25 de abril de 2024

Duro de matar: Pedro Valério resiste a ‘avalanche’ e se mantém forte no PSL

O enredo da filiação do vice-governador Major Rocha ao PSL teve final feliz para quase todo o elenco, inclusive para o presidente estadual da sigla, Pedro Valério, que, em razão do posto que ocupa, acabou ganhando um dos papeis de destaque na trama.

Interesses alheios ao PSL local vieram de todos os lados e perturbaram a calmaria vivida pela legenda até duas semanas atrás. Partiram, basicamente, de Rocha, do pré-candidato a prefeito de Rio Branco Minoru Kinpara, do PSDB e da presidência nacional do partido de Valério.

Coube ao dirigente administrar esses interesses, sem deixar de lado o seu papel na trama: o de porta-voz da militância pesselista. Se Valério for o mocinho dessa história, o enredo concluído nesta quinta-feira (2), com a filiação do ex-tucano Rocha, ganha ares de “Duro de Matar”.

Valério e o deputado federal pesselista Junior Bozzella, de São Paulo / Foto: Cedida

Isso porque o dirigente continua firme e forte no partido e manteve o respeito da militância que ajudou a formar desde que assumiu a direção da legenda, em março de 2018, no auge da onda bolsonarista. “Antes, o PSL era um partido de aluguel e mal existia”, lembra.

Para apimentar ainda mais a trama, os momentos finais do embate que travou coincidiu com o fim de sua direção à frente do partido por questões estatutárias. Porém, Valério, que no começo não descartou a possibilidade de deixar o PSL diante da filiação de Rocha, não só continuou na agremiação como teve sua presidência renovada para o sexto mandato consecutivo.

Enredo

Mesmo após o final feliz, ele mantém a posição de que foi Major Rocha quem procurou o presidente nacional da sigla, Luciano Bivar, para oferecer sua filiação ao PSL, como disse na live semanal feita no Facebook nesta sexta (3), um dia após o capítulo final.

Luciano Bivar, presidente nacional do PSL / Foto: Arquivo

A ideia de ganhar, do dia pra noite, o vice-governo de um estado, quase que de mão beijada, foi tentadora demais para Bivar. No dia 23 de junho, o dirigente nacional ligou para o colega de partido e pediu que ouvisse as propostas do major, que tinha pressa.

“A gente se reuniu nessa mesma data e ele queria se filiar no dia seguinte. Adiantei que isso causaria um choque no partido e que precisava ouvir nossa militância”, informou Valério.

Entre a ligação de Bivar pela manhã e a reunião com Rocha à noite, Valério recebeu, na sede do PSL, a visita de cortesia do pré-candidato do PSDB à prefeitura de Rio Branco, Minoru Kinpara. “Ele veio falar da expectativa para abrir diálogos em busca de uma aliança com a gente”.

Essa aliança acabou concretizada com a ida de Rocha ao PSL dez dias depois. Favorito nas pesquisas de intenção de voto, Kinpara estava isolado em alianças e precisava de apoio. A ajuda não viria dos partidos que formam a base do governo, uma vez que nenhum deles demonstrou intenção de abrir mão de suas pré-candidaturas para formar chapa com o tucano.

O PSL, que já havia lançado o empresário Fernando Zamora, também não abriria. Para que isso acontecesse, seria preciso uma engenharia política ao estilo de Major Rocha.

Major Rocha: ontem tucano, hoje pesselista / Foto: Arquivo

O ex-militar foi filiado por mais de 12 anos no PSDB e saiu sem romper com o partido. Enquanto tucano, ele conquistou mandatos de deputado estadual, federal e vice-governador. Sua irmã, a deputada federal Mara Rocha, segue na legenda como uma das principais lideranças.

Logo após a filiação, Rocha ganhou o comando do diretório municipal do PSL e vai ajudar a definir qual pesselista será o vice de Minoru. De acordo com Valério, quem está no páreo são os empresários Fernando Lage e Celestino Bento e o jornalista Rogério Wenceslau, além do coronel Ulysses Araújo, embora este tenha negado pretensões de se candidatar.

A aliança proporcionou a Minoru mais tempo de televisão e a fatia do PSL do fundo partidário.

Sacrifício

No entanto, o apoio do PSL a Minoru teve um custo em Rio Branco. O pré-candidato Fernando Zamora precisou abdicar e deve deixar a sigla. O empresário foi o que teve o final infeliz nessa história.

Zamora teve a pré-candidatura implodida / Foto: Arquivo

O pesselista recebeu a notícia de que a presidência nacional do partido queria a ida de Rocha, seguida do apoio à outra pré-candidatura, quando estava lutando pela vida em São Paulo. Ele a família foram acometidos pela covid-19 e o empresário precisou se internar na capital paulista.

“Nós já tínhamos nosso pré-candidato e eu não poderia jamais ventilar uma aliança com outro sem conversar com o Zamora antes”, lembrou Valério. Na live gravada na sexta (3), ele homenageou o colega e disse se tratar de um grande nome, embora reconheça que a pré-candidatura não decolou.

Tanto Zamora como os filiados pesselista reprovaram a investida do Major Rocha. Assim que proposta, a filiação do vice-governador foi rechaçada por unanimidade.

Autointitulada ideológica no campo da direita, a militância do PSL acusava Minoru de ter veia esquerdista. O ex-reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac) já foi presidente do PT e candidato derrotado ao senado pela Rede Sustentabilidade, partido criado pela ex-petista Marina Silva.

O “comunista” Minoru Kinpara vai dividir palanque com o partido que elegeu Bolsonaro / Foto: Reprodução

Na semana passada, Valério disse que falou para Rocha que sua filiação seria uma honra, mas que o problema eram os desdobramentos. “Somos um partido liberal e conservador. Minoru é uma boa pessoa, mas sua trajetória política é toda na esquerda. Ele diz que não tem mais viés comunista. Isso pode até ser verdade, mas as pessoas não aceitam isso com facilidade porque sabem que essa transição não é tão rápida assim”, disse, na época.

Enfim, a paz

A vinda do deputado federal pesselista Junior Bozzella (SP), a mando do presidente nacional Luciano Bivar, acalmou os ânimos de ambos os lados. Após intenso diálogo, ficou acordado que Rocha iria para o PSL e ficaria responsável pela campanha do partido em Rio Branco.

Valério, como já dito, se manteve na direção estadual e coordenará as 14 pré-candidaturas do interior, nove para prefeito e cinco para vice.

“Depois da visita do Bozzella, conversei com o Rocha e encontrei um homem mais sereno, sóbrio e ponderado. O diálogo existe para evitar as guerras. Temos agora um vice-governador e a vinda dele já coloca automaticamente o PSL na linha de sucessão ao governo e com mais força para 2022”, disse o dirigente.

Após longa novela, Rocha chega ao PSL / Foto: ContilNet

“A paz passou a reinar. Agora é momento de superar as ofensas, limpar o coração e seguir em frente. Seria insano da minha parte me rebelar contra o presidente do meu partido, a quem eu devo muito pela confiança depositada em mim ao longo desses anos todos. O bom senso prevaleceu de ambos os lados. Assunto encerrado”.

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