No isolamento social causado pela pandemia do coronavírus, o cuidado com a própria alimentação deve ser redobrado, por uma questão de saúde e prevenção, principalmente.
Pensando nessa dimensão tão importante para a nossa sobrevivência e bem-estar, a convidada do ContilNet para falar nesta semana sobre alimentação saudável é a nutricionista e professora da Universidade Federal do Acre, Suellem Rocha.
Durante a entrevista, a profissional explicou que o nosso sistema imunológico tem uma relação direta com a nossa forma de se alimentar, dando algumas sugestões básicas e importantes sobre o assunto.
Suellem é também mestre em Ciências da Saúde, pós-graduanda em Comportamento Alimentar e membro do Grupo de Estudos em Nutrição Comportamental do Acre (GENCA).
CONFIRA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA:
O que de fato é uma alimentação equilibrada e saudável?
Falar sobre alimentação equilibrada e saudável no momento atual, em que as orientações nutricionais mais confundem do que orientam, é um desafio. Com o advento das mídias sociais e tantas pessoas ditando regras e apresentando seus pratos perfeitos, a população fica mais confusa em suas escolhas alimentares. Alimentar-se bem é olhar para os alimentos não somente como meros compostos que atenderão necessidades biológicas, mas entender que cada refeição faz parte de um contexto que deve basear-se em nossa capacidade de respeitar sinais internos de fome e saciedade. Comer bem é comer de tudo, sem culpa, sem restrição, escutando nosso corpo e buscando focar na qualidade dos alimentos e não somente nas “calorias”. O segredo é comer melhor e não menos.
Quais os impactos que uma alimentação não equilibrada causa em nossa saúde neste momento de pandemia?
Cuidar da alimentação em um momento de pandemia pode ser ainda mais desafiador, sobretudo por ser um período de isolamento social, ansiedade, estresse e incertezas. Os alimentos são grandes aliados na manutenção da nossa imunidade, especialmente se buscarmos priorizar a ingestão de todos os nutrientes, especialmente as proteínas (presente nas carnes, ovos, leite), os vegetais e as frutas (fontes de vitaminas e minerais). Uma alimentação rica em produtos industrializados, processados e restrita em alimentos com boa qualidade nutricional, como os citados anteriormente, pode contribuir para a supressão da nossa capacidade imunológica. E além disso, alimentar-se com extrema restrição neste momento, aderindo a dietas da moda que pregam a exclusão total de grupos alimentares, podem nos deixar ainda mais suscetíveis a infecções oportunistas.
O nosso sistema imunológico, que atua diretamente no combate ao coronavírus, tem relação direta com a nossa alimentação?
Não existem alimentos que atuem diretamente no combate ao coronavírus, no entanto uma alimentação variada que contemple todos os nutrientes que precisamos, permitirá que nosso organismo esteja saudável e consequentemente, fortalecido diante de qualquer doença.
Quais alimentos auxiliam na manutenção ou no cuidado da nossa imunidade?
Todos os grupos alimentares, quando contemplados na alimentação de forma variada, irão contribuir para a manutenção da imunidade. Não existem superalimentos, cada alimento apresenta uma composição que ao se unir aos outros, permite a diversidade que precisamos.
Algumas pessoas iniciam dietas sem consultar um profissional da área de nutrição para saber o que deve ou não ser inserido na alimentação, o que pode ocasionar um emagrecimento não saudável. Isso é verdade? Quais os riscos de um emagrecimento não saudável? Isso tem impacto no sistema imunológico? Pode colocar uma pessoa em grupo de risco?
Vivemos em um cultura onde a “mentalidade de dieta” tem norteado as escolhas alimentares de grande parte da população. A busca por um padrão de beleza tem imputado nas pessoas uma relação doentia com o próprio corpo e a alimentação. Sabe-se que 95% das pessoas que fazem dieta restritiva e conseguem emagrecer, readquirem peso e até mais do que perderam em 5 anos. Infelizmente, o emagrecimento deixou de ser saudável há muito tempo, porque virou uma indústria, que por sinal, é uma das mais lucrativas no mundo. Emagrecer e fazer dieta virou moda e, entendendo isso, constatamos que uma parcela das pessoas que quere perder peso, muitas vezes nem precisa. Aderir a programas nutricionais sem orientação profissional, nos coloca em risco em diversos aspectos uma vez que cada indivíduo possui padrão metabólico e comportamental diferente. O que é aconselhado pra mim, pode não ser adequado pra você. Costumo falar que no emagrecimento o que importa não é a velocidade com que alcançamos o objetivo, mas o caminho que percorremos até ele. Buscar o caminho mais fácil e rápido, não só assustará nosso metabolismo, como também poderá nos colocar diante de transtornos alimentares, como a compulsão alimentar por exemplo. Nunca foi tão urgente abrir os olhos da população sobre isso. E mais uma vez enfatizo, o segredo não é comer menos é sim MELHOR!
Nessa quarentena, diga não as dietas restritivas e aproveite para ter uma boa relação com os alimentos. Reavalie sua rotina alimentar, tente planejar suas refeições. Não estoque comida, e em vez disso, evite o desperdício que é tão comum. Cozinhe mais. Aproveite para aprender novas receitas e adquirir novas habilidades. Isso lhe dará mais autonomia nas suas escolhas. Prefira alimentos de verdade, carnes, arroz, feijão, frutas e verduras e evite os processados. Hidrate-se. Tente se alimentar na mesa com sua família. Comer é também um ato social, um momento de partilha e de celebração. Respeite os sinais de fome e saciedade. Permita-se perceber a diferença entre fome real ou fome emocional. Pergunte-se – estou realmente com fome? Ou é apenas vontade de comer, beliscar.