O fotógrafo Ramon Aquim há oito anos ganhava a vida com suas imagens sobre o “extremo Acre”. O cotidiano de aldeias indígenas, seringais e periferias da capital e do interior foi imortalizado, ao longo desse tempo, por suas lentes e pelo seu olhar criativo. Até que veio o coronavírus e mudou tudo na vida do profissional, que atuava também como videomaker.
Sem povo nas ruas, sem eventos para registrar e diante da necessidade de ficar em casa para proteger a família da covid-19, o jovem teve de se reinventar. Há algumas semanas, ele vem aprendendo a usar ferramentas de designer gráfico e já tem feito alguns trabalhos para garantir o próprio sustento.
“Praticamente não tenho mais demandas como fotógrafo por conta do isolamento social imposto pela epidemia. Daí precisei correr atrás de outra coisa com uma certa urgência e o que encontrei no momento foi esse trabalho de webdesigner, que vai me servir para quando tudo isso passar”, comenta Aquim.
Ramon não é o único nessa situação. A pandemia de coronavírus, que já infectou mais de 400 pessoas no Acre, matando cerca de 20 delas, impôs novos desafios a muitos informais, categoria que, geralmente, já passa por dificuldades por não contar com as mesmas seguranças trabalhistas que um funcionário regular.
Em todo o estado, mais da metade dos trabalhadores estão em situação de informalidade, segundos dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em fevereiro, um mês antes da crise.
Até o momento, não há dados oficiais sobre a quantidade de trabalhadores lançados à informalidade após a pandemia ou que já eram informais, mas tiveram de mudar de ramo em virtude do isolamento social.
Driblar a crise
Diego Diel trabalhou como motorista de aplicativo por pouco mais de um ano e vendia ovos informalmente há nove. Devido à baixa demanda por transporte e o alto risco de contaminação, ele abriu mão da função e passou a viver apenas dos ovos, que também sofreu queda nas vendas após o início do isolamento social.
“No início da crise, as vendas de ovos tiveram uma leve queda, mas com a reabertura imediata de comércios, lanches, padarias entre outros, normalizaram. A concorrência diminuiu após a pandemia. Os ambulantes que ficavam em pontos fixos pela cidade sumiram devido à quarentena”, afirmou.
Para driblar a perda de rendimento do trabalho no aplicativo de transporte, ele conseguiu um emprego na gerência de vendas em uma distribuidora de alimentos dos pais da esposa e ficou mais aliviado com a própria situação.
Sucesso
A artesã Bárbara Guimarães é mais um exemplo de quem precisou correr atrás de novas oportunidades. Proprietária de um ateliê virtual onde produz peças como enxovais, ela viu seu rendimento cair consideravelmente após o avanço do coronavírus, que provocou desempregos e, consequentemente, menor circulação de renda no estado.
Para contornar o problema, identificou nas máscaras de tecido uma oportunidade para recuperar o rendimento perdido e hoje comemora um lucro duas vezes maior do que obtinha antes da pandemia. Em apenas um mês ela produziu, comercializou e doou mais de 700 itens para proteção individual.
“Tenho consciência de que esse boom nas minhas vendas é fruto de uma onda, uma fase que estamos vivendo em virtude dessa necessidade do uso de máscara. Mas vou aproveitar os bons resultados e inovar. Já comprei outra máquina de costura e vou produzir novos crochês e bordados, tanto em máscaras quanto em outros produtos para quando tudo isso passar”.