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Grupo diz que travesti foi morta à pauladas no AC: “Política de extermínio”

Por EVERTON DAMASCENO, DO CONTILNET

Em uma nota divulgada nesta quinta-feira (25), após a morte violenta da travesti Fernanda Machado da Silva, 27 anos, ocorrida nesta quinta-feira (25), no bairro Preventório, transvestigêneres ativistas da Coletiva Teatral Es Tetetas informaram que a parceira foi atingida por pauladas e isso teria ocasionado sua morte.

Fernanda foi encontrada morta com vários ferimentos pelo corpo e sinais de que havia sofrido, também, parada cardíaca.

A nota de falecimento foi encabeçada com a frase “Quando eu digo que meu corpo é um corpo morto, não me assusto”, abordando questões como política de extermínio e transfobia.

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“Nós sabemos que dentro da política de extermínio da sociedade em que vivemos, nossas corpas estão na linha de frente, principalmente as corpas transvestigêneres que têm como principal fonte de renda o trabalho com a prostituição. Hoje, 25 de junho de 2020, em Rio Branco, AC, às 02:50, Fernanda Machado foi assassinada covardemente à pauladas por homens cisgêneros (provavelmente um amigo de vocês, alguém que não tem cara de assassino, aqueles boys gente boa, bem-educados, de família, alguém que tem ou já teve mãe… não sabemos)”, diz a nota.

Ao final, o grupo deixa, com indignação, alguns questionamentos, como: “quantas mais serão mortas pela inércia de vossos comodismos cisgêneros e branquistas?” e “aonde está enfiada essas palavras que vocês adoram usar: luta! dignidade! amor!?”.

Confira a nota na íntegra.

NOTA DE FALECIMENTO

“Quando eu digo que meu corpo é um corpo morto, não me assusto”.

Nós, transvestigêneres ativistas e não ativistas de gênero, poetas, educadoras, putas, etc, etc… lidamos com a morte e o medo da morte desde que decidimos pôr a cara no sol ou na lua.

Nós sabemos que dentro da política de extermínio da sociedade em que vivemos, nossas corpas estão na linha de frente, principalmente as corpas transvestigêneres que têm como principal fonte de renda o trabalho com a prostituição.

Hoje, 25 de junho de 2020, em Rio Branco, AC, às 02:50, Fernanda Machado foi assassinada covardemente à pauladas por homens cisgêneros (provavelmente um amigo de vocês, alguém que não tem cara de assassino, aqueles boys gente boa, bem-educados, de família, alguém que tem ou já teve mãe… não sabemos)

Vocês dizem que amam a travesti, que respeitam a travesti, que sabem até o pajubá de cor e salteado. Dizem também que escutam umas travestis cantoras, que têm uma amiga travesti poeta e outra atriz e que até fala com as travestis que estão na esquina se arriscando sem saber se voltam vivas para casa.

Mas o que vocês têm feito para barrar essa política de extermínio das nossas corpas?

Sempre que uma de nós cair, nós que continuamos de pé esfregaremos nas vossas caras isso que vocês chamam de dignidade, e respeito, e amor, e solidariedade. Gritaremos cada assassinato e colocaremos nas suas contas, nas suas costas.

Hoje em Rio Branco foi a Fernanda Machado; em Recife foi a Lady Gaga; sem contar aquelas que não são noticiadas.

Por todas elas exigimos justiça:
pelas que vieram antes de nós,
pelas que ainda hoje irão morrer.

Por essas que estão ausentes, perguntamos:

quantas mais serão mortas pela inércia de vossos comodismos cisgêneros e branquistas?

aonde está enfiada essas palavras que vocês adoram usar: luta! dignidade! amor!.

Não queremos suas falsas condolências, suas declarações textuais que mais denunciam suas hipocrisias do que suas práticas anti-transfóbicas.

Queremos vida! Nossa luta é pelo resgate da nossa humanidade.

Equipe da Coletiva Teatral Es Tetetas

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