A Unimed Belém (PA) tem distribuído gratuitamente, via drive-thru, os medicamentos cloroquina, azitromicina e ivermectina para pacientes com Covid-19. Nenhum deles, porém, tem comprovação de eficácia contra a doença. A associação de cloroquina e azitromicina já foi, inclusive, contraindicada pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês) dos EUA por causa de seus riscos cardíacos.
Segundo a empresa, o objetivo é atender diariamente 400 beneficiários, que precisam apresentar carteira do plano, documento com foto e receita médica. Nas redes sociais, há imagens de filas de carros para ter acesso às drogas. A distribuição de medicamentos funcionará, segundo a assessoria de imprensa da empresa, até o fim de maio, de segunda a sexta, de 8h às 17h, e aos sábados, de 8h às 12h.
A Unimed Belém afirma que sua ação visa ajudar os pacientes que estão com dificuldade de adquirir as medicações, mas não respondeu ao questionamento da reportagem sobre os riscos de eventos adversos relacionados às drogas distribuídas em seu drive-thru.
Em nota, a Unimed Brasil afirma que “pelo princípio cooperativista, as cooperativas presentes em todo o território nacional têm autonomia para desenvolver e executar as ações que julgarem pertinentes às suas necessidades, de seus pacientes e da região em que estão inseridas, respeitando os protocolos determinados pelo Ministério da Saúde e, também, pela OMS”.
A operadora de saúde também diz que está atenta às determinações das autoridades de saúde.
A distribuição vai contra o que recomenda o Ministério da Saúde. O protocolo atual do ministério diz que “as evidências identificadas ainda são incipientes para definir uma recomendação. A literatura apresenta três estudos clínicos, com resultados divergentes, sobre o uso de hidroxicloroquina. Os três estudos apresentam um pequeno número de participantes e apresentam vieses importantes”.
O texto afirma que a cloroquina e a hidroxicloroquina só poderão ser utilizadas em casos confirmados de Covid-19 e a critério médico, como terapia adjuvante no tratamento de formas graves, em pacientes hospitalizados, sem que outras medidas de suporte sejam preteridas. Diz ainda que a associação de azitromicina e cloroquina ou hidroxicloroquina pode aumentar risco de complicacões cardíacas.
O Niaid, dos EUA, afirma que não há dados que subsidiem a indicação favorável ou contrária da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a Covid-19 e que as informações disponíveis até o momento são derivadas de uso em casos leves a moderados da doença. Já a combinação de um dos remédios com a azitromicina foi contraindicada.
No documento da entidade, a FDA (agência americana que regula medicamentos e integra o painel de entidades que compôs o documento) alerta contra o uso tanto da cloroquina quanto da hidroxicloroquina para Covid-19 fora de hospitais e de ensaios clínicos. Quando ocorrer esse uso, os efeitos adversos devem ser monitorados.
Uma atualização recente do documento também contraindica o uso de altas doses de cloroquina, de 600 mg duas vezes ao dia.
Já o remédio antipulgas ivermectina, assim como a cloroquina, só teve sucesso em estudos com células, o que não significa necessariamente que a droga vá funcionar em humanos. O medicamento antiparasita que apareceram como possibilidades de uso no tratamento da Covid-19.
Em março, a droga entrou no holofote da pandemia após o presidente americano Donald Trump afirmar que ela poderia ter efeito contra o novo coronavírus. Pacientes que precisam do medicamento para tratar lúpus, artrite, doenças fotossensíveis e malária já começaram, desde então, a ter dificuldades de achar os remédios em farmácias.
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) passou a exigir receita para a compra do medicamento em farmácias.