Após perder fonte de renda pela pandemia, artista ganha alcance fora do país com lives

Com a chegada das leis que tornaram realidade o isolamento social no Acre, Camila Cabeça se viu em uma situação delicada: ela, que ganha a vida como artista, viu duas de suas oficinas de dança – as quais aguardava ansiosamente – serem canceladas. A proibição de encontros presenciais e de aglomerações afetou diretamente sua principal fonte de renda.

Meses depois, uma nova realidade. Mais presente nas mídias sociais, encontros online com artistas de todo o Brasil e reconhecimento fora do país. Afinal, o que aconteceu nesse meio tempo? A reportagem do ContilNet Notícias conversa com Camila para contar um pouco sobre seu trabalho e sua história, além de falar sobre como a artista se reinventou no período de isolamento social.

Camila Cabeça é nascida em Belém do Pará e radicada no Acre há 18 anos. Graduanda do curso de Artes Cênicas – licenciatura em Teatro, na Universidade Federal do Acre (Ufac), Camila desenvolve projetos com música, canto e dança em escolas desde o ano de 2006. Com a idealização do método corporal carimbó para o despertar do corpo, o trabalho da artista ganhou popularidade e foi com esse método também que Camila se reinventou: ela venceu a timidez na quarentena e passou a fazer lives, o que garantiu visibilidade dentro e fora do Acre.

Com o período de isolamento social, o símbolo de “ao vivo” em volta da foto de perfil de Camila virou rotina/Foto: Reprodução

É sobre esse assunto que vamos conversar com Camila a partir de agora:

ContilNet: você é uma artista multifacetada, se reinventando sempre durante sua carreira e, nesse período de pandemia do novo coronavírus, não foi diferente. De onde surgiu esse insight de levar cultura e conhecimento através das mídias sociais?

Camila: Nunca tinha feito lives. Até tinha redes sociais movimentadas, mas nunca tinha feito. Fiquei deprimida como artista, porque tinha oficinas programadas – isso significava muito pra mim em termos financeiros. Sou da dança, né? Na vida, até as pedras rolam. No começo, fiz, me empolguei, duas vezes na semana, duas vezes no dia. Mas depois fiquei: “Não dá”. Até por sentir a necessidade de diluir o conteúdo, me descobrir dessa forma. Até que sai do Instagram e fui parar no Facebook, uma outra plataforma e em outro momento da pandemia – quando ‘pegou mais’ na cidade.

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Uma das últimas lives de Camila contou com artista da Bahia/Foto: Reprodução

Você está gostando do resultado? Acha que isso, de alguma forma, vai impactar na sua carreira quando esse período de isolamento social passar?

Estou gostando demais! Pretendo continuar, alcancei pessoas do mundo inteiro com esse projeto. É muito louco isso! Mas [pretendo continuar] de outra maneira […] no novo normal, a gente tem que encaixar a vida de lives com a ‘vida normal’. Mas pretendo sim, o alcance tá bem legal, e é como eu tenho financeiramente sobrevivido.

Você sempre teve uma ligação muito forte com o Acre. O que o Estado representa para você? Qual a sua percepção sobre a cultura no Estado?

O Acre é muito importante na minha vida. Eu vim para cá em 2001 e estou até hoje e vim com uma (sic) perspectiva que eu nunca teria no Pará. Isso é um fato. […] Entendendo também que, aqui, meu trabalho foi super bem aceito. Demorou um tempo para ele se consolidar, mas isso é normal, entendo esse processo.

Acho que o Estado atualmente tem uma falha no fomento ao acesso à cultura, nos 22 municípios. Isso é muito grave e vemos isso se agravando com a Lei Aldir Blanc [lei que discorre sobre repasses para centros culturais e editais]. Não existe, ainda, um levantamento oficial. São 22 lugares, 22 identidades. Cruzeiro do Sul, por exemplo, não tem nada a ver com Rio Branco – e não tem mesmo, já vivi nos dois lugares e posso falar isso com conhecimento de causa.

O que poderia ser diferente?

É muito importante a gente perceber qual a necessidade dos fazedores de cultura e dar acesso à elas de políticas públicas, sim! O Estado é responsável por tudo aquilo que deixou de fazer. Cultura não é só arte. Cultura é modo de pensar. Ter cultura e fomentar cultura é importante e atualmente isso deixa a desejar. Não vemos missão.

Mais sobre Camila Cabeça

Nascida em Belém do Pará, radicada no Acre há 18 anos. Graduanda do curso de Artes Cênicas – licenciatura em Teatro, na Universidade Federal do Acre (UFAC), Camila Cabeça desenvolve projetos com música, canto e dança em escolas desde o ano de 2006.

Pesquisadora das culturas populares, da cantoria, produtora cultural e flerta com a comunicação. Seu trabalho se volta para a educação patrimonial, com a utilização da linguagem da dança, da música e do lúdico infanto juvenil.

Criadora do método corporal carimbó para o despertar do corpo, realizou vivências e experiências com no seu método no Acre, em diversas instituições desde escolas a fundações culturais. E em 2015, realizou uma residência Artística na cidade do Rio de Janeiro, onde junto com outros artistas acreanos, cantou com João Donato no Beco das Garrafas e realizou o mesmo show no Leviano, na Lapa. Aproveitando a sua estadia, ministrou aulas de carimbó com o seu método corporal em diversos lugares e ocasiões: no baile de carimbó com o DJ Mam e Julia Vidal, e foi dançarina e professora de dança do grupo do Silvan Galvão. Ministrou a oficina no Coletivo Matuba UNIRIO, no Sesc Tijuca ( projeto Circulando na dança). Em 2016, a convite da UFF participou do Festival Nacional de Cultura Popular como palestrante e como oficineira e ministrou uma vivência no Instituto Municipal de Assistência à saúde Nise da Silveira. Na cidade de São Paulo, ministrou oficina no Centro Cultural do Butantã.

Retornando para Rio Branco, a partir da tecnologia da afrobetização, a artista desenvolveu projetos em mais de 10 escolas, na cidade de Rio Branco, com o projeto “Sesc Concertos Didáticos”, com o show “E venha forte que o batuque é do Norte: erês, mirins e curumins”. em 2018, tendo alcançado mais de 1500 crianças na comunidade escolar.

Realizou o baile infantil durante a programação da prefeitura de Rio Branco, no carnaval em 2019, e no mesmo ano, alcançou mais 800 crianças e alunos do projeto aprovado pelo edital de patrimônio cultural , do município de Rio Branco, em várias escolas além do Centro de Ensino Especial Dom Bosco, a partir do espetáculo, com o show “E venha forte que o batuque é do Norte: erês, mirins e curumins uma ferramenta de afrobetização e inclusão”. Tendo obtido êxito e crítica positiva que alavancaram a perspectiva da afrobetização e da inclusão. Em setembro realizou em rede com a Campanha carimbó do meu Brasil, IPHAN Acre e Fundação Garibaldi Brasil a Mostra de filmes de carimbós, na ocasião da comemoração do dia que o carimbó se tornou patrimônio cultural imaterial do Brasil, dia 11 de setembro de 2019 . Em novembro de 2019, ministrou oficina de carimbó no evento Pará Ler, nossa festa literária e participou como palestrante da roda de conversa União pela Raiz, uma realização do governo do Estado do Pará com a curadoria do movimento Carimbó do meu Brasil. No Carnaval de 2020, realizou O Baile Folia das lendas, onde realizou oficina de danças e a festividade no Caps Náuas, consolidando uma parceria que já acontecia com oficinas de dança, desde 2018,na cidade de Cruzeiro do Sul, na região do Juruá no Acre.

Atualmente, realiza as #carimbólives, com aulas online de carimbó e também as Lives Nossos Universos, onde recebe uma diversidade de convidadas e convidados para uma troca de conversas.

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