25 de abril de 2024

A crise econômica na visão de um portador de doença crônica no Acre

Uma crise econômica é um período de escassez do nível de produção, da comercialização e do consumo de produtos e serviços. A economia é cíclica, ou seja, combina etapas de expansão (ou crescimento) com fases de contração (ou estagnação). Essa sucessão de flutuações compõe os chamados ciclos econômicos. No caso das crises econômicas, o contexto é negativo, abrangendo cenários de recessão e depressão.

Características de uma Crise Econômica:

Algumas das possíveis características de uma crise econômica são:

Recessão – uma fase de retração geral na atividade econômica por um certo período de tempo, com queda no nível da produção (medida pelo produto interno bruto), e tem como consequência o aumento do desemprego, queda na renda familiar, redução da taxa de lucro, aumento do número de falências e concordatas, aumento da capacidade ociosa e queda do nível de investimento.

Recessão técnica – um crescimento econômico negativo por dois trimestres consecutivos, conforme definição de economistas.

Depressão – uma prolongada recessão, de três ou quatro anos. Se trata de uma crise mais profunda e duradoura.

Impactos da Crise Econômica:

Uma das consequências mais graves em uma crise econômica é o recuo do investimento em capital humano. Com as altas taxas de desemprego, as famílias possuem menos recursos e interesse para a formação de jovens. Somado a isso, ainda temos a busca contínua por oportunidades de trabalho sem sucesso.

Falências e recuperações judiciais

É fácil constatar esse aspecto da crise em um país. Basta verificar o aumento no número de pedidos de falência e recuperação judicial que tramitam nos tribunais de justiça estadual, bem como nas juntas comerciais estaduais. Algumas empresas simplesmente encerram suas operações, enquanto outras buscam se reestruturar para continuar suas atividades.

Aumento do desemprego

De acordo com os dados mais recentes do IBGE, o nível médio de desemprego no Brasil aumentou para 7,6% da população ativa, o que é preocupante. Para formulação dessa taxa, não são considerados idosos, crianças e aposentados por invalidez. E há também diferenças entre as regiões do Brasil, algumas com maiores, outras com menores níveis de desemprego.

Diminuição da renda

Diminuição da renda média não significa, necessariamente, redução salarial. Ela pode decorrer da diminuição do poder de compra, causada pela inflação, ou pelo desemprego.

Diminuição nos níveis de produtividade

As empresas passam a produzir menos e a reduzir sua oferta de serviços. Há uma queda nos níveis de venda do comércio, da indústria e de outros setores da economia.

Redução das taxas de lucro

O governo federal recolhe Imposto de Renda de grande parte das pessoas jurídicas no país. Uma das formas de tributação é por meio do lucro real obtido por essas empresas. Quando há diminuição desse recolhimento de tributos, esse é um sinal de crise, pois representa queda no lucro real das empresas.

Redução dos níveis de investimento

Outro termômetro da crise é o nível de investimentos no país. Quando bancos, instituições financeiras e empresas têm expectativas ruins de crescimento econômico e retorno de seus investimentos, acabam aplicando menos na atividade comercial e financeira. Isso contribui para a crise e agrava seus sintomas no país, pois são os investimentos que geram novos empregos e crescimento.

As razões para a crise no Brasil:

Vários fatores explicam a atual crise econômica que vivemos no Brasil:

Causas externas para explicar a crise

Primeiramente, é necessário entender que alguns fatores econômicos externos explicam parte da crise no Brasil. Como decorrência da crise econômica global de 2008, vários países têm enfrentado dificuldades para retomar o crescimento. Até mesmo a China, o mais importante parceiro comercial do Brasil, diminuiu seu ritmo de crescimento nos últimos anos. O mesmo ocorreu com os Estados Unidos e a Europa, que têm tido crescimento bastante lento. Com isso, também diminuíram as importações de produtos brasileiros que esses parceiros econômicos realizavam. Diminuiu-se a exportação de minério de ferro para a China, de automóveis para a Argentina, de carnes para a Europa, entre outras áreas importantes para nosso crescimento econômico.

Especulação financeira em setores específicos

Devido à constante onda de crescimento pela qual o Brasil passou entre 2002 e 2012, o nível de investimentos, interesse e especulação financeira no país aumentou muito. Seja no mercado livre de ações, como Bolsa de Valores de São Paulo, ou no setor imobiliário, formaram-se verdadeiras bolhas especulativas, que aumentaram artificialmente os preços de ações, imóveis, bens de consumo, salários, etc.

No entanto, nem sempre essas expectativas de rendimento são bem-sucedidas, principalmente se elas ocorrem de maneira artificial, como foi o caso do mercado imobiliário. Várias pessoas investiram na construção e compra de imóveis esperando lucros exorbitantes, mas a demanda do mercado não atendeu essas expectativas. Assim, o que houve é uma frustração de investimentos em diversos setores. Seus investimentos se desvalorizaram para níveis mais reais de preços, o que gerou prejuízo a muitos investidores.

Diminuição excessiva da taxa de juros no passado

O Banco Central, juntamente com o Ministério da Fazenda e do Desenvolvimento, é responsável pelo estabelecimento das taxas de juros do país. Essa taxa é a base de cálculo da remuneração de investimentos, contratos, títulos públicos e diversas outras atividades econômicas. Como forma de incentivar o crescimento econômico e a oferta de crédito no país, o governo havia estabelecido taxas muito baixas.

Essa é uma estratégia boa, mas que exige cuidado. Quando utilizada em excesso, como foi o caso do Brasil nos últimos quatro anos, ela pode gerar inflação e aumentar as taxas de inadimplência. Isso é ruim para a economia em longo prazo, já que um reajuste por meio de elevação de juros demora a fazer efeito e suas consequências são pesadas para a economia, como vemos atualmente. O aumento de juros para quase 14% no Brasil tem contribuído para a retração econômica, apesar de ter como objetivo a diminuição da inflação.

Gastos do governo

Sim, gastos governamentais também contribuem para a crise. Seja por meio da contratação excessiva de servidores públicos, do aumento de secretarias e ministérios, ou por meio da realização de obras e investimentos públicos, como a preparação para a Copa do Mundo de futebol e para os Jogos Olímpicos, esses gastos estimulam a economia, aumentam a dívida do Estado, contribuem para o aumento da inflação e prejudicam a gestão fiscal do governo.

Assim, a economia acaba ficando excessivamente dependente de investimentos do governo, o que não é bom. O setor privado deve depender pouco da concessão de créditos e estímulos financeiros para que a economia seja sólida e sustentável.

Modelo de crescimento falho adotado nos últimos anos

Crescer por meio do consumo foi uma das estratégias econômicas adotadas pelo governo nos últimos anos. Como várias famílias saíram da linha da pobreza no país (segundo o Banco Mundial, são 26 milhões de pessoas, entre 2003 e 2013), houve mais acesso ao consumo e ao crédito, o que provocou crescimento econômico. E o governo incentivou esse consumo por meio da redução de impostos (IPI e IOF, por exemplo) e da concessão de crédito.

No entanto, esse modelo de crescimento baseado no consumo é falho, já que em longo prazo essas famílias acabaram se endividando excessivamente. Elas não apenas passaram a consumir além de suas capacidades, como também contribuíram para o aumento da taxa de inadimplência no comércio. Com o aumento recente no desemprego, essas famílias não conseguem arcar com suas dívidas e geram um rombo econômico grande, principalmente em um cenário já recessivo, como é o atual.

Como você pode ver, a crise no Brasil tem diversas origens, algumas delas que até mesmo fogem do controle do governo ou dos setores empreendedores nacionais.

Solução para crise econômica:

O Brasil vive um dos piores momentos econômicos de sua história. A inflação, após anos de estabilidade, voltou a ultrapassar os dois dígitos, o crescimento econômico transformou-se em depressão econômica sem qualquer perspectiva de recuperação no curto e médio prazo, e a dívida pública, alimentada por descontrole de gastos e queda brutal da arrecadação, cresce a níveis que colocam em dúvida a solvência do país.

Muito se discute sobre as causas da catastrófica situação nacional que leva ao empobrecimento de todos os brasileiros. Temas como corrupção, desgoverno, pedaladas, déficit público, estão na primeira página dos principais jornais diariamente. Todos esses temas são realmente relevantes e contribuíram efetivamente para a presente situação, mas não a explicam na sua totalidade. Na verdade, reforçam a principal razão do momento que vivemos.

O grande problema do Brasil é a total descrença de que é viável produzir no país. Tal descrença, contudo, tem fundamento e é, de fato, extremamente difícil empreender aqui. Temos problemas estruturais graves e o que mais preocupa é que pouco se discute sobre esses problemas e suas soluções. Vamos a eles:

  1. Custos tributários: Quem produz é obrigado a lidar com uma legislação tributária extremamente complexa e onerosa. Estima-se que mais de 35% do PIB é destinado ao recolhimento de tributos. Paga-se tributos com lucro ou prejuízo. E o pior é que ante o grave problema fiscal do Governo, fala-se em aumentar ainda mais os tributos, o que desestimula ainda mais a moribunda iniciativa privada no país.
  2. Custos trabalhistas: O empregador é obrigado a lidar com legislação complexa, excesso de benefícios trabalhistas e uma justiça do trabalho extremamente paternalista e pró-trabalhador. Somente os benefícios trabalhistas representam 80% de custo a mais do que o salário pago pelo empregador. Além disso, os aumentos reais do salário (76%) superaram em muitas vezes o aumento de produtividade do trabalhador (6,6%) na última década. Como consequência o custo trabalhista é desproporcionalmente elevado em relação à produção decorrente do trabalho.
  3. Custos logísticos: O Brasil possui precária infraestrutura de escoamento de produção e uma das mais caras do mundo. Atualmente, segundo diagnóstico do Banco Mundial, nos encontramos na 65º em desempenho logístico no mundo. Como exemplo disso, o produtor brasileiro de soja possui custos quatro vezes mais elevados que a Argentina e os EUA para transportar o grão da porteira ao porto, segundo a CNA.
  4. Custos burocráticos: Nossa sociedade é extremamente cartorial e documental. É descomunal o quantitativo de documentos e dias necessários para a obtenção de autorizações públicas para abrir e fechar empresas, para conseguir licenças e alvarás, para obter financiamentos em instituições oficiais, entre outros. Grandes esquemas de corrupção se baseiam na burocracia que inventa dificuldades para a iniciativa privada com o objetivo de vender facilidades, impedindo o prosseguimento de empreendimentos de quem não participa desses esquemas.
  5. Custos energéticos: O principal insumo e base de toda a cadeia produtiva é a energia. Atualmente contamos com uma das energias, seja elétrica ou de derivados de petróleo, mais caras do mundo. Toda a sociedade paga hoje valores muito acima dos praticados no mercado internacional, seja para evitar racionamento de energia elétrica, ou seja, para dar sustentabilidade financeira à Petrobras, decorrente de anos de corrupção e políticas públicas inadequadas.
  6. Custos de financiamento: A taxa de juros no Brasil é a maior do mundo. Tal fato desestimula o investimento produtivo na medida em que eleva o custo de oportunidade do negócio e o custo para obtenção de financiamentos. As linhas de financiamento público minguaram e existem poucos mecanismos de mercado para alavancagem financeira de novos negócios. A obtenção de capital de giro no mercado financeiro é caminho certo para a falência, dado os elevados juros cobrados.
  7. Riscos regulatórios: Há ausência de estabilidade de regras e a produção farta de normativos inserindo novas obrigações e regulamentos. Segundo o ranking Doing Business, o Brasil ocupa a 116º posição no mundo em ambiente regulatório para a criação e operação de empresa.

Ademais, temos um sério problema de paradigma mental. O empresário, o empreendedor é visto com desconfiança e o lucro encarado como algo imoral. Se houve lucro, ele deve ser repartido por todos, mesmo por aqueles que não trabalharam, sob a justificativa de que a riqueza deve ser distribuída. Como resultado dessa “distribuição” temos um Governo corrupto e inchado, um sistema previdenciário insustentável, dezenas de milhões de beneficiários de programas assistenciais e outras dezenas de milhões de pessoas sem qualquer atividade produtiva/laboral.

O sistema produtivo brasileiro carrega nas costas um peso desproporcional o que o torna pouco competitivo a nível global e exige uma moeda extremamente desvalorizada, gerando inflação e altas taxas de juros. Tais fatos criam um ambiente macroeconômico de instabilidade e insegurança o que afasta ainda mais o capital privado e reforça o ciclo vicioso de menos produção, mais inflação e mais juros, com a consequente depressão econômica em que vivemos e todos os demais problemas decorrentes.

O atual momento é de reflexão e mudança. Já é hora de mudar os principais temas e o foco do Brasil. Precisamos urgentemente valorizar quem produz e quem empreende. É preciso atacar de frente os problemas relacionados a custos produtivos e viabilizar a competitividade de quem se arrisca a produzir aqui. Temas como produtividade, inovação e mérito têm que ganhar destaque no centro das discussões. A máquina pública e as universidades devem atuar favorecendo e facilitando o empreendedorismo e criando condições para o aumento da eficiência e da produtividade. As atividades fins devem ser valorizadas em detrimento das atividades meios. Precisamos de menos advogados e mais engenheiro e físicos, menos Estado e mais iniciativa privada, menos direitos e mais trabalho.

Não são mudanças fáceis, mas são mudanças fundamentais para sairmos da crise e caminharmos para o desenvolvimento sustentável em mundo cada vez mais globalizado e competitivo.

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