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Marina defende isolamento e lembra de epidemia que matou suas irmãs no Acre

Por EVERTON DAMASCENO, DO CONTILNET

Ex-senadora Marina Silva. Foto: RODRIGO ZIEBELL/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

A ex-ministra e ex-senadora Marina Silva lembrou nesta segunda-feira (6) de uma epidemia de sarampo e malária que matou parte de seus familiares no Acre e criticou governadores que “investem no caos” ao não obedecer a orientação de isolamento social por conta da pandemia do coronavírus.

“Minha família morava no seringal Bagaço, no Acre, quando a região foi afetada pelas obras de alargamento da BR-364. À derrubada da mata seguiu-se uma epidemia violenta de sarampo e malária. Adoeceu ou morreu gente em quase todas as casas, em centenas de famílias”, disse.

“Perdi um primo e meu tio Pedro Mendes, uma das pessoas mais importantes da minha infância. Morreram minha irmã de quase dois anos e, logo depois, outra irmã, com apenas seis meses de nascida. Seis meses depois, morreu minha mãe de aneurisma. Vizinhos, amigos, todos os que conhecíamos passavam pelos mesmos sofrimentos”, continuou.

Marina comentou que os interesses políticos que se contrapõem ao de salvar vidas, são lamentáveis.

“É inadmissível tomar decisões com o interesse ou o cálculo político-econômico acima da ética do cuidado e do serviço”, salientou.

Silva falou da dor que sente até hoje ao lembrar das perdas:

“Tudo era assustador. Uma dor enorme, extrema, que nunca passou. Tivemos que reconstruir todo o sentido da vida, aceitar o inaceitável e carregá-lo conosco para sempre. Ir em frente, enfrentar o duro cotidiano, sepultar os mortos, cuidar dos sobreviventes, compartilhar a dor dos outros. Por fim, viver —e dar muito valor à vida e a todas as pessoas.

Todas as cenas estão vivas em minha memória e hoje, mais uma vez, pesam em meu coração e me fazem entender o sentimento das pessoas que estão perdendo seus entes queridos na pandemia do novo coronavírus.

Percebo o significado de perdas tão súbitas em milhares de famílias que não podem sequer enterrar seus mortos ou dar um último adeus que ajude a aceitar a morte e a elaborar o luto […]

Hoje conheço a história e, após muitos anos, consigo elaborar a dor que vivi e integrá-la na vida social. Aprendi no ensinamento bíblico que devo olhar de tudo e reter o bem (1 Tessalonicenses 5: 21). O conhecimento reforça minha fé e me livra do fanatismo em mitos produzidos pela desinformação e ídolos da mentira.

E é por isso que digo a você: fique em casa, ajude a quem precisar, peça ajuda a quem puder, faça tudo dentro das normas que diminuem a rapidez da pandemia. Salve a vida”.

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