Um metro e trinta centímetros de altura e muitas histórias para contar. Lia Regina, mais conhecida como Dafne Anãzinha, lançou recentemente o livro “A Pequena Notável Dafne Anãzinha”, onde conta sua trajetória antes, durante e depois de trabalhar como garota de programa.
Em entrevista ao iG Delas, Lia contou um pouco da história e acontecimentos curiosos sobre a rotina do trabalho sexual. Abusada pelo pai na infância, a relação sexual para Lia Regina foi completamente afetada por este trauma.
“Só quando fiquei adulta percebi que não tive culpa do que aconteceu. O abuso interferiu demais nas minhas relações sexuais, pois desencadeou em uma obsessão por masturbação e também por ter um medo das pessoas se aproximarem de mim. Só perdi a virgindade com 23 anos”, conta.
Começo na prostituição
O começo no mundo do trabalho sexual veio por um acaso. “Eu comecei a ter encontros em uma casa famosa de swing de Curitiba e depois de um tempo comecei a cobrar para sair com as pessoas, basicamente para pagar a faculdade Direito”, diz.
Quem pensa que a família foi dura e entrou em conflito com Lia, está bem enganado. “Minha família aceitou numa boa, mas no começo senti que minha irmã mais velha restringiu um pouco do meu contato com minhas duas sobrinhas crianças. Penso que ela sentia que eu poderia incentivar, mas isso nunca ocorreu”, afirma.
Ela diz que na faculdade e no trabalho sexual não houve preconceito também. “Não sofri nada, tinha uma piadinha ou outra mas me dava bem com meus clientes e com a minha turma na aula de direito”, conta.
Dafne conta que dos mais de 600 clientes que teve, a maioria era de homens casados e infelizes no casamento. “Eram pessoas normais, que você olha no mercado e não pensa que na cama a pessoa faz coisas para se satisfazer de formas loucas. A maioria não fazia em casa porque as esposas não aceitavam certos tipos de fetiches. Uma vez um cliente me pediu para defecar em um prato para ele comer. Isso foi a coisa mais inusitada que me pediram”, conta.
Lia também conta que muitos famosos e inclusive atores globais procuram seus serviços. “Todos muito lindos, mas a maioria queria que eu fizesse inversão, que colocasse uma cinta com vibrador e que fizesse o papel do homem na relação sexual. Os famosos eram os que mais pediam coisas diferentes, estourar balão neles, fazer xixi neles, coisas desse tipo”, conta.
Apesar da exploração sexual de terceiros ser crime no Brasil, a prostiuição do próprio corpo é regularizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego por meio da Classificação Brasileira de Ocupações. Apesar da regularização, lugares que incentivam a prostituição podem ser punidos e condenados.
Pra Dafne, contudo, trata-se de um trabalho acolheu em um momento tenebroso da vida. “Estava com depressão e o carinho dos clientes, de comprar presentes, me levar para jantar e a sensação da melhora da autoestima me fazem agradecer pelo período que me prostituí”, conta.
Canal no Youtube e aposentadoria
Enquanto fazia programas, Lia Regina montou um canal no Youtube para falar sobre a época e as histórias. “Não era para ficar famosa, era para conseguir mais clientes, mas viralizei. Infelizmente a exposição na internet trouxe diversos comentários preconceituosos e danosos”, diz. Hoje aposentada da profissão e com o livro recém-lançado, Dafne espera que as pessoas entendam sua história, se emocionem, riem e até sintam raiva, mas tudo em uma leitura leve.
Assim como no clássico “Uma linda mulher”, Lia conheceu o amor da vida em um programa. “Ele me aceitou. Estou com ele há quatro anos e ele nunca jogou na minha cara isso. Foi um encontro incrível, só de bater o olho tinha certeza que ia ficar com ele, mas ele só me contatou depois de três meses. Saímos de novo, dessa vez na casa dele, depois disso nunca mais nos separamos. Sinto falta da conversa com os clientes, mas só disso. Meu marido me completa”, conta.