multicampeões não é decisiva. Após o ouro na Rio-2016, Bernardinho se despediu da equipe masculina e encerrou uma história de 16 anos. Rubinho, seu assistente na ocasião e hoje técnico do Sesi-SP, era apontado como o sucessor, mas a entidade preferiu Renan Dal Zotto, prata em Los Angeles-1984 como atleta e por muitos anos diretor da CBV.
Apesar de contestações iniciais, o ídolo da geração de prata mostrou que a escolha foi acertada e espantou as desconfianças, algo que o sucessor de Zé Roberto, seja quem for, provavelmente também terá de fazer. Afinal, não será simples substituir o único tricampeão olímpico do esporte brasileiro.BATE-BOLA
Paulo Coco Técnico do Praia Clube, ao LANCE!
‘Será uma das Olimpíadas mais difíceis’
Você levou o Praia Clube ao título da Superliga 2017/2018, foi vice em 2018/2019 e lidera a competição, fora outras conquistas. Que status acredita que alcançou?
Tenho uma grande estrutura para trabalhar, em todos os sentidos. Temos um patrocinador forte, que nos apoia. Uberlândia vive o voleibol. Temos apoio irrestrito. Não tem nada a ver com o poder público, mas conseguimos um incentivo importante. Estamos em uma equipe forte onde posso desenvolver o trabalho. Temos de aproveitar a chance e nos dedicar. Conseguimos conquistas importantes, inéditas para o projeto, e espero ampliá-las ainda mais.
O time perdeu decisões para Sesc (Copa Brasil) e Minas (Sul-Americano). O que ainda falta?
Sabemos das dificuldades, devido à qualidade dos adversários, mas estamos trabalhando para nos ajustarmos e termos não só um poder ofensivo, mas também defensivo, com volume de jogo e maior qualidade. Estamos no caminho para isto.
Apesar de a Superliga ser o foco, o pensamento já está na montagem do grupo para Tóquio-2020?
É claro que, desde já, estamos preparando a convocação. O planejamento já começou a ser feito há muito tempo. Nós da comissão estamos conversando. O foco é a Olimpíada, pois termos de encontrar um grupo equilibrado. Será uma das edições mais difíceis dos últimos anos.
Após um ciclo olímpico de dispensas e lesões, estamos bem?
Acho que é o momento. Nesses últimos três anos, não conseguimos ter todo mundo. Estamos em uma fase de recuperação. Jogadoras que estavam afastadas, como a Fabiana e a Thaisa, estão voltando fortes de rendimento. Se estiverem dispostas, existe uma grande possibilidade de estarem conosco. E há outras que participaram deste ciclo, como a Tandara, a Natália e a Gabi, que formam um tripé importante, mas que não conseguimos neste ciclo colocar junto.
Com elas e as mais experientes recuperadas, temos um grupo forte. Não tenho dúvidas de que o Zé vai conversar com as melhores em atividade, seja no Brasil ou no exterior. Todas as atletas com um nível alto serão bem-vindas. Se quiserem, irão somar. Gostaria que a Garay estivesse disposta a ajudar. Espero que cheguemos com força máxima. Se conseguirmos isto, brigaremos em condição de igualdade com as melhores seleções.