Ícone do site ContilNet Notícias

Na quarentena, trabalhadores do sexo adotam home office

Por TERRA

Na experiência de Mileena, os novos espectadores não oferecem gorjetas tão generosas quanto antes. Cada plataforma ganha dinheiro cobrando uma porcentagem sobre as gorjetas. “Estou encontrando pessoas novas com mais frequência e em maior número, mas o dinheiro não mudou muito”, afirmou.

A vida de uma modelo de webcam
Antes da pandemia do novo coronavírus, algumas modelos também se envolviam em outros tipos de trabalho sexual, como espetáculos de strip-tease, pornografia e serviços de acompanhantes. Outras trabalhavam em bares à noite, recorrendo à webcam quando tinham tempo; algumas trabalhavam em escritórios.

Agora, muitas têm uma só ocupação. E para as modelos que passam o tempo todo na câmera, o trabalho pode ser exaustivo. Mileena transmite por 12 horas diárias, quase todos os dias do ano, disse ela, tirando apenas dois dias de folga no ano passado. Ainda que a agenda seja fisicamente exaustiva, ela disse que o trabalho vale a pena. “É algo que faz parte da vida de empreendedora”, justificou. “Tento trabalhar o máximo que posso enquanto sou jovem, para não ter que fazer isso mais tarde.”

Para Mileena, que se considera uma “viciada na cam”, foi necessário trabalhar de acordo com seus próprios termos para se apaixonar pelo trabalho. Durante as transmissões mais longas, a prioridade dela é o conforto, vestindo pijama e comendo um lanche entre as danças eróticas.

O lado econômico das apresentações via webcam
No geral, o sexo online parece ter alcançado a estratosfera. A plataforma OnlyFans, site no qual o público assinante pode ver um tipo de imagens e vídeos que não podem ser exibidos no Instagram, relatou um aumento de 75% nas novas inscrições — foram 3,7 milhões de novas inscrições no mês passado, com 60.000 delas correspondendo a novas criadoras de conteúdo.

Mas os negócios que funcionam por assinatura são bem diferentes da receita obtida com as gorjetas. Em sites como o CamSoda, as gorjetas são habitualmente associadas a “recompensas” para os espectadores. Por exemplo, se alguém oferece uma gorjeta de um determinado número de fichas — as plataformas costumam criar as próprias moedas e, nesse caso, cada ficha vale US$ 0,05 — a modelo pode tirar uma peça de roupa ou fazer uma demonstração mais explícita.

Muitas modelos de webcam dizem complementar a renda com plataformas de assinaturas como OnlyFans e Patreon, onde vendem fotos e vídeos. Bella French, que já foi modelo de webcam, criou o ManyVids para facilitar às modelos o uso de diferentes fontes de renda. Há, por exemplo, uma seção separada contendo uma loja, na qual as modelos podem vender peças de roupa que tenham usado. Remi Ferdinand, de 30 anos, que trabalha como stripper e modelo de webcam, disse que esse detalhe faz dessa plataforma a sua favorita.

A maioria das modelos de webcam mais famosas que falaram com a reportagem apresentou um quadro coerente: com o tempo, criaram elos estáveis com seus espectadores mais regulares, que é o que lhes garante o sustento nos momentos financeiros mais difíceis. Mas algumas, como o casal britânico Betsy, de 32 anos, e Raie, de 33 anos, que se apresentam no Chaturbate, disseram que mesmo com o grande número recente de novos espectadores, as gorjetas não melhoraram. “Acho que as pessoas não estão apenas estocando papel higiênico. Elas tentam gastar menos, pois ninguém sabe quando virá o próximo contracheque”, disse Raie.

O casal está junto há quase 10 anos. Casaram-se há seis anos, e se apresentam na webcam há três. Ainda que Raie também trabalhe como chef e maquiadora, essas duas ocupações foram suspensas como resultado da pandemia. O casal depende agora das apresentações na webcam, sua única fonte de renda. Ainda assim, sentem-se relativamente seguras, pois ocupam um nicho específico entre as modelos de webcam, sendo Betsy uma mulher transgênero e Raie, cisgênero.

Remi Ferdinand, que também trabalhava com sexo durante a recessão de 2008, sente-se estável e feliz ao trabalhar de casa. Ainda assim, teme pelo futuro. “Sempre que ocorre um problema econômico, aquilo que é considerado supérfluo é sempre o primeiro alvo de cortes”.

Sair da versão mobile