O texto traz uma reflexão da vida humana, no correr dos séculos, desde a era primitiva à moderna. Tem como centro motivador o SER HUMANO, tudo para ele e por ele. Nada deverá ser feito que não seja para o bem-estar da humanidade. A vida na terra deverá girar em torno do ser humano, é ele o motor da história, em qualquer sistema, para ser bem sucedido. Tudo para o ser humano e por ele. Agora estamos num momento CRUCIAL: cuidar e preservar vidas. Assim caminha a humanidade, como avista nas linhas que se seguem.
A velocidade de locomoção humana, na atualidade, é algo inexplicável. É possível se deslocar de um continente, ou de um país para o outro em poucas horas, graças aos modernos trens, navios e aviões com tecnologia de ponta. Mas nem sempre os sistemas de transportes foram tão rápidos assim. Durante a idade antiga, no período em que o homem era sedentário, e vivia de coletas de frutos, ele caminhava de um lugar para outro sem o auxílio das máquinas. Depois de milhares de anos passaram a descobrir técnicas de prender, domesticar animais e cultivar alimentos, passando da condição de nômade para sedentário e vivendo em grupos, formando, assim, os primeiros povoados. Agora, os humanos poderiam usar os animais no transporte de mercadorias e para si mesmos. Mas a descoberta da roda foi sem dúvida um dos maiores adventos humano, de todos os tempos, e que revolucionou o sistema de transporte, pois a fabricação da carroça alocada ao lombo do boi foi algo extraordinário.
Avançando mais um pouco na linha temporal, podemos destacar na Idade Média a existência de uma sociedade tripartida, que deixava as pessoas em seus lugares vivendo uma vida piedosa e conformista, tornando a humanidade um pouco estagnada em seu espaço e tempo. Com o surgimento da burguesia mercantil, causando uma ruptura no status quo, dará lugar para que esta nova sociedade comece a investir parte de seu lucro na melhoria dos sistemas de transporte marítimo e na criação de recursos tecnológicos, visando atingir seus anseios. A idealização de instrumentos como o astrolábio, sextante e a bússola para auxiliarem os homens nas rotas marítimas, nas modernas caravelas planejadas na Escola de Sagres, eram uma das grandes conquistas para a sociedade daqueles tempos, pois deixaria a locomoção humana mais lépida e eficiente.
A facilidade de deslocamento de pessoas, assim como a rapidez destas viagens acabaram facilitando não só a aproximação dos humanos no mundo inteiro, mas o contato físico entre as civilizações. Deste modo, as idas e vindas de comerciantes de várias partes do mundo e sua circulação dentro dos burgos, como também a migração de servos vindos dos feudos, causaram os primeiros inchaços populacionais, criando um ambiente extremamente insalubre e, consequentemente, abrindo espaço para o surgimento de inúmeras epidemias, e uma das mais letais foi sem dúvida nenhuma a peste negra. Segundo Le Goff, no ano de 1350, cerca de um terço da população europeia foi dizimada pela epidemia que se espalhou pelos países da Europa numa velocidade sem precedentes.
No entanto, desde as descobertas marítimas dos séculos XV e XVII o homem se tornou mais próximo um do outro, mantendo aproximações com culturas diversificadas. Desta maneira, as sociedades europeias, imbuídas de avanços no sistema de transporte, não só levavam mercadorias em suas caravelas e enriquecimento para as cidades, mas, sobretudo, epidemias, e muitas delas foram responsáveis pela morte, em massa, de civilizações nativas inteiras, durante as invasões dos europeus nas américas.
Já durante o Renascimento, gênios e demais polímatas como Leonardo da Vinci planejava um modelo de transporte mais rápido como é o caso de seu brilhante projeto do primeiro helicóptero, numa era em que o homem nem havia sonhado na criação do carro. Era a época da modernidade dando sinal que a mecânica estava a florescer alimentada pelo acúmulo de riqueza na figura dos grandes mecenas que habitavam nas prósperas cidades Italianas de Gênova, Veneza e Marselha.
Logo mais tarde, com a primeira e segunda Revolução Industrial, as máquinas ganharam mais rapidez dando lugar para as caldeiras do motor a vapor das imensas locomotivas que trilhavam nas primeiras e modernas ferrovias da Europa. A modernização da locomoção a vapor e o avanço nas construções de estradas de ferro, assim como a genialidade de Henry Ford, nos trouxeram a certeza de que estávamos ainda mais perto um do outro. Em seguida, Santos Dumont, cria uma máquina voadora e resolve dar uma volta no seu 14-Biz ao redor da torre Eiffel, tida como o símbolo da Revolução Industrial e da engenharia moderna.
Com a escassez de matérias-primas em seus territórios, os europeus no século XIX partem para a dominação do continente africano, visando a manutenção de seu império industrial. Durante este período, doenças como o Ebola e a Aids, todas elas frutos do colonialismo, acabaram se espalhando no mundo, pelos hospedeiros europeus em suas noites de orgias nas inúmeras casas noturnas existentes no globo, as doenças se alastram pelo mundo numa velocidade incontrolável. Tais epidemias que neste período eram caracterizadas como letais, a exemplo da gripe espanhola que chegou a matar nosso querido Presidente Rodrigues Alves, causará noites de sono em chefes de estados e líderes cientistas de todo o planeta, que buscarão dia e noite uma solução para uma guerra onde o inimigo era quase invisível. Mesmo sabendo que a ciência e tecnologia haviam dado um salto extremo ao longo da história, os humanos nem imaginavam que suas brilhantes descobertas, não serviriam para vivermos em contato físico, mas sim virtual. Fizemos de tudo para se aproximar do outro e de culturas diversificadas. Mas alguma coisa deu errado, porque algo muito pequeno veio e nos distanciou novamente.
Um outro fator, foram as mudanças climáticas causados pela interferência humana na natureza. O Homem, em sua ganância de caráter econômico, passou a destruir suas florestas, visando o acúmulo de capital, nem que para isto causasse um desequilíbrio ambiental. Para manter seu capital financeiro evoluindo, os humanos exploraram o solo, poluíram seus rios e igarapés, soltaram gases poluentes na atmosfera e destruíram biodiversidades inteiras, atitudes estas, que acabaram influenciando no aquecimento do planeta e abalando os nossos ecossistemas. Lugares do mundo que antes tinham uma temperatura altíssima, agora são frios, ao mesmo tempo em que ambientes que dantes eram frios, na atualidade são quentes. Especialistas afirmam que a alteração no clima, acaba produzindo efeitos no organismo humano diversificado, que vai tornar o ser humano mais vulnerável as epidemias como a pneumonia e a tuberculose. E este fator é preocupante em nossos dias.
Mas de uma coisa nós temos a certeza, agora é a chance que o planeta terra tem de descansar um pouco, as maiores metrópoles do mundo paralisaram partes de suas fábricas, assim como a atmosfera terá dias de descanso, rios, lagos e oceanos vão parar de receber poluentes por algum tempo, algo invisível decidiu dizer quem verdadeiramente manda no pedaço. Assim, a menina vinda do Seringal Bagaço nunca esteve blefando.
Na atualidade, o mundo treme ao ver o surgimento de uma nova epidemia e que mais tarde se tornaria uma pandemia, um vírus o CORONAVÍRUS (Covid-19) – que se acredita ter origem da vida selvagem e já matou mais de 21.000 pessoas em todo o mundo. Na China, onde a origem do vírus foi na cidade de Wuhan, até alguns dias era um dos países mais próximos do Brasil, principalmente quando o assunto é economia. Empresários chineses se deslocavam diariamente de seu país ao Rio e São Paulo, visando um contato mais próximo com outros capitalistas brasileiros, sempre negociando os mais variados produtos. Isto é inevitável. Estados brasileiros como é o caso do Acre, que faz fronteira com outros países, entravam pessoas quase diariamente, e que, na maioria das vezes, entram de forma ilegal. Este é o mundo moderno, o mundo dos contatos virtuais e menos físico, sempre influenciado pela velocidade da tecnologia nos sistemas de transportes. Ora, se as máquinas trabalham para melhorar a rapidez dos transportes no mundo, mais rápido se deslocam pessoas, levando prosperidade ou doenças e a contaminação se torna mais veloz e ampla, isto é indiscutível. Hoje, se depararmos nos aeroportos da China, Japão, Itália, França e da cidade de New York, uma multidão de pessoas, de culturas diversificadas, oriundas de várias partes do planeta, se movimentando para os mais diversos continentes. O Mundo está cada vez mais interconectado.
Com a paralização de alguns órgãos públicos e de outros setores da economia, segundo alguns especialistas, causará um abalo no sistema financeiro que não terá como recuperar. A queda das Bolsas de Valores no mundo inteiro, está associada ao pânico nos mercados financeiros e pela paralização de nossa economia. São Paulo, a maior metrópole brasileira e a que mais produz, tomou medidas que para alguns, foram exageradas. Porém eficazes, quando compreendermos o quanto uma multidão de pessoas amontoadas, num só lugar, contribuirá para a proliferação do vírus e a morte de milhares de pessoas. Portanto, o governo paulista está agindo de forma correta. Afinal de contas é melhor ter saúde do que ter dinheiro, principalmente quando se trata de uma doença que até então, o dinheiro não compra o remédio, porque remédio para ela não existe! A cura é o isolamento.
Olhando bem, parece que nosso direito de ir e vir, escrito no INCISO XV de nossa constituição cidadã de 1988, deve ser discutido novamente: “É livre a locomoção no território nacional em tempos de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. Mesmo sabendo que existem limites para a liberdade de locomoção em tempos democráticos, considerando o direito garantido que os governantes tem de declarar o “Estado de Sítio” ou de Calamidade Pública, devemos lembrar que em épocas de Ditaduras, a liberdade de locomoção sofreu limitações graças ao Ato Institucional de Número Cinco (AI-5) que estabelecia horários específicos para os cidadãos se locomoverem nas ruas. Esta lei, promulgada pelo então Presidente Artur Costa e Silva, em dezembro de 68, ficou conhecida como “Toque de Recolher”. Estas limitações de permanência de cidadãos em espaços públicos, também proibiam reuniões políticas não autorizadas pelo Estado. Logo, certificamos que o “Ato” tinha um caráter político de controle. Que não é o nosso caso.
Assim, em tempos de Covid-19, o direito de ir e vir só deve ter valor em tempo de paz. Como enfrentamos um ataque viral, estamos numa guerra e o Estado, em dias atuais, defende o isolamento. O distanciamento entre nós agora é uma questão de saúde pública internacional e ao mesmo tempo nos obriga a negar nossa própria cultura abandonando a velha tradição de dar um abraço no amigo, mãe, pai, filho e irmão. Comportamento este que o povo acreano nunca imaginava que aconteceria, mas que na atualidade, deve ser seguido na risca, porque é uma questão de vida ou morte. Neste momento de isolamento, buscaremos tempo para repensar nossos atos e tentar entender onde erramos, e porque nós os humanos, ao longo dos séculos, dentro deste mundo de tantas descobertas e conquistas não conseguimos encontrar se quer um simples remédio para curar uma pandemia mesmo sabendo que ela é “A Super- Gripe” que já dizimou uma boa parte da população mundial sobretudo na Europa.
Um alerta das autoridades mundiais, são as pessoas mais vulneráveis ao vírus que não são somente os idosos, mas as pessoas de baixa renda que não tem uma alimentação saudável e nem plano de saúde que possa lhe servir como mão amiga a exemplo dos moradores de ruas. As moradias, na maioria delas insalubres, como é o caso das favelas nos grandes centros brasileiros e no Norte, conhecidas como regiões periféricas, são as mais propícias a proliferação do vírus devido a falta de água e de um saneamento básico responsável. Em nosso país, a ausência de uma política pública de saúde eficaz nos causa temor de uma possível mortandade em massa destas populações mais vulneráveis. Isto nos causa uma sensação de impotência mesmo sabendo que vivemos em um país tão rico, mas ao mesmo tempo muito desigual. E nosso Acre, se enquadra dentro destes Estados inclusos na região periférica de nosso país.
Como medida de urgência, o governo do Acre decretou Estado de Calamidade Pública ao confirmar dezenas de pessoas infectadas com o CORONAVÍRUS, colocando em alerta juntamente com Alysson Bestene todo o sistema público de saúde e reforçando suas unidades, visando agir de forma eficaz no combate a proliferação desta tão terrível doença, como é o caso da vacinação de idosos, aquisição de leitos e implantação de barreiras sanitárias nos aeroportos. Com objetivo de proteger nossas crianças, o governo suspendeu temporariamente as aulas presenciais e ao mesmo tempo já planeja com o Secretário Mauro Sergio Cruz dar seguimento ao ano letivo oferecendo aulas à distância.
Proibiu algumas atividades que geram grandes multidões, o fechamento de alguns estabelecimentos e coibiu a circulação de transportes coletivos interestadual de caráter público e privado. Tal atitude, mesmo sendo necessária, causa desespero social quando não se tem uma informação eficaz. Pessoas em pânico, alimentadas por notícias falsas, entram para comprarem em supermercados e lojas, achando que haverá escassez de alimentos.
São os chamados “humanos desumanos”. Ao mesmo tempo em que o pânico é proliferado através de seus algozes, Cameli, sofre pressão do governo federal que alega que a paralização do comércio e de alguns órgãos do Estado, afetará a economia local e nacional. Como resposta, Cameli mantém firmeza em suas decisões, dando para nós a certeza de que elegemos um governo que tem pulso forte e compromisso com a saúde do povo acreano. Ao mesmo tempo, mandando um recado que o vírus não é somente uma “gripezinha”, e que ela já matou milhares de pessoas no mundo e assegura que é necessário se prevenir. Quem agiu rápido, foram nossos vizinhos, Bolívia e Peru, fechando suas fronteiras, procurando evitar uma mortandade em massa de seus habitantes.
No entanto, diante deste breve artigo, alertamos a sociedade acreana o quanto é importante apoiar o governo que está posto. Eleito de forma democrática, Cameli precisa da união de todos numa corrente positiva, em prol da própria sobrevivência do povo acreano. Nem que para isto, possamos reconhecer que todos os nossos esforços, para se aproximar um do outro, através de nossas inúmeras descobertas agora é coisa do passado, mesmo sabendo que o contato virtual é a forma mais eficaz de se aproximarmos, recurso este, vindo das grandes descobertas. E que o distanciamento físico entre amigos na atualidade, não possa ser considerado “preconceito”. Haja visto que, enquanto o mundo sofre ao chorar diante de seus mortos, nós acreanos, sentimos a mesma tristeza, porque somos irmãos, oriundos do mesmo líquido amniótico! O isolamento, pode ser um dos remédios para amenizar uma tragédia local. E que ele possa nos proporcionar, num futuro breve, um encontro físico recheado de abraços e beijos nas pessoas que amamos. Mas enquanto isto não acontece, ficaremos no virtual.
Enilson Amorim é Historiador, possui especialização em Docência do Ensino Superior e é Membro da Academia Acreana de Letras- AAL, titular da cadeira de número 07