Ícone do site ContilNet Notícias

Teich pode alterar matriz de riscos da gestão Mandetta para propor novas regras de isolamento

Por O GLOBO

O ministro da Saúde, Nelson Teich, planeja alterações em matrizes desenhadas pela equipe da pasta para medir riscos e sugerir o tipo de distanciamento a ser adotado para enfrentar a Covid-19. Há cinco modelos nos mapas já formulados antes da chegada de Teich: distanciamento social seletivo básico, intermediário, avançado, ampliado e o “lockdown” –  que significa o bloqueio total.

Em todos eles, exceto no ampliado e no lockdown, que são modelos de distanciamento mais duros, a reavaliação prevista é mensal. Teich tende a diminuir esse prazo, para recomendar que os gestores locais revisem mais frequentemente as consequências da medida adotada, a fim de adotar novas providências, se for o caso.

O formato final das regras a serem apresentadas por Teich, no entanto, ainda não é conhecida pela maior parte da equipe técnica da pasta. Há incertezas sobre o quanto o ministro aproveitará das matrizes já criadas pela equipe do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.

Na modelagem já existente, o tipo de distanciamento sugerido dependerá da classificação do risco avaliado, que pode variar de “baixo” a “extremo”. Para ajudar os gestores locais a fazerem suas medições, há uma matriz no estilo de batalha naval, combinando dados de ameaça em uma escala vertical com indicadores de vulnerabilidade na horizontal. Ao cruzar as duas informações, é possível visualizar no quadrante da matriz o nível de risco indicado.

Um exemplo colocado em boletim da semana passada da pasta usou a incidência da Covid-19 a cada um milhão de habitantes como informação da escala vertical da matriz. Na horizontal, verificou-se a proporção de leitos de UTI ocupados por casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A hipótese foi abstrata, em forma de exercício, e não se referia a estado, município ou um bairro determinado.

É possível ver, no exemplo apresentado, que mesmo um local mapeado no quesito incidência de casos como “muito alto”, mas que tem uma ocupação de leitos de UTI na faixa “mínima”, será interpretado como de “risco baixo”. Para esse nível, é sugerido o  “distanciamento social seletivo básico”, o menos restritivo. Outros dados podem ser jogados na matriz, como equipamentos ou disponibilidade de recursos humanos.

Os parâmetros de intensidade, a serem colocados na escala, de cada item avaliado, podem ser definidos pelos gestores, uma vez que nem sempre haverá dados fixos, tendo em vista a mudança diária nas informações relacionadas à doença. “Se não houver resultados matemáticos de um modelo quantitativo ou comparação com um valor de orientação, o processo será baseado na opinião de especialistas da equipe”, afirma o documento do Ministério da Saúde.

Mais brando entre todas as ações sugeridas, o distanciamento social seletivo básico inclui para toda a população medidas como lavagem das mãos, uso de máscaras e limpeza de superfícies. Orienta também o isolamento domiciliar de sintomáticos e de quem tem contato com essas pessoas. Isso não se aplica, porém, aos integrantes de serviços essenciais que estiverem assintomáticos. Além disso, abrange distanciamento social para pessoas acima de 60 anos e para pessoas abaixo dessa idade se tiverem. Em ambos os casos, haverá avaliação mensal.

O quadro mais restrito, antes do “lockdown”, é o distanciamento social ampliado. Nele, há manutenção apenas de serviços essenciais com avaliação semanal. Qualquer evento de aglomeração fica proibido (shows, cultos, futebol, cinema, teatro, casa noturna etc), além de se indicar medidas de distanciamento social no ambiente de trabalho, como trabalho remoto e reuniões virtuais.

Teich quer finalizar o mais breve possível um conjunto de diretrizes para que os gestores locais tenham uma ferramenta objetiva como parâmetro na tomada de decisão. Embora a tendência do ministro seja absorver parte do trabalho já desenhado pela equipe de Mandetta, ele deve incluir mais dados nas análises a serem consideradas. A ideia é ter um modelo dentro de uma semana.

Uma modulação de medidas de distanciamento social estava em debate desde o mês passado entre o Ministério da Saúde e governos estaduais e municipais de Saúde. As pressões aumentaram após o presidente Jair Bolsonaro se contrapor publicamente às orientações da pasta. A divergência sobre o tema entre ele, que defende volta às atividades econômicas, e Mandetta, que pregava o distanciamento, levou à demissão do ex-ministro.

No dia 6 de abril,  já sob essa pressão de Bolsonaro, a pasta deu uma diretriz genérica. Estados e municípios com regras de distanciamento mais amplo poderiam migrar para o distanciamento menos rígido, desde que o número de casos confirmados não tivesse impactado em mais de 50% a capacidade instalada de saúde existente antes da pandemia, dizia boletim da pasta.

A regra foi considerada uma resposta inócua do ministério e de Mandetta, que à época tentava se manter no cargo, pela simplicidade. Ao mesmo tempo, os representantes do ministério passaram a dizer que cidades sem casos de Covid-19 não tinham necessidade de fazer restrições amplas, mas sempre com discurso de que, por outro lado, o distanciamento era necessário de forma geral. Cerca de dez dias depois, a pasta apresentou uma matriz mais detalhada, que agora poderá servir de base para os próximos passos de Teich.

Sair da versão mobile