Cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos, realizaram os primeiros registros de anticorpos humanos ligados à proteína spike do novo coronavírus. Essa estrutura, também chamada de espícula, é usada pelo mircorganismo para infectar nossas células. A pesquisa, realizada com aparelhos de microscopia digital, foi publicada no fim de junho no periódico científico Cell e promete ajudar no combate à Covid-19.
Quando nosso corpo entra em contato com um patógeno, o sistema imunológico toma diversas providências para combater o microrganismo invasor. Uma dessas medidas é a criação de anticorpos neutralizantes, cuja função é “grudar” em alguma parte do patógeno e impedí-lo de seguir ser curso de replicação.
Para a nova pesquisa, os cientistas utilizaram o sangue de pacientes que tiveram o novo coronavírus e se recuperaram. Na análise eles encontraram diversos tipos de anticorpos que se ligam a partes variadas do Sars-CoV-2, mas notaram que, na maioria dos casos, eles se o local de ligação era a proteína spike.
“Pelo que sabemos, é a primeira vez que uma equipe cria imagens de uma mistura de anticorpos purificados do sangue humano após uma infecção viral para visualizar os alvos desses anticorpos circulando no indivíduo recuperado”, disse Christopher Barnes, coautor do estudo, em comunicado.
Os cientistas focaram em dois anticorpos que se ligam ao chamado domínio ligante ao receptor (RBD, em inglês) da proteína spike, pois ele é essencial para viabilizar a conexão entre vírus e células hospedeiras. O RBD, por sua vez, tem duas configurações: “para cima” e “para baixo”, e as imagens feitas por Barnes e seus colegas são referentes ao segundo tipo.
“Saber quais regiões do Sars-CoV-2 são particularmente vulneráveis a anticorpos é importante para o planejamento de vacinas”, explicou Barnes. “E saber quais classes de anticorpos são mais eficazes pode nos ajudar a projetar melhores terapias de anticorpo.”
Os pesquisadores também descobriram que o anticorpo neutralizante se agarra ao RBD, sobrepondo-se à parte da proteína que permitiria sua ligação com a célula hospedeira. É dessa forma que o anticorpo bloqueia a proteína spike e impede a atividade viral.
Segundo Pamela Björkman, que integrou o time de pesquisadores ao lado de Barnes, uma constatação interessante é que o anticorpo, embora fortemente neutralizante, não evoluiu para uma ligação ideal à proteína Sars-CoV-2. “Isso sugere que esses tipos de anticorpos podem não ser difíceis de induzir no corpo de uma pessoa por meio de uma vacina”, afirma.