Um longo estudo feito pelo Instituto da Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que as supostas reações adversas causadas pela vacina contra o HPV em meninas no Acre a partir de 2015 foram, na verdade, um surto de estresse decorrente do medo da imunização.
O problema é conhecido cientificamente como crise psicogênica em massa e foi uma ansiedade contagiosa provocada, sobretudo, pela ampla exploração dessas supostas reações nas redes sociais por grupos anti-vacinas, além da imprensa local.
Essa intensa abordagem midiática, segundo estudos já divulgados anteriormente, contribuiu significativamente para esse surto ansioso.
Cerca de 80 jovens relataram nos últimos anos dores de cabeça, dores nas pernas, inclusive com dificuldades para andar, além de desmaios e, em casos mais graves, convulsões.
O estudo publicado internacionalmente no jornal Vaccine nesta semana selecionou doze adolescentes que viajaram em duplas e foram submetidos a 300 horas consecutivas de monitoramento. Fizeram ainda os seguintes exames: vídeo-eletroencefalografia, ressonância magnética cerebral, líquido cefalorraquidiano, laboratoriais subsidiários e avaliações neurológicas e psiquiátricas.
O trabalho envolveu psiquiatras, neurologistas, neurofisiologistas, neuropsicólogos e clínicos. “Não foi encontrada associação biológica entre a vacina contra o HPV e os problemas clínicos apresentados pelos pacientes”, diz a publicação.
Dos pacientes selecionados, dez tiveram diagnóstico positivo para doença nervosa associada a intenso estresse. Outros dois, que são irmãos, receberam diagnóstico de epilepsia generalizada idiopática com base genética.
De acordo com o psiquiatra Jose Gallucci-Neto, da USP, o que houve no Acre foram respostas relacionadas ao estresse de imunização, uma tradução para a expressão “immunization stress-related responses”, ou ISRR.
“Nenhum dos eventos/diagnósticos tem relação com a vacina”, escreveu o médico. “A vacina contra o HPV é segura e protege contra a principal causa de mortes em mulheres no Estado do Acre: o câncer de colo de útero. Os eventos de ISRR foram relatados com diversas vacinas (cólera, sarampo, tétano, hepatite B, H1N1) desde 1992, são um problema médico sério e envolvem etiopatogenia complexa com fatores sociais e psicológicos envolvidos. Porém claramente não tem nenhuma relação com o imunobiológico da vacina”, conclui.