Em algum momento da vida, você já deve ter ouvido alguém se ‘gabar’ em voz alta sobre a própria vida sexual afirmando ser “viciado em sexo”. Mas o que muitas pessoas não sabem é que o vício em sexo, também conhecido como compulsão sexual ou impulso sexual excessivo, é uma doença séria que traz uma série de consequências negativas para a vida de uma pessoa.
Masturbação em excesso
A psicóloga e sexóloga em formação Neyla Siqueira explica que o vício acontece quando o indivíduo não consegue ter controle sobre o desejo compulsivo pela prática sexual. E isso não se manifesta somente na transa em si. “Pode ser pela prática constante da masturbação, a realização recorrente de fantasias e o vício em pornografia”, ilustra a especialista.
Ansiedade
Neyla explica que o vício em sexo é uma doença pois trata-se de um comportamento compulsivo e obsessivo. Ele pode se manifestar por causa da ansiedade, traumas passados e uso de substâncias. “Quando a pessoa é viciada em sexo, há um aumento do número de transas, de consumo de pornografia. A pessoa gasta muito dinheiro, seja com filmes, seja com produtos eróticos ou profissionais do sexo. Ela tende também a se colocar em situações de risco para conseguir esse sexo”, explica Neyla.
Mas a ânsia por sexo só é satisfeita momentaneamente. “A pessoa não sente prazer em fazer, mas em ir atrás. É um alívio momentâneo, mas a ansiedade volta depois”, acrescenta a psicóloga.
Efeitos negativos
A compulsão sexual traz efeitos negativos para a vida social, afetiva e profissional do adoecido. Por causa do vício, a pessoa não tem o mesmo contato social com a família e os amigos, e se isola para se dedicar às suas práticas em busca de sexo. “Ela pode deixar de ir em um aniversário porque está se masturbando, ou deixar de sair com os amigos porque está vendo pornografia”, exemplifica Neyla.
O oposto também acontece: o compulsivo sexual pode desenvolver uma vida social exagerada, não pela diversão, mas para buscar parceiros sexuais que possam satisfazê-lo. É nesse momento que a pessoa pode se expor a riscos como sexo sem proteção ou com desconhecidos.
Vínculos afetivos fragilizados
Já a vida amorosa é um dos aspectos que mais sofrem com o vício em sexo. “Os vínculos afetivos ficam muito fragilizados. É muito complicado acompanhar uma pessoa com esse comportamento”, afirma a psicóloga. Como o parceiro não consegue acompanhar o ritmo e o interesse do compulsivo sexual, é comum que venham as brigas e traições.
No âmbito profissional, a ânsia constante por sexo pode prejudicar o desempenho, a concentração e o compromisso com o trabalho. “Você pode se atrasar para trabalhar porque teve noites de sexo e farra prolongados. Pode abandonar o trabalho no meio do expediente para se masturbar no banheiro para aliviar essa compulsão. Ou mesmo no auge da compulsão, sair do trabalho para transar e não conseguir voltar”, conta Neyla.
Tratamento
O tratamento da compulsão sexual é feito por uma combinação de medicamentos e terapia, explica a psicóloga. “O processo de psicoterapia vem para ajudar esse paciente entender as causas dessa compulsão, estabelecer formas de como lidar com esse comportamento, assim como melhorar a saúde sexual, com exercícios, práticas e acompanhamento especializado”, diz Neyla.
A profissional enfatiza que esse tratamento não deve ser feito de modo leviano: a busca por ajuda especializada é fundamental.
Vício em sexo tem cura?
A psicóloga explica que, como todos os tipos de compulsão, ele pode ser controlado. “Ele fica adormecido, sob controle. São muitos os tipos e causas da compulsão, por isso o ideal é que elas sejam tratadas e controladas para melhorar a qualidade de vida desse indivíduo”, reforça.
O autodiagnostico da compulsão sexual pode ser complicado, pois a doença começa de forma discreta, vai aumentando e então fica sem controle. Quando a pessoa notar que o sexo se tornou algo banal, o desejo se tornou incontrolável, acabou de transar e já quer transar de novo, mas sem sentir prazer, só para aliviar a ânsia e se tem se colocado em situações de risco para conseguir sexo, esses são sinais de que é preciso buscar ajuda médica.
Romantização
Para Neyla Siqueira, é importante desmistificar a ideia do vício em sexo como algo positivo, assim como reconhecer a compulsão como a doença que é.
“Precisamos entender que ter uma vida sexual agitada, praticar sexo com regularidade, ter fantasias sexuais e sentir prazer não é vício em sexo. O homem extremamente viril, que não nega fogo e transa com todo mundo não é viciado em sexo. Aquela mulher sexy e insaciável também não é viciada. São apenas pessoas que gostam muito de transar”, explica.
“Não podemos ter a imagem romântica e sexual que o vício é uma coisa boa. É uma doença capaz de destruir a vida de alguém”, finaliza.