Mara Rocha cobra de Gladson Cameli uma fidelidade que parece faltar nela

O anúncio da filiação do governador Gladson Cameli ao PSDB na última quinta-feira (30) foi um terremoto de grandes proporções que mexeu com as estruturas políticas do Acre. O tsunami que sucede o evento já pode ser sentido e, como era de se esperar, começou no próprio ninho dos tucanos, que acordaram com a água nas canelas.

Mas ninguém se molhou mais que a deputada federal Mara Rocha, presidente licenciada do partido no Acre. Nas últimas horas, ela escreveu ao chefe do Executivo uma carta de boas-vindas em que dá várias bicadas, disfarçadas em tons amigáveis, com o intuito de mostrar ao governador quem manda.

A última frase da nota (“A casa aqui tem ordem, você vai gostar!”) sintetiza muito bem o teor da mensagem e anuncia uma possível guerra política de dar inveja à crise – já findada – que se instalou no PSL quando o irmão da deputada, Major Rocha, resolveu migrar para a sigla.

E é justamente esse episódio envolvendo o vice-governador que coloca em contradição a postura de Mara Rocha frente à ida de Gladson ao PSDB.

Na mensagem de boas-vindas, ela diz que os tucanos têm a fidelidade ao partido como dever. O argumento é um claro recado a Cameli de que suas intenções de levar o pré-candidato Minoru Kinpara à chapa de Socorro Neri, enquanto vice, vai encontrar muita resistência interna.

“Precisamos de um cabo eleitoral forte para apoiar todas as nossas candidaturas tucanas no estado, aliás quero afirmar que todas estão muito bem sacramentadas e firmes como uma rocha”, escreveu, com direito a um trocadilho com seu próprio sobrenome, uma tentativa de demarcar o território a ser adentrado por Gladson nos próximos dias.

E continua: “Destaco aqui a pré-candidatura de Minoru Kinpara à prefeitura de Rio Branco. Como presidente da sigla fico feliz de ter um cabo eleitoral forte com sua envergadura para balançar a bandeira dos nossos tucanos nos pleitos do interior e na capital”.

No entanto, o discurso da tal fidelidade tucana parece não se sustentar quando apregoado pela parlamentar, uma vez que circula informação de que Mara, assim como irmão, quase fez as malas para ir ao PSL. O próprio vice-governador chegou a admitir a possibilidade, em entrevista a um programa de TV local há cerca de um mês.

Dizem por aí também que a ex-jornalista é a menina dos olhos de Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, e que sua filiação ao partido, que já não estava descartada, agora seria apenas questão de tempo e de permissão jurídica, uma vez que os prazos para a troca já acabaram.

Quando o Major Rocha, então principal liderança tucana, se mudou para a ex-sigla do presidente Bolsonaro, em um processo semelhante ao que ocorre agora com Cameli – de cima para baixo -, Mara também não abriu o bico para levantar a tese da fidelidade que hoje cobra do governador recém-chegado. Não o fez porque estava tudo combinado.

A permanência dos Rocha no PSDB estava beirando o insustentável há tempos. É sabido no meio político que ambos não têm mais a simpatia da Executiva Nacional. Prova disso é que Mara sequer foi consultada pela presidência de seu partido sobre a ida de Gladson, que chega com o aval para mexer os pauzinhos do ninho.

É fato que o PSDB sai ganhando com a ida de Gladson. Entre um mandato a governo garantido – com grande possibilidade de reeleição – e uma prefeitura duvidosa, que sequer está perdida, é clara a escolha.

Se faltou combinar com as executivas locais, aí é uma questão interna que precisa ser resolvida entre tucanos de longa data. Em outras palavras: eles que se biquem.

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