Wesley Vieira levou dez tiros pelo corpo, durante uma perseguição policial após roubar dois carros e uma moto, e perambulou por oito presídios do estado de São Paulo. Hoje, aos 35 anos, está longe do crime e encontrou na religião um caminho.
Por conta dos tiros que o atingiram, Wesley ficou paraplégico. Carrega duas balas alojadas nas costas. Além de não ter o movimento das pernas, perdeu o baço e o pâncreas. Ele não tem o rim do lado direito; do esquerdo, só tem 70%. O estômago foi reconstruído, e ele diz que sobrou apenas parte do fígado.
Presbítero da Assembleia de Deus Ministério Belém, Wesley se intitula como “garçom”, por servir a Deus. Ele conta seu testemunho na vida do crime Brasil afora. Condenado a 6 anos e 2 meses em regime fechado pelos assaltos, cumpriu três anos.
Era conhecido no mundo do crime como “Irmão”. Abandonado pelos pais aos 4 anos de idade, foi criado pelo tio e em seguida pela avó paterna. Cresceu no Jardim Iporanga (zona sul de São Paulo) ao lado do tio.
“O falso glamour do crime, como mulheres, dinheiro e reconhecimento, é pura ilusão”, afirma.
É casado, pai de quatro filhos — Thiago, 15 anos, Bianca, 10, Sofia, 9, e Miguel, 11 meses — e tem uma enteada, Amanda, 22 anos. “Há cinco anos minha esposa tem o marido que ela sempre sonhou.”
Chegou a gastar R$ 13 mil durante uma noite na balada, ter uma Hilux e uma moto RR 1000 que custa R$ 83 mil. “O diabo deu e tirou tudo, e quase perdi minha vida.”
Wesley sobrevive com a venda de trufas e DVDs ao final dos cultos que frequente — consegue levantar R$ 1,3 mil por mês dessa forma. E não são DVDs de ficção. Neles, conta a sua vida no crime. Com as pernas e as mãos algemadas, lembra que a primeira transferência para a penitenciária de Marabá Paulista (SP) demorou 15 horas de viagem, e ele ficou sem comer e sem beber.
“Não enxergava um palmo na frente da cara. Vejo esses moleques emocionados, eles não sabem o que espera por eles. Lá é onde o filho chora e a mãe não ouve”, recorda.
Wesley dá conselho para jovens iludidos com o crime. “Ele é induzido pelo funk ostentação, que mostra que o jovem da periferia só tem valor com um tênis de marca, relógio e corrente de ouro no pescoço.”
“A realidade da cadeia é dura. O que eu vi de jovem na prisão chorando no dia de visita, falando ‘mãe, pelo amor de Deus, me tira deste lugar’. Mas aqui fora não respeitam pai e mãe. Acham ultrapassados para direcionar a vida deles, mas nunca é tarde para mudar”, orienta o presbítero.