“Se não pagou a conta de água, corta a água. Se não pagou de novo, corta de novo”. Assim defende o novo presidente do Departamento de Água e Saneamento do Acre (Depasa), o engenheiro Sebastião Fonseca. Nomeado há menos de um mês pelo governador Gladson Cameli após a exoneração de Zenil Chaves, ele deu entrevista exclusiva ao ContilNet em seu gabinete, ocasião em que apoiou uma política mais dura em relação aos inadimplentes.
De acordo com o gestor, a autarquia acumula, só em atraso nas tarifas, um déficit de R$ 200 milhões. Se quitado, o valor seria aplicado na manutenção do sistema de distribuição de água e saneamento básico de todo o estado, além de outras despesas recorrentes, como energia elétrica e aquisição dos cinco produtos usados para o tratamento químico.
“Há uma deficiência administrativa muito grande plantada ao longo de todo esse tempo. A cobrança das tarifas está defasada e é feita sem muito zelo. Vamos ter de aplicar uma política mais séria”, defendeu Fonseca. Atualmente, a taxa mínima de água é de R$ 17,92.
Ele explica que, por ser necessidades básicas, o tratamento e a distribuição de água possuem uma contrapartida social que alivia para o lado do consumidor, que, por sua vez, precisa fazer sua parte. “Não pode aliviar a ponto da malandragem ser instalada, ou seja, acumular um custo enorme desses. Investe-se milhões e esse investimento não vai pra tarifa justamente por causa dessa contrapartida social. Se fosse, aí que o povo não pagava nunca”.
Fonseca acredita que deve haver uma mudança de mentalidade por parte da sociedade em relação a esse serviço. Ele comparou a cobrança do fornecimento de água tratada às tarifas de internet, telefonia e energia elétrica. “Se não pagar, não tem o serviço”.
O novo gestor informou ainda que há uma demanda reprimida de 8 mil usuários por algum tipo de revisão no sistema de água e esgoto ou ligação de novos pontos. Além disso, a perda de receita no Depasa estaria hoje na ordem dos 61% devido a uma série de problemas que poderiam ser evitados com uma gestão mais eficiente. “Isso é o diploma da incompetência”, disse, referindo-se aos seus antecessores, “sobretudo os dos governos passados”.
Estatal de qualidade
Tião Fonseca, como é chamado, quer implantar uma nova forma de trabalho no Depasa. Assim que assumiu, ele mudou praticamente todas as diretorias e disse ter criado um fluxo inexistente até então. A ideia é empregar um controle de qualidade, economizar gastos com energia elétrica e produtos químicos e aplicar uma política de equilíbrio financeiro viável.
Para isso, pretende percorrer todos os municípios para fazer levantamentos das deficiências de cada instalação da autarquia e criar um plano de melhorias. Sete já foram visitados. Neste final de semana, ele estará em Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Jordão e Santa Rosa, totalizando metade das cidades. Estas viagens seguem ainda cronogramas para a elaboração de um relatório das obras de água e esgoto feitas com financiamento do Banco Mundial.
“O governador Gladson Cameli é um parceiro e está entendendo que precisamos dar um novo ritmo para o Depasa. A gente está aí com equipe técnica boa, diretoria nova e coesa e com bons ideais para colocar em prática. Vamos atrás de recursos via ministérios e onde houver condição de encontrar financiamento nós vamos atrás. A ideia é transformar o Depasa em uma estatal de destaque e de prestação de serviços de adequada”.
Coronavírus
Assim que assumiu o cargo de diretor-presidente do Depasa, Tião Fonseca teve que lidar com um desafio novo pelo qual seus antecessores não passaram: a pandemia do novo coronavírus, que já contaminou quase 250 pessoas no Acre, matando 11 delas.
Em parceria com o Corpo de Bombeiros, a autarquia assumiu a responsabilidade de desinfetar diversos espaços públicos de Rio Branco, o epicentro da epidemia no estado. O objetivo é manter os locais livres do coronavírus, causador da covid-19.
O trabalho começou à meia noite do dia 28 de março com a aplicação de solução líquida de hipoclorito nas áreas externas do Terminal Urbano, Casa Civil, Palácio Rio Branco, Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac), Terminal Rodoviário, Hospital de Clínicas (HC), Hospital de Urgência e Emergência (Huerb) e Praça da Revolução.
A ação será constante e conta com a supervisão de um engenheiro químico, uma bióloga e uma técnica em química, que atestaram a eficiência e segurança da aplicação da solução à base de cloro, altamente eficaz no combate a todo tipo de germes e vírus.
“Nós estamos em guerra contra um vírus e o objetivo principal de todo o mundo hoje é impedir que ele se prolifere. Nós, do Depasa, integramos, ao lado dos profissionais da Saúde e da Segurança Pública, a linha de frente no combate a esse inimigo invisível”, disse.
Defesa
Tião Fonseca aproveitou a oportunidade para se defender das denúncias feitas por veículos de comunicação locais de que teria sabotado, nesta semana, o sistema de distribuição de água. Segundo as acusações, ele teria optado por pagar a empresa da esposa, com quem o Depasa teria dívidas, ao invés de quitar a compra de produtos químicos para o tratamento de água. A suposta ação teria provocado o desabastecimento em diversos bairros da capital.
De forma dura, o engenheiro negou todas as informações veiculadas. “Isso é notícia de página policial de quinta categoria. Se chama chantagem. É gente querendo vender dificuldade pra colher facilidade. Eu não devo a ninguém sobre esse assunto, que será respondido na justiça. Já acionei meus advogados e vou processar todos eles”.
Ele explicou que o problema, já solucionado nos últimos dias, se deu em decorrência de um acidente com a carreta que faria a entrega de um dos produtos utilizados para o tratamento.
“Eu sou movido a causas que tragam benefícios à população, não a fuxicos desse nível de facção. Essa é a resposta que a gente dá para os cães que ladram. O compromisso que o Depasa tem é com a causa da população, principalmente a mais pobre. A autarquia tem um papel muito maior nessa história toda. A saúde preventiva é feita aqui, no Depasa. Água tratada e coleta de esgoto significa menos crianças doentes e mais saúde pra quem está na periferia. O saneamento tem um papel social muito grande. Esse é o tamanho do Depasa”.