Entidades defendem Guia Alimentar Brasileiro após MAPA pedir ‘revisão urgente’ do documento

Entidades da Aliança pela Alimentação – que reúne associações, coletivos, movimentos sociais, entidades profissionais e pessoas físicas preocupadas em promover uma alimentação saudável da população – lançaram nesta quinta-feira (17) um manifesto em defesa do Guia Alimentar para a População Brasileira, depois de uma nota técnica do Ministério da Agricultura pedir a “revisão urgente” do documento.

O guia é considerado um marco para a alimentação saudável e apresenta um conjunto robusto de informações e recomendações sobre nutrientes, preparos e armazenamento dos alimentos, a fim de promover a saúde de pessoas, famílias e comunidades. Entre as orientações destaca-se que “alimentos in natura ou minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, sejam a base da alimentação.”

A primeira edição do Guia Alimentar para a População Brasileira foi publicada em 2006, com diretrizes oficiais para a alimentação da população. A versão final, disponibilizada em 2014, foi construída após um processo de consulta pública e um amplo debate por diversos setores da sociedade.

A Nota Técnica do Ministério da Agricultura faz críticas à classificação dos alimentos processados, e diz que “a classificação NOVA utilizada é confusa, incoerente, arbitrária e confunde o nível de processamento com a quantidade e tipos de ingredientes utilizados na formulação dos alimentos industrializados”. O documento diz ainda que “pesquisas demonstram que não existem evidências de que o valor nutricional e a saudabilidade de um alimento estejam relacionados aos níveis de processamento”.

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Entidades defendem Guia

Entidades ligadas à nutrição e alimentação saudável, porém, rebatem as críticas do Ministério da Agricultura. Segundo o manifesto, “a Nota Técnica apresenta um conjunto de argumentos superficiais ao Guia em mais uma das recorrentes tentativas de ocultar os impactos negativos que os alimentos ultraprocessados podem gerar na nossa saúde — contrariando um conjunto consistente de inúmeras evidências científicas produzidas por pesquisadores de instituições amplamente respeitadas não só no Brasil mas em todo o mundo”.

Em nota, o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) defende que “as justificativas apresentadas pela Nota Técnica se centram em críticas à classificação de alimentos utilizada pelo Guia Alimentar e à recomendação quanto a evitar o consumo de alimentos ultraprocessados.

Entretanto, tais críticas se resumem a afirmações não amparadas por qualquer evidência científica.” O Núcleo cita ainda mais de 400 estudos científicos indexados na base PubMed que utilizaram a classificação NOVA e o conceito de alimentos ultraprocessados.

A Associação Brasileira de Nutrição também se manifestou contra a nota técnica do Ministério da Agricultura, e em defesa do Guia. “O Guia Alimentar para a População Brasileira tem sofrido ataques desde o seu lançamento.

O último e preocupante veio com a recente Nota Técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, que pede a sua revisão e o descaracteriza, ignorando evidências científicas e reconhecimento internacional.

A ASBRAN, entidade técnico-científica, reafirma seu compromisso com a defesa da segurança alimentar e nutricional e sua luta contra os conflitos de interesses. Somos 100% Guia Alimentar para a População Brasileira!”.

A mesma visão é compartilhada pela Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar, (IBFAN – International Baby Food Action Network), uma das apoiadoras do manifesto. “Os argumentos não possuem evidências científicas e têm como objetivo ocultar os impactos negativos que os alimentos ultraprocessados podem gerar na nossa saúde”, diz, em post.

O que diz o guia: 10 Passos para uma Alimentação Adequada e Saudável

Em resumo ao guia de 158 páginas, as entidades que elaboraram o material reuniram 10 passos para uma alimentação adequada e saudável. Veja item a item:

1 – Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação;
2 – Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias
3 – Limitar o consumo de alimentos processados
4 – Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados
5 – Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia
6 – Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados
7 – Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias
8 – Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece
9 – Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora
10 – Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais

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