Padres rebatem fake news de vereador que acusou o Papa de “cancelar bíblia”: “Ofensa”

O discurso do vereador N. Lima, na sessão remota da Câmara de Vereadores de Rio Branco, nesta quinta-feira (16), afirmando que o Papa Francisco teria a “intenção de determinar o cancelamento da bíblia”, “por considerá-la desatualizada”, foi duramente rebatido pelo clero na Diocese de Rio Branco.

A notícia ganhou notas compartilhadas nas redes sociais pelos religiosos Jairo Coelho e Massimo Lombardi – duas figuras de muita evidência na Igreja Católica.

Padre Jairo: “O senhor ofendeu a Igreja Católica”

“Não tem nem lógica! Anos e anos que a população do mundo inteiro vem seguindo a Bíblia Sagrada e de repente chega o papa, que se acha Deus, e quer mudar uma coisa escrita por Deus. Estou aqui muito revoltado e decepcionado com esse tipo de ação do papa”, declarou o parlamentar.

Em sua resposta, padre Jairo expressou “revolta, tristeza e decepção”, afirmando que N. Lima propagou Fake News e que o político, ao não averiguar a veracidade da informação que compartilha, não se importa com a população que o elegeu.

“Ao cumprimentar V.Exa., utilizo-me das suas palavras para manifestar a minha tristeza, revolta e decepção. A sua atitude irresponsável, ao propagar fake news contra o Papa Francisco, hoje, em sessão da Câmara Municipal de Rio Branco, transmitida ao vivo no youtube, revela que o senhor não se preocupa nem sequer em verificar a veracidade das informações que propaga, o que me dá o direito de pensar que o senhor também não se preocupa com a população que o elegeu”, escreveu o vigário.

“Caro vereador, acredito ser oportuno recomendar ao senhor que verifique melhor as informações antes de disseminá-las, sob pena de incorrer em crimes de injúria, calúnia e difamação, além, é claro, do crime de intolerância religiosa, previsto no artigo 208 do código penal. Não esqueça que o senhor deve ser o primeiro a zelar pelas liberdades e, sinceramente, sua postura vai na contramão dessa sua obrigação”, continuou.

No mesmo texto, Jairo acrescenta ainda que N. Lima não ofendeu apenas o Papa, mas toda a Igreja Católica.

“Sugiro que o senhor ao menos tenha a coragem e a dignidade de se retratar publicamente, pois o senhor não ofendeu apenas o Papa Francisco, o senhor ofendeu a Igreja Católica. O senhor ofendeu mais da metade da população do Acre. O senhor ofendeu milhões de brasileiros. O senhor ofendeu bilhões de pessoas no mundo inteiro. Não é vergonhoso admitir o erro, sobretudo, para quem sem diz tão cristão e defensor da moral e dos bons costumes”, destacou.

Padre Massimo: “Perdão, Francisco”/Foto: Reprodução

Além de Jairo, Massimo Lombardi também rebateu a fala do político.

“Desculpe, Francisco, se um vereador do Acre deu uma mancada tão feia hoje lhe ofendendo com mentiras divulgadas num Fake News de anos atrás. Nós não acreditamos em FAKE NEWS e ficamos envergonhados por estarmos mal representados neste Município. Pedimos sua benção pelo que nos preocupa mais, que é a pandemia. Forte abraço”, complementou.

Confira a carta de Jairo Coelho, na íntegra.

TRISTE, REVOLTADO, DECEPCIONADO

Caro vereador N. Lima,

Ao cumprimentar V.Exa., utilizo-me das suas palavras para manifestar a minha tristeza, revolta e decepção. A sua atitude irresponsável, ao propagar fake news contra o Papa Francisco, hoje, em sessão da Câmara Municipal de Rio Branco, transmitida ao vivo no youtube, revela que o senhor não se preocupa nem sequer em verificar a veracidade das informações que propaga, o que me dá o direito de pensar que o senhor também não se preocupa com a população que o elegeu.

Nobre vereador, talvez o senhor tenha esquecido qual é o seu papel, por isso, permita-me lembrar-lhe: enquanto vereador, o seu papel é legislar e fiscalizar a administração municipal e, o seu poder para tal se limita ao município de Rio Branco. Portanto, diferente do que o senhor vociferou, a Câmara Municipal não é o lugar adequado para espalhar mentiras e atacar pessoas, muito menos para manifestações preconceituosas, discriminantes, fundamentalistas e fanáticas.

Caro vereador, acredito ser oportuno recomendar ao senhor que verifique melhor as informações antes de disseminá-las, sob pena de incorrer em crimes de injúria, calúnia e difamação, além, é claro, do crime de intolerância religiosa, previsto no artigo 208 do código penal. Não esqueça que o senhor deve ser o primeiro a zelar pelas liberdades e, sinceramente, sua postura vai na contramão dessa sua obrigação.

Excelência, estamos no meio de uma pandemia. Não sei se o senhor tem acompanhado (ou talvez esteja muito ocupado procurando notícias falsas), mas todos os dias, pessoas estão morrendo aqui em Rio Branco, vítimas da COVID-19; milhares de pessoas estão passando necessidade, sem ao menos ter o que comer; centenas de pequenos empresários fecharam seus negócios; muitos bairros não têm infraestrutura mínima para garantir que as pessoas possam ao menos fazer uma higiene adequada, sem falar em tantos outros problemas que atingem o nosso povo. E o senhor preocupado em atacar o Papa, com base em notícias falsas, chamando-o de anti-Cristo? Sinto muito, mas isso é fanatismo religioso ou muita ignorância mesmo.

Sugiro que o senhor ao menos tenha a coragem e a dignidade de se retratar publicamente, pois o senhor não ofendeu apenas o Papa Francisco, o senhor ofendeu a Igreja Católica. O senhor ofendeu mais da metade da população do Acre. O senhor ofendeu milhões de brasileiros. O senhor ofendeu bilhões de pessoas no mundo inteiro. Não é vergonhoso admitir o erro, sobretudo, para quem sem diz tão cristão e defensor da moral e dos bons costumes.

E, já que o senhor se diz tão cristão, indico que o senhor leia a 2ª. Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, na qual ele afirma: “Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada. Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a estas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio pão” (2Ts 3,11-12). Portanto, vereador, trabalhe em favor do povo, pense em alternativas que possam beneficiar a população, cumpra com a sua obrigação de legislador e fiscal, pois é para isso que nós lhe pagamos.

É, ilustre vereador, realmente é muito triste, muito revoltante, muito decepcionante ter que ouvir tudo o que ouvimos de alguém que foi eleito com a missão de propor leis que torne a sociedade mais justa, mais fraterna e mais humana. E, já que o senhor não está cumprindo com o seu papel, eu estou cumprindo com o meu de cidadão e fiscal dos nossos representantes.

Pe. Jairo Coelho

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