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A criação de um herói: entenda como e por que surgiu o feriado de Tiradentes

Por LEANDRO CHAVES, DO CONTILNET

Título: RETRATO DE JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER - TIRADENTES Autor: SILVA, OSCAR PEREIRA DA Data: 1922 Técnica: ÓLEO SOBRE TELA Dimensões (a_cm, a_sm X l_cm, l_sm): 160-154-75-71 Coleção:FUNDO MUSEU PAULISTA - FMP Foto: José Rosael-Hélio Nobre-Museu Paulista da USP Acervo: Museu Paulista da USPDomínio Público

Nesta terça-feira (21), a maioria dos brasileiros está de folga das suas obrigações trabalhistas em virtude do feriado de Tiradentes, a única personalidade nacional que possui data como essa em sua homenagem. Mas você sabe como surgiu o dia e por que, entre tantos outros brasileiros, foi justamente Tiradentes que ganhou a alcunha de maior herói do país?

O ano era 1889. A República do Brasil estava proclamada. Para esse novo momento, era essencial a construção de uma outra identidade nacional, com novos símbolos, como a bandeira da República, e novos exemplos do que é ser um cidadão brasileiro.

É nesse contexto que um dos fundadores do movimento republicano, Campos Sales, que mais tarde seria o quarto presidente do país, defendeu a ideia de tornar Tiradentes o novo patrono da independência, posto ocupado pelo monarca português no Brasil Dom Pedro I, morto 50 anos antes e representante do velho modelo político abolido pela República.

Tiradentes, assassinado pela coroa portuguesa no dia 21 de abril de 1792, quase um século antes da proclamação, era a figura perfeita para encarnar o papel de símbolo nacional do novo Brasil. Embora filho de portugueses, ele nasceu aqui, na então colônia, em uma fazenda localizada na capitania das Minas Gerais. Comungava, já naquela época, dos ideais republicanos e foi morto pela forma de governo que a República substituiu.

Por 98 anos a partir da sua morte, Joaquim José da Silva Xavier foi um exemplo de brasileiro a não ser seguido. Ele foi um dos líderes da chamada inconfidência mineira (ou conjuração mineira), em 1789. “Esse foi um movimento que envolveu indivíduos da elite de Minas Gerais, como proprietários rurais, intelectuais, clérigos e militares, que estavam descontentes com a dominação portuguesa na região”, explica o historiador e podcaster Felipe Figueiredo, em seu canal no YouTube Nerdologia História.

Parte dos líderes da conjuração defendia uma república independente em Minas Gerais. Quase 35 deles foram julgados e punidos pela corte portuguesa por traição (daí o nome inconfidentes). O único a perder a vida como pena foi Tiradentes. Ele foi enforcado, teve todas as partes de seu corpo desmembradas e exibidas em praça pública como exemplo.

Por ter dado sua vida em nome da liberdade, passou, após a proclamação da República, quase um século mais tarde, a ser reconhecido oficialmente como o mais importante dos brasileiros. Assim, nasceu o feriado como forma de celebrar a memória de Tiradentes. Campos Sales, o grande incentivador da heroificação do ex-dentista e o primeiro ministro da Justiça do país, admirava a história do mineiro e possuía um retrato dele.

Até a imagem de Joaquim José foi moldada nas pinturas a fim de torná-lo um mártir e provocar maior comoção com sua história. O homem barbudo e de longos cabelos lisos, semelhante à imagem de Jesus Cristo, não corresponde à realidade. Tiradentes foi um militar e muito provavelmente não usava madeixas e barbas grandes.

“No máximo poderia ter um bigode”, afirma Fiqueiredo. “E quando foi preso, tinha os cabelos e barbas rapados para evitar piolhos. Isso quer dizer que Tiradentes é uma invenção e que mentiram pra você? Não. Ele existiu e é uma das figuras mais analisadas da história brasileira O que é criado como parte do estabelecimento de um estado nacional e de uma nacionalidade é a imagem de Tiradentes como herói. Para a coroa, ele era um criminoso”.

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