Ícone do site ContilNet Notícias

‘Se a gente sair andando todo mundo de uma vez, vai faltar pro rico, pro pobre’, diz ministro da Saúde

Por G1

O ministro da saúde, Henrique Mandetta, mudou neste sábado (28) o tom novamente de suas declarações sobre isolamento social. Na terça-feira (24), ele tinha ajustado o seu discurso ao do presidente Jair Bolsonaro, contrário a um isolamento mais geral e favorável ao isolamento apenas de idosos e pessoas de 60 anos e mais.

Brasil tem 114 mortes e 3.904 casos confirmados de coronavírus até este sábado (28)

Neste sábado, Mandetta foi mais enfático na defesa de que as pessoas que podem devem ficar em casa. Ele justificou sua defesa de que as pessoas devem permanecer em casa para que o sistema de saúde não se sobrecarregue, aumentando a letalidade da Covid 19 por falta de leitos e de UTI.

Ele disse que o fato de as pessoas estarem em casa já fez o número de internados por acidentes de trânsito diminuir, o que libera espaço para os que precisam se tratar da Covid:

” Mais uma razão pra gente diminuir bastante a atividade de circulação de pessoas no intuito de diminuir o trauma, que é um efeito também secundário, benefico, além do efeito de diminuir a transmissão”, ele disse.

O ministro afirmou: “Mais uma razão pra gente ficar em casa, parado, até que a gente consiga colocar os equipamentos na mão dos profissionais que precisam. Porque se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar pro rico, pro pobre, pro dono da empresa, pro dono do botequim, pro dono de todo mundo”.

Critérios técnicos

Mandetta disse que vai se pautar por critérios técnicos e pela ciência:

“Nós precisamos ter racionalidade e não nos mover por impulso neste momento. Nós vamos nos mover, como eu disse desde o princípio, vamos nos mover pela ciência e pela parte técnica, com planejamento. Pensando em todos os cenários quando a gente fala de colapso, de sobrecarga, ou de sobreuso no sistema, a gente tá falando disso. Não só de sobrecarga na saúde mas por exemplo na logística.”

Desafio inédito

O ministro da saúde enfatizou que o desafio do novo coronavírus é inédito no mundo. E que a doença ataca a saúde, a economia e a sociedade como um todo. E que por esse motivo exige toda a cautela:

“E aí eu volto a repetir: muitas vezes… Hoje está cheio de professor de epidemiologia, cheio de fazedores de conta, de cálculos. Preste atenção: essa epidemia é totalmente diferente da H1N1.”

“Não há receita de bolo. Quem raciocinar pensando: nesta aqui foi assim, vai errar feio. Essa não é assim. Essa causou não uma letalidade pro indivíduo, não é esse o nosso problema. Nem daqueles que falam assim: ah essa doença vai matar só 5 mil, só 10 mil. Não é essa a conta”, ele disse.

“A conta é: esse vírus ele ataca o sistema de saúde e ataca o sistema da sociedade como um todo. Ele ataca logística, ele ataca educação, ele ataca economia, ele ataca uma série de estruturas, no mundo.”

Setores essenciais

O ministro da saúde descartou nesse momento a discussão sobre quarentena vertical – só de idosos – ou horizontal, que pega todas as idades.

Ele disse que o que não pode haver é uma parada de todos, em todo o Brasil. Um discurso compatível com o que vem sendo praticado: fica em casa quem pode para que os trabalhadores de setores essenciais possam trabalhar, entre eles aquele que abastecem as cidades de alimentos e outros insumos:

“Não existe quarentena vertical, horizontal. Existe a necessidade de arbitrar em determinado tempo qual o grau de retenção que uma sociedadade deve fazer”, disse o ministro.

“O lockdown – parada absoluta ou total -, pode vir a ser necessário, em algum momento, em alguma cidade. O que não existe é um lockdown ao mesmo tempo, desarticulado. Isso é um desastre que vai causar muito problema pra nós da saúde”, ele afirmou.

Articulação

O ministro disse que, enquanto um acordo nacional não sai, os governadores devem seguir os parâmetros que adotaram até aqui:

“Agora não é hora de sobrecarregar o sistema de saúde seja em nome do que for. Agora é hora de aguardar, vamos ver como essa semana vai se comportar, e nós vamos ter nessa semana a discussão dentro da Saúde para achar os parâmetros, aqueles que tomaram medidas de acordo com a sua localidade sem o parâmetro, usou o parâmetro próprio, utiliza o seu parâmetro que nós vamos construir um consenso para nós podermos andar.”

Jovens em casa

Mandetta explicou também por que os jovens têm de ficar em casa, apesar de ter sintomas leves:

“Por que se suspendem aulas? Se todas as crianças e jovens, como vocês viram, se têm a doença e são assintomáticos e são sintomas leves, por que a gente os tira da aula? Muitas vezes é o que fala: ‘Deixa as crianças e adolescentes’. É porque eles são assintomáticos e não sabem, só transmitem. Como voltam para casa e casa tem comodo, temos déficit habitacional enorme, pode contaminar cinco, seis pessoas. Quando a gente diminui a mobilidade, cada um positivo contamina dois. Quando deixa todo mundo andando, cada um contamina seis, e isso faz progressão geométrica, faz essa curva super rápida.”

E, pouco antes do fim da entrevistas, o ministro elogiou a preocupação do presidente Bolsonaro:

“Espero que tenhamos tranquilizado todos vocês, Vamos trabalhar, essa semana a gente encerra, começa amanhã domingo com trabalho no Ministério da Saúde e vamos ver se conseguimos fazer um plano mínimo que compatibilize saúde e economia. Esse é nosso trabalho de fim de semana junto com a equipe econômica. Como ir, como voltar, o que funciona, o que é essencial, o que pode rodar a economia. O presidente está certíssimo quando fala que a crise econômica vai matar as pessoas. As pessoas não aguentarão a fome. Está certíssimo. E estamos 100% engajados em achar a solução junto com a equipe da economia, mostrar a fórmula para o Ministério da Economia. Vamos aumentar, vamos melhorar. Precisa de um grande pacto para que possamos sair do outro lado”, disse Mandetta.

Sair da versão mobile