Apesar do nome de imperador, o lateral rondoniense Carlos Magno, nascido em Porto Velho, no dia 29 de dezembro de 1955, acabou sendo conhecido no futebol pelo apelido de Pintão. De acordo com o personagem, a origem do apelido foi a mania dele de “andar sempre na pinta” (bem arrumado). Aí, como ele era alto, um dia alguém resolveu chamá-lo Pintão.
Já nas primeiras peladas, no final da década de 1960, num campinho denominado Lamaçal, atrás da sede do Bancrévea da capital rondoniense, Pintão se destacou pela boa técnica e pela força física. E então, daí para o seu primeiro time oficial, a base do Ypiranga, no início da década de 1970, foi só um instante. Ele chegou e já foi logo ganhando o título da categoria.
Alternando partidas na equipe juvenil e no time principal, logo o Ypiranga ficou pequeno para a bola redondinha de Pintão. Por conta disso, não demorou muito e ele se mudou para o Ferroviário, junto com o zagueiro Neórico, outro jogador que posteriormente fez história no futebol acreano. “O Ferroviário, naquela época, era o melhor time de Rondônia”, disse Pintão.
Ferroviário (RO) – 1973. Em pé, da esquerda para a direita: Zé Antônio, Idenil, Jordão, Pintão, Neórico e (…). Agachados: Reis, Carlindo, Dilson, Ubiraci, Da Silva e Vanginho. Foto/Acervo Carlos Magno.
“Foi um tempo muito bom aquele que eu passei no Ferroviário. Tive até a oportunidade de jogar um amistoso contra o Garrincha, que havia sido convidado para uma exibição pelo Moto Clube. Lembro como se tudo tivesse acontecido bem recentemente. O estádio Aluízio Ferreira lotado. Todo mundo queria ver o Garrincha. O jogo saiu um a um”, afirmou o ex-lateral.
A transferência para o Acre e um lance insólito
A transferência de Pintão para o Acre deu-se no primeiro semestre de 1974, depois de um torneio amistoso, realizado em Porto Velho, entre Ferroviário, Moto Clube e Atlético Acreano. O Ferroviário foi campeão e o lateral de chute potente chamou a atenção dos dirigentes do Galo, que andavam contratando jogadores de fora do Acre para formar o seu elenco.
Atlético Acreano – 1974. Em pé, da esquerda para a direita: Carlão, Pintão, Tidal, Mário Mota, Vale e Santiago. Agachados: Pitu, Bidu, Carioca, Said e Bolinha. Foto/Acervo Francisco Dandão.
O Atlético formou um time com vários craques para a temporada de 1974, entre os quais, além de Pintão, se destacavam nomes como o zagueiro Carlão (no segundo semestre foi embora para o Esportivo-RS), o goleiro Tidal, os atacantes Vanginho e Nirval e o armador Said. Mas não chegou nem às finais, que foram jogadas entre o Independência e o Rio Branco.
Atlético Acreano – 1977. Em pé, da esquerda para a direita: Adauto Frota (presidente), Paulão, Tidal, João Pereira, Pintão, Valdir e Duda. Agachados: Paulinho Pontes, Augusto, Manoelzinho, Pitico e Nirval. Foto/Acervo Manoel Rodrigues.
Seleção da Federação Acreana de Desportos – 1978. Em pé, da esquerda para a direita: Edson Ângelo (técnico), Ronivon (preparador físico), Ilzomar, Tadeu, Pintão, Cleiber, Paulinho Pontes, Mário Vieira, Deca, Pitico e Tião. Agachados: Nelson, Dadão, Irineu, Said, Duda, Carioca, Litro e Valdir. Foto/Acervo Francisco Dandão.
Atlético Acreano – 1978. Em pé, da esquerda para a direita: Henrique, Tadeu, Tidal, Pitico, Pintão e Paulão. Agachados: Chico, Guedes, Dadão, Valdir e Nelson. Foto/Acervo Eduardo Rodrigues.
Atlético Acreano – 1979. Em pé, da esquerda para a direita: Tidal, Pintão, Lécio, Tadeu, Jaime e Armando. Agachados: Pintinho, Paulinho Pontes, Manoelzinho, Pitu e Dodô. Foto/Manoel Rodrigues.
Seleção da Federação Acreana de Desportos – 1980. Em pé, da esquerda para a direita: Lécio, Chicão, Mário Sales, Pintão, Zé Augusto e Carlinhos Bigode. Agachados: Mário Vieira, Ely, Manoelzinho, Carioca e Pistolinha. Foto/Acervo Francisco Dandão.
Independência – 1982. Em pé, da esquerda para a direita: Milton, Deca, Pintão, Marroco, Aníbal e Lécio. Agachados: Rose, Salvador, Dadão, Ney e Neivo. Foto/Acervo Eduardo Rodrigues.
Atlético Acreano – 1986. Em pé, da esquerda para a direita: Carlinhos Magno, Pompeu, Jaime, Pintão, Ricardo e Xepa. Agachados: Amarildo, Neném, Zito, Manoelzinho e Anísio. Foto/Acervo Francisco Dandão.
Pintão permaneceu muitas temporadas no time celeste do segundo distrito, saindo apenas esporadicamente para jogar no Rio Branco (uma única partida) e no Independência (nos anos de 1982 e 1983). Mas voltou ao Galo para encerrar a carreira, em 1986, quando já estava trabalhando como funcionário público federal no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
No Atlético ele viveu grandes emoções e até alguns lances insólitos. Foi o caso do dia em que nocauteou um goleiro chamado Bilbao, do time boliviano The Strongest (La Paz). Jogo no estádio José de Melo. Dadão tocou uma bola “açucarada” para Pintão. Este bateu com extrema violência. O goleiro não teve nem tempo de se desviar. Ficou cinco minutos desmaiado.
Grandes parceiros e um time perfeito
Pintão disse que teve a sorte de jogar com craques excepcionais, tanto no Atlético quanto no Independência. Mas, no entender dele, os caras com os quais melhor se entendia dentro de campo eram Tadeu Belém, Dadão e Carlinhos Bonamigo. E quanto ao ponteiro que lhe dava mais trabalho, ele citou Paulinho Rosas. “O cara era veloz e habilidoso”, explicou o ex-lateral.
Sobre os melhores do futebol acreano, do tempo dele, Pintão escalou o seguinte time: Zé Augusto; Pintão, Neórico, Deca e Duda; Carlinhos Bonamigo, Tadeu e Dadão; Manoelzinho, Guedes e Julião. Mas citou ainda, “na condição de reservas, porém não menos importantes”, Paulão, Azeitona, Mário Vieira e Tidal. Melhores técnicos: “Té, Fuzarca e Ariosto Miguéis”.
Os maiores dirigentes para ele foram Elias Mansour, Adauto Frota, Rivaldo Patriota, Fernando e Flora Diógenes. “Todos esses eram apaixonados pelos seus clubes. E cumpriam à risca tanto os contratos quanto as palavras empenhadas. E no que diz respeito ao árbitro mais competente, Pintão não hesitou em citar o nome de José Ribamar Pinheiro de Almeida.
Atualmente morando em Fortaleza, a menos de cem metros do mar, até antes da pandemia Pintão seguia uma rotina de corridas matinais e trabalho na parte da tarde, na sede do INSS. “Tenho uma vida tranquila. Mas gostaria de destacar que sou muito grato ao Acre, lugar que me acolheu, onde nasceram os meus filhos e onde fiz os meus melhores amigos”, finalizou.