25 de abril de 2024

Empresas correm contra o relógio por vacina contra a Covid-19 e apostam em calendário recorde

Na medida em que a pandemia da Covid-19 avança, cresce o número de empresas na corrida em busca de uma vacinacontra a doença. Pesquisadores somam esforços através de planejamentos tocados em ritmo recorde. Em circunstâncias normais, o desenvolvimento de uma imunização demoraria em torno de 10 anos. No entanto, a indústria farmacêutica corre contra o relógio com a ajuda de organizações sem fins lucrativos, governos e agências regulatórias. Nesta semana, testes clínicos de algumas companhias se tornaram realidade.

Nos últimos meses, mais de duas dezenas de empresas anunciaram programas promissores de vacina, acelerando a testagem preliminar de uma maneira nunca antes vista. Na última quarta-feira, a Novavax, uma companhia de biotecnologia sediada no estado americano de Maryland, anunciou que sua candidata a vacina estimulou uma “poderosa resposta imunológica” em experimentos de laboratório e em animais. Como resultado, foram produzidos anticorpos que podem ajudar a combater o Sars-CoV-2.

Os testes da vacina, chamada de NVX-CoV2373, em humanos devem começar em meados de maio na Austrália. O produto final, no entanto, deve demorar pelo menos um ano para chegar às prateleiras. Mas a iniciativa da Novavax é apenas uma entre as várias já encaminhadas para a testagem em organismos humanos.

Outra vacina, produzida pela empresa Moderna, teve seus testes clínicos iniciados no último dia 15. Uma terceira imunização, desenvolvida pela Inovio Pharmaceuticals, foi injetada nos primeiros voluntários adultos na última segunda-feira.

A gigante Johnson & Johnson, por sua vez, espera iniciar o estágio clínico em setembro e já recebeu em torno de US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) através do fomento do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, equivalente ao Ministério da Saúde brasileiro.

Vacinas experimentais também estão sendo desenvolvidas por pesquisadores na Universidade de Pittsburgh e na Baylor College of Medicine (ambas nos EUA). Os dois estudos aguardam aprovação da Food and Drug Administration, agência reguladora americana, para iniciar testes em humanos.

— Nós todos estamos tentando fazer algo que praticamente não tem precedentes: acelerar uma vacina no meio de uma pandemia — afirma Peter Hotez, co-diretor do Centro Hospitalar para o Desenvolvimento de Vacinas do hospital infantil da Baylor.

Até o momento não há tratamento ou vacina com eficácia comprovada para a Covid-19. A imunização seria a melhor forma para frear a disseminação do coronavírus, uma vez que fortaleceria o sistema imunológico da população mundial. Há, no entanto, dificuldades: muitas empresas estão encontrando obstáculos na busca por parcerias que viabilizem a produção em larga escala.

— Se houvesse uma vacina, poderíamos sair pela porta de nossas casas confiantes de que não contrairíamos a doença — pontua Gregory Glenn, presidente do setor de pesquisa e desenvolvimento da Novavax. — Por conta disso, todos estão bem motivados e trabalhando para agilizar a imunização.

A equipe da companhia está familiarizada com os esforços envolvendo a criação de uma vacina. A Novavax trabalhou em imunizações experimentais para a Síndrome Aguda Respiratória Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Ensino Médio (Mers), causadas por outras cepas da família coronavírus. A empresa também tem no seu espólio vacinas contra gripes e vírus respiratórios nas últimas etapas dos testes clínicos.

Riscos e apostas altas

O trabalho começou logo depois que cientistas da China compartilharam o sequenciamento genético do Sars-CoV-2, em janeiro. Os pesquisadores da Novavax usaram um baculovírus, muito usado na terapia gênica e que afeta principalmente insetos, sem se replicar em humanos, para carregar pedaços do material genético do novo coronavírus para dentro das células.

— Nós nunca usamos o vírus de verdade. Mas podemos enganar o sistema imunológico para que ele acredite que está sendo atacado —explica Glenn.

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No processo de estímulo imunológico, a Novavax conseguiu atingir um alto índice de anticorpos capazes de bloquear o vírus em testes pré-clínicos. A farmacêutica espera encontrar efeitos similares nos testes em humanos, que envolverão 130 indivíduos adultos e saudáveis  — cada um receberá duas doses.

Já Moderna e Inovio estão adotando uma abordagem pioneira. A primeira optou pela tecnologia RNA, enquanto a segunda escolheu a de DNA, ambas com o objetivo de identificar o código genético das proteínas do coronavírus, que facilitam sua entrada nas células. A técnica, no entanto, ainda não foi aprovada e nunca foi utilizada em vacinas até o momento.

Por isso, equipes da Baylor College of Medicine e da Johnson & Johnson apostam em testes semelhantes aos da Novavax, em especial porque essa linha de estudos foi bem sucedida na criação de outras vacinas no passado, inclusive uma fórmula contra o ebola que foi registrada na Europa e utilizada na recente epidemia da doença na República Democrática do Congo.

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— Não é uma opção muito chamativa, mas é uma abordagem confiável. Já sabemos como isso funciona — justifica Hotez.

Paralelamente, empresas planejam manter a testagem em animais e investir na capacidade de produção dentro e fora dos Estados Unidos. Serão necessárias milhões de novas doses para os futuros testes clínicos e uma quantidade muito maior caso uma fórmula eventualmente chegue ao mercado.

Entre os cenários de risco para as companhias estão o de fracasso de alguns produtos e a possível queda da demanda de uma determinada vacina se alguma outra se viabilizar para a distribuição ampla antecipadamente. Quem está na linha de frente dos trabalhos, no entanto, garante que estão voltados para a obtenção de resultados.

—O vírus está se dirigindo às áreas urbanas mais densamente populosas, além de favelas no caso de alguns países. Como garantir o isolamento social nessas áreas? É impossível — disse Hotez. — Estamos desenhando um mapa de como os EUA funcionarão como um país nos próximos dois ou três anos. É praticamente o período de tempo da pandemia de gripe espanhola em 1918 e, provavelmente, será o da Covid-19.

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