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Mãe de Miguel defende punição para ex-patroa: ‘antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente’, diz em carta

Por G1 PE

Após o filho de 5 anos morrer ao cair do 9º andar do prédio onde trabalhava, no Recife, a doméstica Mirtes Renata Santana escreveu, nesta quarta (10), uma carta à ex-patroa Sari Corte Real, esposa do prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB). “Eu não recebi qualquer pedido de desculpas”, disse a mãe do menino em resposta a um texto que a primeira-dama havia divulgado, pelo advogado, pedindo perdão a Mirtes (veja vídeo acima).

“Perdoar pressupõe punição; do contrário, não há perdão, senão condescendência. A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente”, afirmou a mãe do menino no texto, que foi escrito com auxílio de um advogado.

Ainda na mensagem, Mirtes disse que a carta divulgada por Sari não foi destinada a ela. “A carta de perdão foi dirigida à imprensa, o que me faz pensar que eu não era destinatária, mas sim a opinião pública com a qual ela se preocupa por mera vaidade e por ser esse um ano de eleição”, afirmou Mirtes na carta.

No texto, escrito com o auxílio de um advogado, Mirtes contou não ter rancor, mas, sim, saudade do filho. “Eu não tenho forças neste momento, não tenho chão. Não tenho vida!”, declarou.

Ainda na carta, a empregada doméstica descreveu como está a vida sem o filho. “O sentido da vida de quem é mãe passa pelo cheiro do cabelo do filho ao acordar, pelo sorriso nas suas brincadeiras, pelo ‘mamãe’ quando precisa do colo e do abrigo de quem o trouxe ao mundo. Uma mãe, sem seu filho, sofre uma crise, não apenas de identidade, como também de existência. Quem sou eu sem Miguel? Ela tirou de mim o meu neguinho, minha vida, por quem eu trabalhava e acordava todos os dias”, disse.

Também no texto, Mirtes se referiu, mais de uma vez, à carta divulgada por Sari dias após a morte de Miguel. “Após poucos dias, é desumano cobrar perdão de uma mãe que perdeu o filho dessa forma tão desprezível. Afinal, sabemos que ela não trataria assim o filho de uma amiga. Ela agiu assim com o meu filho, como se ele tivesse menos valor, como se ele pudesse sofrer qualquer tipo de violência por ser ‘filho da empregada'”, afirmou a doméstica.

Veja a íntegra da carta

“SOBRE O PERDÃO PEDIDO POR SARI

Eu não recebi qualquer pedido de desculpas. A carta de perdão foi dirigida à imprensa, o que me faz pensar que eu não era destinatária, mas sim a opinião pública com a qual ela se preocupa por mera vaidade e por ser esse um ano de eleição.

Eu não tenho rancor. Tenho saudade do meu filho. O sentido da vida de quem é mãe passa pelo cheiro do cabelo do filho ao acordar, pelo sorriso nas suas brincadeiras, pelo “mamãe” quando precisa do colo e do abrigo de quem o trouxe ao mundo. Uma mãe, sem seu filho, sofre uma crise, não apenas de identidade, como também de existência. Quem sou eu sem Miguel? Ela tirou de mim o meu neguinho, minha vida, por quem eu trabalhava e acordava todos os dias.

Quando eu grito que quero justiça, isso significa que eu preciso que alguém assuma a minha dor, lute minha luta, seja o destilado da cólera que eu não quero e nem posso ser. Eu não tenho forças neste momento, não tenho chão. Não tenho vida!

Após poucos dias é desumano cobrar perdão de uma mãe que perdeu o filho dessa forma tão desprezível. Afinal, sabemos que ela não trataria assim o filho de uma amiga. Ela agiu assim com o meu filho, como se ele tivesse menos valor, como se ele pudesse sofrer qualquer tipo de violência por ser “filho da empregada”.

Perdoar pressupõe punição; do contrário, não há perdão, senão condescendência. A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente. Mirtes, mãe de Miguel (carta escrita com auxílio do advogado constituído)”

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