Com o retorno gradual das viagens, mesmo sem uma previsão real do fim da pandemia, muita gente ainda se sente insegura de voltar a andar de avião. Afinal, este ambiente fechado, com dezenas ou até mesmo centenas de passageiros confinados, é seguro?
Nos últimos tempos, companhias aéreas e fabricantes de aeronaves têm se esforçado para convencer os viajantes de que procedimentos de segurança sanitária e o uso de equipamentos de última geração são suficientes para diminuir ao máximo a contaminação pelo novo coronavírus. Especialistas, por outro lado, reforçam os riscos aos quais os passageiros estão expostos, mesmo no curto tempo de uma ponte aérea Rio-São Paulo.
Além de medidas como exigência do uso de máscaras desde a chegada ao aeroporto e suspensão do serviço de bordo em voos domésticos, companhias aéreas passaram a adotar um processo de higienização mais profundo das cabines entre um voo e outro, utilizando desinfetantes de padrão hospitalar, com borrifadores. Ou mesmo um aspersor eletrostático, uma espécie de pistola sanitizante, adotada pela americana Delta.
— Os procedimentos de higiene das cabines, que já eram muito rígidos, foram radicalizados com essa pandemia. O setor debateu muito e desenvolveu um protocolo que é válido tanto para voos domésticos quanto para os internacionais. Mas o que torna o avião a forma mais segura de viajar, efetivamente, são os filtros HEPA — defende o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.
O filtro em questão, cujo nome é uma abreviação para High Efficiency Particulate Air (Ar particulado de de alta eficiência, em tradução livre), presente em toda a frota brasileira, renova o ar da cabine em média a cada três minutos e é capaz de filtrar 99,9% dos microrganismos do ambiente, entre eles o Sars-CoV-2. A filtragem acontece de forma constante, com jatos de ar de cima para baixo, o que forçaria as partículas do vírus, por exemplo, a irem diretamente para o chão.
Outras ferramentas ainda estão em desenvolvimento. A fabricante Boeing, por exemplo, trabalha numa tecnologia que permite instalar lâmpadas UV, que matam 99,9% dos microrganismos, nos banheiros de suas aeronaves. Assim, o espaço seria purificado logo após cada uso. A empresa também estuda bastões com essas lâmpadas bactericidas que possam ser usados manualmente pelos comissários de bordo, quando os aviões estiverem vazios.
Na Aiirbus, há estudos sobre o uso de tecidos que, além de serem mais fáceis de limpar, teriam a capacidade de dissolver víirus e germes logo no primeiro contato. A companhia francesa recentemente lançou a campaha “Keep Trust In Air Travel”, para recuperar a confiança dos passageiros ao explicar o funcionamento dos filtros HEPA, presente em seus aviões desde 1994.
— Esse equipamento promove a troca de ar na cabine a cada dois ou três minutos, com mais frequência do que em salas cirúrgicas, onde filtros semelhantes são usados, mas que fazem a reciclagem total a cada dez minutos. Se pensarmos num escritório, por exemplo, essa renovação de ar acontece a cada 20 minutos. Isso é um dos fatores que tornam o avião o meio de transporte mais seguro no mundo pós-pandemia, — explica o presidente da Airbus para America Latina e Caribe, Arturo Barreiras.
Tudo isso, no entanto, não elimina por completo a chance de contaminação. Diferentemente do que acontece em viagens internacionais para destinos que exigem testagem PCR antes do embarque, o passageiro pode voar no Brasil sem saber se está levando o vírus consigo. E a proximidade com alguém infectado pode ser um grande perigo, alerta o infectologista Helio Bacha, do Hospital Albert Eisten.
— Voar certamente é mais seguro do que andar de ônibus ou metrô, pelo controle de ambiente que existe nos aviões. Mas tem o fato de ser um local fechado, com muita gente confinada e sem garantia de que todos vão usar máscara 100% do tempo — afirma o médico. — Enquanto não houver um distanciamento mínimo de 1,5 metro entre os passageiros, não dá para dizer que é seguro. Num ambiente de sardinha em lata, filtros especiais e procedimentos de higienização ajudam a diminuir o risco, mas não fazem milagre.