SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Aposentada das passarelas há cinco anos e considerada a principal modelo do mundo, Gisele Bündchen completa, nesta segunda-feira (20), 40 anos. Recentemente, ela se mudou para a Flórida, após o marido, o jogador de futebol americano Tom Brady, 42, assinar contrato com Buccaneers. Eles moraram por anos em Massachusetts -quando Brady jogava pelo New England Patriots-, com os dois filhos, Benjamin, 10 anos, e Vivian, 7, além do enteado John Edward, mais conhecido como Jack, 12.
Além de uma vida familiar reservada, a primeira übermodel do mundo (termo alemão designado para Gisele quando ela tinha 18 anos, para dizer que ela estava ‘acima de todas’) deixou um legado inquestionável na moda, mas, ainda, se destaca em diversas causas ambientais, como a defesa da Amazônia, e no apoio a instituições de caridade, como Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras
.”Ela não é só uma modelo que vai à passarela representar a marca, vai além disso. Estudamos Gisele como boa profissional, mas também como uma importante figura pública e formadora de opinião”, afirma Laura Nobrega, coordenadora do bacharelado em moda pelo Complexo Educacional FMU (Fiam-Faam).
A especialista explica porque a expressão übermodel foi usada para designar a modelo gaúcha. “Gisele surgiu como uma divisora de águas. Víamos diferentes estereótipos. Na década de 1990, era um modelo andrógeno.
A brasileira surge como uma quebra desse padrão”, diz a especialista em moda.Antes de se tornar globalmente conhecida, Gisele teve uma vida pacata em Horizontina, no interior do Rio Grande do Sul, onde nasceu em 20 de julho de 1980 -cinco minutos depois de Patrícia, sua irmã gêmea. Seu sonho de adolescência era se tornar jogadora de vôlei, mas foi atraída para a profissão que a consagrou ainda muito jovem.Foi por insistência de sua mãe, Vânia Nonnenmacher, que Gisele começou a trilhar seu caminho na passarela. Ela chegou a ouvir muitos “nãos” por ser “muito alta”, “magra”, “nariguda” e “cabeçuda”.
“Ela foi importante, pois foi uma das precursoras ao trazer essa normalidade para a passarela”, afirma Nobrega .Aos 14 anos, quando se para São Paulo, sua carreira decolou. Participou de desfiles Fashion Week em Nova York, Ibiza e Londres. Logo, ela estava estampada nas capas das revistas consideradas as bíblias da moda, como Vogue, Elle e Rolling Stone.Apelidada pela imprensa de “queridinha fashion”, ela logo se tornou a modelo mais disputada e bem paga do planeta. A consagrada revista New York que, segundo publicou o portal UOL, em 1999, destaca que Gisela encarna a top model do fim do milênio.
Em 2000, a revista de música Rolling Stone estampou a modelo na capa nomeando-a como “A garota mais bonita do mundo”.A gaúcha inovou o mundo da moda de diversas formas, incluindo o caminhar na passarela, o “catwalk”, com a famosa paradinha lateral, sua marca registrada. “Ela trouxe coisas diferentes para a passarela quando as modelos não tinham muita iniciativa e liberdade. Gisele é muito natural e chama a atenção pelo carisma”, diz a especialista.Com tanta exposição, Gisele logo chamou a atenção de Hollywood e ela se aventurou como atriz nos filmes “Táxi” (2004), no papel da sensual vilã Vanessa, atuando com Jimmy Fallon e Queen Latifah, e fez uma participação especial em “O Diabo Veste Prada” (2006) como Serena, ao lado de Meryl Streep e Anne Hathaway.
NASCE A ATIVISTA
A consciência ambiental deu seus primeiros passos em 2002, após ativistas da organização Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais) invadirem o desfile anual da marca de lingerie Victoria’s Secret, enquanto a brasileira estava na passarela, com cartazes “GIsele: fur scum” (Gisele: escória de peles, em tradução livre).Um coração verde brotou na modelo gaúcha. Gisele frequentemente se manifesta em defesa da Amazônia. Ela se posicionou contra as queimadas na região ano passado e criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quando ele anunciou que unificaria os mistérios do Meio Ambiente e da Agricultura.
“Dois órgãos de imensa relevância nacional e que têm agendas próprias, e por vezes, incompatíveis. A natureza é o nosso bem mais valioso na Terra, e preservar o meio ambiente é essencial para o futuro dos nosso filhos. Por favor, permita que não retrocedamos décadas de luta pelas florestas”, disse à época.No episódio de 2002, Gisele namorava o ator norte-americano Leonardo DiCaprio e, com ele, chegou a visitar uma reserva indígena no Xingu, no Mato Grosso. O assunto virou um dos mais comentados no Twitter na semana passada, quando internautas “descobriram” que eles haviam sido um casal por cinco anos, entre 2000 e 2005.
MUDANÇAS DE HÁBITO
A carreira de Gisele por pouco não foi interrompida: ela foi diagnosticada com síndrome do pânico. Quando tinha 23 anos, o excesso de trabalho a fez ter seguidas crises. Em uma delas, inclusive, ela afirma que pensou em se suicidar.”Não conseguia respirar dentro do meu próprio apartamento”, relembrou em rara entrevista concedida ao Conversa com Bial (Globo), em 2018. “Eu fui para fora para conseguir respirar. Morava no nono andar, e tinha um deque que ficava basicamente de frente para o rio. E naquele momento eu pensei: ‘E se eu pular?’.”Para superar o problema, a modelo decidiu mudar seus hábitos e incluiu a prática do ioga e meditação na rotina.
“Em três meses, eu nunca mais tive um ataque de pânico e nunca mais parei de praticar”, disse a Bial. “Aquilo que poderia ter acabado com a minha vida me deu uma nova vida.”Essa também foi uma forma de superar o hábito de fumar. “Comecei a fumar dos 17 anos até os 23. Parei porque comecei a sentir problemas de saúde. Tive que fazer mudanças, mudei minha vida completamente, parei de tomar café, cortei açúcar, estava com muita ansiedade. Foi uma parte bem difícil na minha vida”, disse ao Fantástico, em 2015, horas antes de seu último desfile, em abril daquele ano, quando se aposentou das passarelas no São Paulo Fashion Week.A modelo se emocionou no fim do evento.
“Quero muito estar comigo mesma, me conhecer mais, aproveitar meus filhos. Eles crescem rápido demais. Tenho paixão por criança e sempre digo ao meu marido que quero tomar conta de muitas crianças. Já tenho três, dois que eu fiz e um que ganhei de brinde”, brincou, citando Jack, filho do jogador de outro relacionamento.Apesar de aposentada das passarelas, Gisele Bündchen desfilou na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, no Maracanã. Ao som de “Garota de Ipanema”, um clássico de Tom Jobim, ela andou por uma plataforma de mais de 120 metros. “Esta é com certeza a passarela mais longa que eu já andei na minha vida e, de longe, com a maior quantidade de pessoas assistindo, por isso é um pouco estressante, devo dizer”, comentou à época.
Em entrevista ao Fantástico deste domingo (19), Gisele brincou sobre o presente que pediu ao marido: “Pode me dar umas árvores, hein?”. O resultado foi que ele e outros amigos estão se mobilizando para apoiar e campanha organizada pela brasileira, que tem a meta de plantar 100 mil mudas em áreas desmatadas na região dos rios Xingu e Araguaia.A gaúcha pode seguir fora das passarelas, mas já está no imaginário popular e na linha de frente das questões sociais. A reportagem tentou contato com a modelo, porém sem sucesso.