Após alguns dias de internação e experiência de “quase morte” no leito de uma Unidade de Terapia Intesiva (UTI), a advogada acreana Isabela Fernandes, de 36 anos, diagnosticada com coronavírus há algumas semanas, falou à reportagem do ContilNet sobre um dos momentos mais difíceis de sua vida.
“Eu nunca imaginei na minha vida que seria infectada, pois não estava no grupo de risco. Aconteceu. De repente eu estava no leito de um hospital, entubada, falando para minha irmã como eu gostaria que fosse o meu funeral – pois sentia que estava morrendo – e, após isso, no leito de uma UTI, sendo tratada de uma doença que estava atormentando o mundo inteiro”, comentou.
Tudo começou no dia 8 de março, quando Isabela chegou de Fortaleza, de um evento que reuniu inúmeras advogadas de todos os estados do Brasil. Sem saber que estava infectada, a especialista participou de uma entrega de carteiras para novos advogados na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Acre (OAB) – o que fez com que a profissional recebesse algumas críticas nas redes sociais.
“Imagina só. Eu fui a única infectada de um grupo de mais de 20 advogadas. Não imaginei nunca. Fui para o evento sem saber que estava com o vírus. Após o diagnóstico eu fui bombardeada nas redes sociais, quando disseram que eu trouxe o vírus para o Acre. Fiquei extremamente mal com tudo isso. Apaguei todas as minhas contas nas redes sociais para me livrar de todos esses comentários”, explicou.
Início dos sintomas
Isabela contou que quatro dias após sua chegada começou a sentir uma forte enxaqueca. “Como eu já sentia enxaqueca, achava que aquilo era normal”, pontuou.
“No dia seguinte, numa sexta-feira, comecei a ter tosse. Fui pra Unimed, fizeram nebulização, mas não fizeram exame. Aplicaram dipirona e me mandaram pra casa”, continuou.
Mesmo indo pra casa medicada, o quadro piorou, de acordo com a advogada:
“Eu fui pra casa, mas piorou depois que cheguei. De sábado pra domingo, começou uma febre alta e voltei para a Unimed. Neste dia eles fizeram um exame de sangue e uma tomografia. O exame deu uma alteração. Na mesma hora me colocaram em isolamento. Pediram pra que eu fizesse o exame específico de covid-19. Depois que coletaram, me mandaram para casa, onde eu também fiquei isolada, esperando o resultado. Minha irmã ia deixar as coisas que eu precisava na porta e voltava”.
“Até aí eu sentia apenas sintomas de gripe. Normal. Com quatro dias de isolamento em casa, passei a me sentir muito mal e piorei muito, com febre de 40 graus que não baixava com nenhum medicamento. Era o dia do meu aniversário”.
“Liguei para minha irmã e disse que eu estava indo para a Unimed. Como não podia chamar ninguém ou pedir para me levarem, já que corria o risco de contaminar qualquer pessoa, peguei o meu carro e fui sozinha, mesmo com febre. Chegando lá, tiraram outro exame e outra tomografia. Com o resultado, me colocaram outra vez em isolamento e de lá não saí mais”.
Agravamento do caso – intubação e “quase morte”
“Fiquei dois dias acordada lá, com medicamento padrão e monitoramento. No segundo dia, tive uma piora muito grande e fui intubada, no domingo de manhã. Minha irmã foi lá falar comigo, com os médicos, e foi o momento que eu achei que não ia sobreviver. Falei tudo pra ela, como queria que fosse o meu funeral, dei senhas de cartões e tudo mais, pedi pra cuidar dos meus pais. Enfim…”.
“Na segunda-feira, 10h, tive uma parada cardíaca de 10 minutos e minha pressão arterial estava quatro por dois. Fiquei desacordada. Tentaram me reanimar, mas não conseguiram. A medicação e a massagem cardíaca não faziam efeito. Eu estava sobrevivendo apenas por aparelhos. Meus pais foram chamados pelos médicos com urgência e lá eles foram informados que todos os recursos haviam se esgotado. Tudo que poderia ser feito foi feito”.
O inesperado aconteceu…
“Depois de 20 minutos que meus pais foram avisados, eu comecei a me recuperar, a dar uma reanimada. Começou a correria para me levarem para a UTI, pois a Unimed não dava mais conta do caso com intubação. O Hospital Santa Juliana não quis me receber. Minha irmã que é intensivista fez de tudo para me levar para o Pronto-Socorro, pois lá era melhor. Depois de 7 dias na Unimed, finalmente fui levada para a UTI Covid, no PS. Fui a primeira paciente de lá”.
Saída da UTI
“Fiquei na UTI intubada por mais dois dias. Depois me tiraram os tubos. Fiquei mais 4 dias em recuperação, fazendo fisioterapia e outros procedimentos. No dia 2 tive alta da UTI e desci para a enfermaria, para a etapa final da internação e receber alta – quando fiz os exames para saber o resultado”.
Alta médica: “Fiquei curada”
“No sábado, dia 4, tive alta, sabendo que estava curada, sem o vírus. Na hora que recebi a notícia de que eu estava curada e que voltaria para casa naquele mesmo dia, fiquei em êxtase, com uma felicidade que não cabia no meu peito”.
Voltando pra casa sem coronavírus
“Finalmente eu estava ali com as pessoas que tanto amo, curada, em casa, sendo cuidada. Isso foi o maior presente”.
“Não tenho mais nenhum dos sintomas, mas ainda sinto dores musculares, por conta dos procedimentos utilizados durante a reanimação, que são inevitáveis. Ainda tenho dificuldade para ficar de pé, por conta do tempo longo que fiquei deitada. Dores que não têm a ver com coronavírus, graças a Deus, e que vão passar”.
Isabela não era asmática
“Eu nunca fui asmática, como disseram anteriormente. Entrei no grupo de risco e fui infectada porque tomei antidepressivo por alguns anos, suspendi, emagreci 18 kg depois de uma longa dieta e fiquei imunodeprimida, como dizem os especialistas. Meu sistema imunológico estava muito fraco e, por isso, fiquei aberta para os vírus, pois meu corpo não tinha como combater. Eu estava fraca e não sabia”.
“Nunca tive nenhuma doença respiratória. A perda de peso abrupta associada ao longo período tomando antidepressivo, que diminui a imunidade, me deixou com a imunidade baixa”.
“Não saia de casa”
“Escutem os especialistas. Não saiam de casa. Eu nunca imaginei que poderia ser infectada e que iria parar em uma UTI, mas foi o que aconteceu exatamente comigo. Na saída do hospital para casa fiquei assustada com a quantidade de pessoas nas ruas, sem noção da gravidade que existe nisso. Temos que tomar os cuidados que nos são repassados pelos especialistas. Não é fácil enfrentar na pele esse vírus”.
Isolamento social de Isabela.
“Os médicos me pediram de 10 a 15 dias de isolamento mais severo, pois ainda estou com minha imunidade baixa, mesmo curada do coronavírus, e preciso cuidar de mim nesse momento. Estou tendo acompanhamento profissional nestes primeiros dias para que tudo ocorra dentro do esperado”, finalizou.