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Conscientização do autismo: psicóloga, mãe fala sobre cuidado em período de quarentena

Por EVERTON DAMASCENO, DO CONTILNET

Comemora-se nesta quinta-feira, 2 de abril, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é um transtorno caracterizado por déficit na comunicação social (socialização e comunicação verbal e não verbal) e comportamento (interesse restrito e movimentos repetitivos).

Temos no Brasil mais de 2 milhões de diagnósticos do transtorno que é frequentemente visto e debatido pela ciência como “uma forma diferente de enxergar o mundo, as coisas e as pessoas”.

Um desses casos é o do garotinho acreano Eduardo Jorge, de apenas 5 anos, que teve o Transtorno do Espectro Autista (TEA), como também é chamado na literatura, diagnosticado próximo aos 3 anos de idade, quando sua mãe, a psicóloga Bárbara Maia Lima, já vinha percebendo alguns comportamentos atípicos há algum tempo.

Eduardo tem apenas 5 anos/Foto: Reprodução

Como tudo começou…

“O Eduardo nasceu prematuro, passou alguns meses na UTI, mas pelo menos até 1 ano e pouco de idade, teve um desenvolvimento normal para a idade, mas lembro que alguns comportamentos atípicos foram surgindo, identificados no primeiro momento pela minha mãe, que falava que ele não apontava para o que queria, além de outros traços”, explicou.

Sua dúvida começou a tomar forma quando na entrega de sua carteira profissional, logo após o termino de sua graduação, a neuropsicóloga que lhe fez a entrega foi questionada sobre o que seria a causa daqueles comportamentos vistos de forma diferente no filho.

“O amor, a ciência e o cuidado podem nos ajudar a vencer”/Foto: Reprodução

“Lembro que ela me disse que eu precisava aguardar o que chamamos de ‘idade escolar’, aproximadamente 3 anos, para chegar a um diagnóstico certo, mas que aquilo podia se tratar de um autismo”, contou. “Imagina só o que passava pela minha cabeça naquele momento […]. Eu comecei a abraçar naquele momento uma nova realidade, que foi difícil no início”, continuou.

A mesma neuropsicóloga que conversou com Bárbara foi quem anos depois chegou ao diagnóstico com base em alguns testes clínicos e exames físicos (que descartaram outros transtornos ou possíveis complicações físicas). Eduardo foi identificado com autismo severo – que para a ciência é um quadro do transtorno em que são necessários cuidados por toda a vida. Neste, os pacientes costumam ter outras condições, como deficiência intelectual, transtornos de linguagem, epilepsia ou síndromes genéticas.

“Desde então, tudo mudou completamente. Pausei minha vida profissional para cuidar dele, pois é uma criança precisa fazer as terapias indicadas no mínimo três vezes por semana, incluindo Terapia Ocupacional, sessão com fonoaudiólogo e método Denver”, explicou.

“Um dia de cada vez”

A rotina adotada por Bárbara é importante para que o filho tenha avanços significativos no seu desenvolvimento intelectual, emocional e psicológico, mas ela relata que é preciso ter paciência para guiar tudo isso de uma forma que garanta bem-estar à criança e saúde para sua vida.

“Não é todo dia que temos paciência, mas é uma busca diária. Um dia de cada vez. Quando quer uma coisa, geralmente, se irrita, belisca ou esperneia, e isso demanda todo um ajustamento da nossa parte. Estimulamos nele o comportamento de pedir, apontar e mostrar de alguma forma o que quer”, disse à nossa reportagem.

Com os recursos que lançou mão desde o início do diagnóstico – o que os especialistas consideram indispensável para um desenvolvimento saudável dos autistas -, a psicóloga disse que o garotinho já consegue fazer alguns laços de amizade na escola, compartilhar brinquedos e etc.

“Mesmo com todas as dificuldades que encontro no dia-a-dia, vejo os avanços que ele teve, ainda assim. Com um trabalho profissional que é indispensável é possível seguir com a vida e ter aprendizados e conquistas”, defendeu.

Mesmo sendo o papel de mãe o predominante neste cuidado, Bárbara reconhece que os estudos e experiências em psicologia auxiliaram muito a sua forma de lidar com o caso do filho.

“Saber que não é o fim do mundo, mas uma forma diferente de existir e enxergar as coisas me traz mais forças par“a garantir a ele o meu cuidado. Como mãe, tenho todas as preocupações e correrias que qualquer outra teria, mas como psicóloga tenho consciência do que é autismo e do que posso fazer por mim para oferecer a ele o que tenho de melhor. A terapia que faço, para lidar com as minhas questões, é um exemplo disso. O cuidador precisar ter saúde mental”.

“Não é o fim do mundo, mas uma forma diferente de existir e enxergar as coisas”/Foto: Reprodução

Quarentena e autismo

Devido o isolamento social, por conta de uma pandemia do coronavírus em todo o mundo, Bárbara explicou que os comportamentos repetitivos, conhecidos como “estereotipias” nos critérios nosológicos, ficam mais intensos.

“A frustração, a irritabilidade e a agressão aumentam, por conta do isolamento, mas é preciso ter mais paciência ainda”, concluiu.

Mensagem final

Ao final da entrevista, Bárbara deixou uma mensagem às mães e cuidadores de crianças com autismo.

“Não sabemos às vezes se temos um autista próximo de nós e, por isso, precisamos tomar cuidado ao julgar alguns comportamentos ou pessoas. Os estereótipos precisam tomar outra forma, no sentido de entender que eles são assim, e que podem ter essa forma diferente de existir abraçada, acolhida, respeitada, sobretudo. Não é fácil, mas é possível. O amor, a ciência e o cuidado podem nos ajudar a vencer”, concluiu.

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