Item tradicional no prato dos acreanos, a carne bovina tem registrado, nos últimos meses, elevação atípica nos preços. De acordo com o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Acre (Sindicarnes), o motivo é a redução de abates ocasionada pela evasão de rebanhos para outros estados.
“Frigoríficos e matadouros não estão conseguindo bois para matar. Tem dias que os estabelecimentos ficam sem abates porque não acham gado, e quando encontram não é a mesma quantidade que se tinha antes”, informou um
representante do sindicado. De acordo com ele, as indústrias têm trabalhado com 50% da capacidade.
Com menos gado abatido, os frigoríficos, para evitar prejuízos, cobram das casas de carne um preço maior pelo arroba bovino. Os mercados, por sua vez, repassam o preço ao consumidor, que é quem paga a conta final de todo o processo.
O empresário Carlinhos Moura é proprietário de duas casas de carne situada na Sobral e no Calafate. Ele explica que só na semana passada houve dois aumentos no preço do produto. Na quinta-feira (2), ele pagava R$ 160 pelo arroba. Em 48 horas, o preço subiu para R$ 170.
Além disso, em dois meses o preço do quilo da canela subiu 60% no seu estabelecimento, saltando de R$ 4,99 para R$ 7,99. “Os consumidores reclamam porque não têm condições de comprar. E isso prejudica a gente também, que deixa de vender. É um efeito cascata cuja tendência é continuar subindo ainda mais”, disse.
Márcio da Silva é dono de uma casa de carne no Esperança e amargou diminuição de 50% das vendas em seu estabelecimento por conta da alta nos preços. “O cliente reclama muito”,disse.
Além disso, ele explica que houve aumento na concorrência. A abertura de novas casas de carne aliada à redução do número de animais abatidos, tem, segundo ele, diminuído a oferta, o que colaborou para o encarecimento. “O preço da carne por aqui teve um aumento médio de 30% desde 2018”, lamenta.
Evasão de gado
Tanto Carlinhos Moura quanto Márcio da Silva concordam que a saída de gado do Acre para outros estados é uma das principais causas do problema. Boa parte da evasão acontece de forma irregular e é facilitada pela ausência de endurecimento da fiscalização.
Alguns transportadores utilizam, por exemplo, rotas alternativas para levarem o gado e não pagarem os tributos sobre a circulação. Além disso, há denúncias de expedição de guias falsas.
Carlinhos Moura denuncia que muitos obtêm liminar judicial para levar o produto para fora sem passar pelos trâmites devidos, deixando de pagar sequer o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
“Os bezerros podem sair do Acre sim, mas não de forma descontrolada. É preciso haver um escalonamento para que isso aconteça”, disse.
Os dados de 2016 a 2019 avaliam um decréscimo no abate do primeiro ao quarto trimestre de cada ano. O Estado saiu da marca de 453.595 gados abatidos em 2016 para 416.498 em 2019. Os dados são do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal.