18 de abril de 2024

“Adélio esfaqueou Bolsonaro pela frente. Sérgio Moro, pelas costas”, diz Márcio Bittar

O senador Márcio Bittar (MDB) não tem papas na língua quando o assunto é Jair Bolsonaro, a quem defende com unhas e dentes. No caso do vídeo da reunião entre o presidente e ministros, publicado por Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), o parlamentar foi incisivo em condenar a divulgação do material.

Sua defesa do presidente da República lhe rendeu, neste final de semana, uma participação em famoso programa de debates da CNN Brasil e várias notícias na imprensa local.

O emedebista, que antes rasgava elogios ao ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, hoje o critica por ter “traído” Bolsonaro “pelas costas”. Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade ao ContilNet, Bittar não poupa o ex-juiz das críticas.

Ele defende ainda a polêmica declaração do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles de que o governo deveria aproveitar as atenções voltadas ao coronavírus para “passar a boiada” sobre as políticas ambientais e evitou criticar a fala dos ministros Abraham Weintraub (Educação) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que defenderam a prisão de prefeitos, governados e ministros do STF. Confira:

Senador Bittar e ex-juiz Moro em agenda política antes do rompimento / Foto: Arquivo

CONTILNET – O que o senhor pensa a respeito da publicação do vídeo? Enxerga alguma intenção na atitude do ministro Celso de Melo?

MÁRCIO BITTAREu não posso dizer qual a intenção dele. O que eu digo é que foi uma coisa lamentável. Eu tô envergonhado. O Brasil passou a noite inteira fofocando. O assunto era o ex-ministro Sérgio Moro dizendo que a reunião ia ser uma prova cabal do presidente da República interferindo no ministério. Primeiro que o próprio Moro se desmoraliza, porque horas antes de fazer entrevista coletiva ele disse no celular para a afilhada de casamento que se o Bolsonaro recuasse da decisão de tirar o cara lá da Polícia Federal, ele se manteria. Ele mesmo gravou e soltou pra todo mundo escutar. Então quer dizer que se o Bolsonaro o atendesse na manutenção de um cargo que é do poder e competência do presidente da República, ele ficava e aí não tinha nenhum problema?

CONTILNET – Mas o senhor não achou que, em um dos trechos, houve a comprovação dos argumentos do ex-ministro Moro de que o presidente tentou interferir na PF para salvar a pele da própria família?

MÁRCIO BITTAR – Não tem absolutamente nada anormal. Apenas um presidente comandando sua equipe, assim como fazem governadores e prefeitos, pois foram eleitos e a equipe tem que atendê-los, ora bolas. O ministro Celso de Mello percebeu que não tem nada ali e mesmo assim autoriza a divulgação não só do assunto que envolveu o Moro, mas de toda a reunião, o que é um absurdo. Como é que você expõe assuntos de estado, coisas que ministros estão conversando? Estratégias, decisões econômicas… Você expõe para o mundo inteiro? Isso é um absurdo. Então o material não provou nada. Mesmo não tendo nada, mais uma vez o presidente Bolsonaro é vitima de pessoas que a meu ver não aceitaram o fato de que ele ganhou a eleição contra tudo e contra todos.

Emedebista não poupa elogios ao presidente Bolsonaro / Foto: Arquivo

CONTILNET – Como o senhor enxerga essa crise envolvendo o ex-juiz e o presidente? Consegue ver alguma razão nas justificativas do Moro para o rompimento ou acha que há algo por trás?

MÁRCIO BITTARO ex-ministro Moro sujou sua biografia. Cuspiu no prato que comeu. Entrou como um ídolo e saiu como Judas. Adélio esfaqueou Bolsonaro pela frente. Moro, pelas costas. É por isso que há uma lei que diz que você só deve homenagear órgãos públicos com o nome de gente que já morreu, porque em vida o cara ainda pode te surpreender. Moro foi uma decepção. Ele deu um tiro no pé. Uma vaidade extrema, não pensou no país. Para mim, é decepção total. E o Bolsonaro, na minha opinião, sai fortalecido nesse processo, não tem nada que o incrimine. E o que eu acho interessante são pessoas, grupos e boa parte da imprensa que aguentou o Lula esculhambar com o Brasil, falar um monte de barbaridade, que comprovadamente montou uma quadrilha de corrupção no país duas vezes seguidas, com o mensalão e depois o petrolão, aí continuam defendendo ele. Bolsonaro não tem uma denúncia de corrupção, não tem uma denúncia envolvendo ele. Nada de roubo, falcatruas. Coisa nenhuma. Então para mim o Moro foi uma decepção. Eu não pensava que alguém pudesse ser tão vaidoso. A vaidade dele é maior do que o país. É impressionante. Ele não vai a lugar nenhum. Se é para ser candidato a presidente, vai perder, pois Bolsonaro vai ser reeleito.

CONTILNET – Voltando à reunião: no vídeo, é possível ver o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles falando em aproveitar que todas as atenções estão voltadas para o coronavírus para “ir passando a boiada, ir mudando todo o regramento, ir simplificando normas de Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério do Meio Ambiente, de regulatórios”. Isso não parece um libera geral para atividades que ameaçam o meio ambiente?

MÁRCIO BITTAR – Me perdoe a franqueza, mas só a sua pergunta na questão ambiental me lembra aquela Síndrome de Estocolmo, em que a pessoa sequestrada se apaixona pelo sequestrador. Rapaz, para com isso. O que é que nós ganhamos com essa questão ambiental? O Ricardo Salles está corretíssimo. A mídia do Brasil inteiro nessa questão ambiental não sabe o que fala e fica a serviço de países estrangeiros. Eles lascaram com a Amazônia. Um monte de regra, de lei sem cabimento nos culpando por tudo. Somos o país que mais preserva. O Amazonas tem 84% preservado. Nós não podemos acessar os recursos naturais. O que foi que ganhamos com isso? Você ganhou alguma coisa com isso? O Acre ganhou alguma coisa com isso? Ganhou o título de ser a região mais pobre do país. Foi isso que nós ganhamos. O único lugar do mundo que tem recursos naturais e não pode acessar somos nós. Os EUA aceitam uma intromissão dessas? Nenhum país do mundo aceita isso. Por exemplo: nós temos petróleo e gás no Juruá, em Cruzeiro do Sul. Não tá em terra indígena, não tá em área de preservação e nós na prática, estamos proibidos de tirar.

Parlamentar concorda “100%” com a fala do ministro Ricardo Salles / Foto: Arquivo

CONTILNET – Então o senhor, um senador da Amazônia, concorda com a fala do ministro…

MÁRCIO BITTARConcordo 100%! Devemos aproveitar que agora todo mundo só fala de covid-19 e ver se regulamenta algumas coisas que não dependem de lei. O que ele propõe é que os ministérios que têm alguma coisa a ver com essa questão se unam, simplifiquem e desburocratizem para que a vida seja mais fácil. E aí dizem que eles querem derrubar a Amazônia… Para com isso. Esse assunto me deixa indignado. A Noruega, que banca essas campanhas do Brasil, vive de petróleo e gás. Eu tenho vergonha de ser brasileiro quando o tema é Amazônia. Nós não mandamos mais na Amazônia, não temos o domínio sobre ela. Hoje não se trata de defender a soberania, se trata de recuperar, porque já perdemos. Agora mais uma coisa que é absurda é um ministro do STF expor o poder Executivo ao mundo como ele expôs. São conversas de estado e de interesse nacional.

CONTILNET – Na mesma reunião, os ministros Weintraub e Damares Alves falam em prender ministros do STF – a quem o primeiro se refere como “vagabundos” -, além de governadores, prefeitos e adversários políticos. O que o senhor pensa sobre isso?

MÁRCIO BITTAR –O que eu acho é que tem muito ministro do STF que entrou pela janela. Acho que nós temos que aperfeiçoar esse critério. O presidente do Supremo foi advogado do PT, assim como o Gilmar Mendes foi dos tucanos. É lógico que tem interferência política, é lógico que tem decisão ideológica naquela corte. Como é que uma corte, olhando para a Constituição, diz que você pode prender um meliante após a segunda instância e a mesma corte, olhando para a mesma Constituição, decide depois que não pode mais? O que foi que mudou? E a justificativa do Gilmar, dizendo que os juízes estavam abusando desse princípio? O que ele tem a ver com a decisão do juiz de primeira instância? Ele tem que julgar aos olhos da Constituição. Então é óbvio que a pressão que a esquerda e parte da mídia exerceram ecoou no STF. Aquilo ali é uma corte que tá fazendo política há muito tempo. Não tenho dúvida disso.

Bittar insinua que Gladson deve gratidão a presidente da República / Foto: Arquivo

CONTILNET – Como avalia a condução da crise do coronavírus pelo governo federal?

MÁRCIO BITTARO que eu acho é que muitos governadores e prefeitos deveriam gravar um vídeo agradecendo o presidente Bolsonaro. Não é falar só aí no Acre. É gravar e mandar para ele. Assumir isso. E não assinar carta contra o Bolsonaro. O Gladson vai receber R$ 200 milhões pra gastar onde quiser. De quem ele vai receber? Do governo Bolsonaro. Vai receber também R$ 144 milhões para gastar na Saúde. O Acre está com mais de 200 mil pessoas recebendo R$ 600 por mês. De qual governo? É do governo do Acre? É dos governos do Nordeste? Não. É do governo federal. Os prefeitos e governadores já estão recebendo uma reposição que vem na FPM e FPE. Quem tá pagando essa reposição? O governo federal. Os Estados e as prefeituras estão isentas, vão ganhar uma moratória daqui para o final do ano. São R$ 460 milhões que o estado e prefeituras vão deixar de pagar para o governo federal de dívidas. Agora o BNDES anunciou em uma reunião que eles vão colocar R$ 20 bilhões como seguro às instituições financeiras para financiar o micro e o pequeno comerciante. Quem está suplementando o ataque à pessoas que têm pouca renda por parte do camarada que cortou o salário? O governo federal. O mesmo que está gastando em PIB o dobro que os países emergentes estão gastando na crise do coronavírus. E nós estamos gastando a mesma coisa em termos de PIB que os países ricos. Gratidão, para mim, é uma coisa importantíssima e eu não percebo isso nos governadores e de muitos prefeitos. Bolsonaro tá fazendo uma ajuda fantástica.

CONTILNET – O governador Gladson Cameli e o presidente Bolsonaro divergem sobre as medidas que devem ser tomadas para conter a pandemia. Um defende o isolamento total. O outro, o vertical. Ambos são seus aliados. Mas com qual dos dois o senhor concorda nesse aspecto?

MÁRCIO BITTAR – Desde o começo concordo com o presidente Bolsonaro. Acho um equívoco não só do meu governador, mas dos governadora do Brasil inteiro. Eu já fiz uma live com várias pessoas, médicos e cientistas e nenhum lugar do mundo eles conseguiram, com o isolamento, achatar a tal da curva. Infelizmente esse vírus tem uma vida própria, um ciclo próprio. O que você tem que fazer desde o começo é concentrar campanha no grupo de risco. Esse sim você tenta isolá-lo, porque se ele contrair tem uma grande possibilidade de morrer. Agora fora o grupo de risco, 38 milhões de brasileiros vendem o almoço para comer a janta. Quem que tá pagando o almoço para eles? Quem que tá pagando a janta pra eles? O governo federal vai aguentar dar R$ 600 por mês por mais três, quatro, cinco meses? Aliás, o presidente bolsonaro anunciou que vai prorrogar por mais alguns meses o auxílio emergencial, mas não no valor de R$ 600. Uma excelente notícia, mas não vai aguentar fazer isso a vida inteira. Sobre as pessoas que moram nas periferias, é muito fácil o sujeito da classe média, da classe média alta, os ricos e o artistas da Globo mandarem todo mundo ficar em casa. Quem leva comida para ele na casa dele? Quem atende no supermercado? Se todo mundo ficar em casa, todo mundo morre. Eu concordo com a linha do presidente Bolsonaro. Quero terminar o meu mandato ajudando o Gladson e ajudando o Bolsonaro, mas nessa questão eu tô do lado do bolsonaro e vou ficar do lado dele até o final.

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