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Dirigente da CBF nega interferência política para volta do futebol e prevê Brasileirão até 2021

Por TERRA

Quem é fã de futebol deve ter uma virada de ano bem diferente, com jogos entre o Natal e o Ano Novo e também no início de janeiro. O Campeonato Brasileiro terá um calendário modificado por causa da longa paralisação pela pandemia do novo coronavírus. Quem revelou esses planos foi o próprio secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Walter Feldman, em entrevista exclusiva ao Estadão.

A entidade ainda não sabe quando poderá voltar com as competições, mas tem claro que só vai retomar o calendário após receber autorização do Ministério da Saúde. Segundo Feldman, por enquanto, o trabalho é o de atualizar um protocolo de cuidados médicos, dialogar com clubes e federações e garantir que nenhuma pressão política apresse o retorno das atividades do futebol brasileiro, a exemplo do que ocorreu na retomada da Europa.

Alguns times já voltaram aos treinos. Isso não pode representar uma vantagem competitiva lá na frente?
A volta das competições tem de ser baseada primeiramente nas condições de saúde, com as curvas controladas e com os protocolos praticados. Fizemos algo muito sensato no começo de maio, ao permitir que cada federação e clube avaliasse dentro da realidade de seus Estados o que era possível. Pela nossa previsão, nosso calendário deve ser retomado em cima das competições Estaduais, para que quando comece os torneios nacionais, os clubes já tenham o preparo e o condicionamento adequados.

E como a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) acompanha o processo no Brasil?
Semana passada tivemos uma videoconferência com a Conmebol. Tivemos um longo debate sobre isso. Deixamos claro que vamos trabalhar neste momento com preferência para as competições do calendário brasileiro, esperando que a Conmebol fizesse alguma definição que fosse mais tarde dos que as nossas decisões. Falamos de Libertadores e Sul-Americana, além das Eliminatórias. Nossa sequência é: competições estaduais e depois as nacionais. Até agora é plenamente possível cumprir o calendário brasileiro. Podemos aproveitar datas que não são aproveitadas e, se necessário, algumas datas do início de 2021.

Então é possível o Brasileiro terminar só em janeiro?
Sim. É. Eu diria que quando a gente iniciou a parada, nós começamos a pensar nos mecanismos de flexão que teriam de ser acrescentados ao calendário para podermos ter condições de terminar as competições de forma ideal. Por isso que trabalhamos com a extensão das férias dos atletas para ter a liberação do período entre Natal e Ano Novo. Seria possível fazer um calendário até 2021 e também iniciamos algo que vem sentido mantido, de diálogo com a Federação dos Atletas para termos a redução do tempo entre as partidas.

Como ficariam os contratos de jogadores? Muitos dos atletas têm vínculos só até 31 de dezembro.
É um problema que vem sendo pensado no plano da legislação. Tem um projeto de lei para resolver algumas questões e uma delas é esta, a possibilidade de se assinar um contrato por só 30 dias (nota de redação: o contrato mínimo permitido atualmente é de 90 dias de duração). Talvez seria em situação emergencial uma solução, por ter contratos mais curtos. Nós sabemos as dificuldades dos clubes em manter salários. Isso ainda está sendo tratado. Tem várias questões em andamento, ainda sem respostas.

Como tem sido feito o protocolo médico da CBF para a volta dos times aos treinos?
Fazemos atualizações quase que diárias, porque as mudanças sobre a pandemia são constantes, com o conhecimento de novos testes. Temos conduzido esse trabalho junto com o Ministério da Saúde sem nenhum tipo de pressão ou açodamento. Nós estamos acompanhando a evolução da epidemia. O protocolo está muito bem elaborado, participaram mais de 150 médicos do futebol, tem seis pareceres de infectologistas e epidemiologistas. Procuramos o máximo de construção técnica sobre a perspectiva do retorno.

Como tem sido a participação de infectologistas, que são os grandes especialistas no tema?
A nossa referência maior é o infectologista Sérgio Wey, que inclusive foi meu colega de faculdade. Ele deu um parecer em que relata sobre como acompanhou esse trabalho. Nós enviamos também à Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e temos um parecer do diretor técnico da SBI, que faz todas as considerações. Nós só não divulgamos ainda porque está no plano do Ministério da Saúde. As participações dos infectologistas e epidemiologistas têm sido fundamental. Eles que dão a característica complementar à experiência acumulada pelos médicos de futebol. Foi uma combinação perfeita.

Quem vai dar o aval final para liberar o futebol?
Desde o início a gente falou que não daríamos um passo sem as recomendações do Ministério da Saúde, tendo em vista que a CBF é uma instituição nacional. Mas não deixa de ser fundamental a avaliação das secretarias municipais e estaduais de saúde.

As trocas no Ministério da Saúde interferem?
Não. Em nenhum momento demos dimensão política ao fato. A gente sempre conversou na área técnica. É fundamental que nossa decisão tenha caráter científico. Não há componente político.

Quando voltar, só teremos jogos com portões fechados?
Eu não diria que temos isso claro. Mas em nenhuma hipótese pensamos na retomada com os portões abertos. Claro que sempre estará no horizonte pensar em jogos com torcida, distanciamento e cuidados, mas diria que agora é uma questão distante de ser tratada. Estamos agora pensando no retorno dos treinamentos, distanciamento social preservado, acompanhamento diário, testes…

A CBF pretende bancar os testes de alguns times?

Nas primeiras conversas que tivemos com o Ministério de Saúde, como o futebol se tornou um exemplo importante para fazer as pessoas se distraírem, até se levantou a possibilidade de o Ministério fornecer testes. Mas isso não era possível nem adequado. Estamos agora avaliando preços, origem dos testes e qualidade deles. A cada momento aparece um teste novo. Como a Série A e a Série B têm vários clubes voltando, estão fazendo por iniciativa própria. Estamos em um momento de avaliação, de custo, de mercado, de fazer avaliação de tudo isso, que também é novo para a CBF. Neste momento não tem nenhuma sinalização de se discutir valores. Os preços são altos e a quantidade é grande.

Flamengo e Vasco chegaram a se reunir com o presidente Jair Bolsonaro. Algumas federações estaduais também já se manifestaram a favor do retorno. Como a CBF lida com essa pressão?
Eu diria que o presidente (da CBF) Rogério Caboclo tem muita clareza sobre isso. O retorno só se dará em cima da segurança em saúde. Em nenhum momento vamos ultrapassar a linha da responsabilidade. A gente acha que isso tem de ser local. Algumas federações avançaram muito nisso, como Santa Catarina, Paraná e Rio e Janeiro. As vontades locais não interferem no plano nacional. Nossa tarefa é dar todo o apoio possível. Vamos aguardar o Ministério da Saúde para que se possa fazer o retorno. Não há pressão política fora do sistema de saúde que altere o posicionamento da CBF.

É possível fazer alguma previsão de quando o futebol voltará?
Nós estamos exatamente no pico da pandemia. E não sabemos o tamanho do platô desse pico. Temos muitos elementos positivos, como a articulação com as federações e o diálogo com os clubes. Mas a recomendação expressa que tenho do presidente Caboclo é para não dar nenhuma data ainda. Ou seja, estamos fazendo tudo correto, de forma sensata, mas ainda não falamos em prazo.

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