De acordo com a conclusão do inquérito que apurou o assassinato do pastor Anderson do Carmo, uma disputa por poder e dinheiro motivou o crime, que aconteceu em junho de 2019, segundo a polícia a mando da também pastora Flordelis dos Santos. O marido teria tomado espaço demais dentro de seu ministério, sua casa e seu gabinete em Brasília.
A deputada federal ganhou fama no início dos anos 2000 ao chamar atenção para sua história. Uma missionária que tinha mais de 40 filhos, a maioria adotivos que ela tirou da violência. Logo, Flordelis se tornou um ícone de perseverança e bondade. Nessa época, Anderson ainda vivia à sombra de sua mulher. Mas nos últimos anos, principalmente durante a campanha de Flordelis à Câmara, a posição se inverteu.
Anderson passou a dar as cartas e resolver tudo para que Flordelis não se preocupasse com nada, apenas com a chegada ao poder. “Ele era extremamente inteligente e pegava as coisas muito rápido. O que ele não sabia, ele perguntava. Se ainda assim não ficasse claro, o pastor ia se aprofundar no assunto. E não admitia não ter o melhor para a mulher”, conta uma pessoa que conviveu de perto com os dois durante anos.
Foi assim que o pastor praticamente dominou o gabinete de Flordelis. Certa ocasião, ele não podia entrar no plenário. Quando Flor se deu conta, Anderson já estava a seu lado. “Ela mesma dizia: vocês não conhecem meu marido? Ele sempre dá um jeito’”, ela dizia, conta outra fonte.
A proeza de Anderson para ter livre acesso dentro da Câmara foi fazer amizade com os auxiliares de serviços gerais. “Ele pegava aquela gente toda, segurança, faxineiros, os que serviam café. A maioria era evangélica, e quem não era se transformava. O que ele fez? Criou um culto para esse povo todo, e ia lá pregar em dia de semana às 19h. Com isso, conseguia o que queria, passe livre para entrar e sair de onde quisesse”, descreve uma das antigas frequentadoras do culto do pastor morto em 16 de junho de 2019.
Histórias sexuais em dúvida
O acesso de Anderson às dependências da Câmara dos Deputados, aos políticos e até ao presidente Jair Bolsonaro passou a ser visto como ameaça por Flordelis, que mesmo tendo o eficiente marido como melhor assessor que tinha, perdia espaço inclusive no núcleo familiar.
“Ele decidia tudo e botava ordem na casa. Hoje, a família está totalmente dividida. Os filhos brigando demais, porque quem tinha pulso firme era o pastor”, conta Luana Rangel, nora do casal.
O jeito brincalhão, porém, firme de Anderson do Carmo fazia com que a casa seguisse certa ordem. Por isso, para ela e o marido Wagner, quinto filho adotivo do casal, os depoimentos que colocaram o pastor e Flordelis como frequentadores de casas de swing e aliciadores dos próprios filhos que seriam oferecidos sexualmente a pastores, não batem. “Essa história é muito fantasiosa a meu ver. Frquentei a casa durante seis anos. Meu marido morou o tempo todo lá. Nunca vimos nada que pudesse despertar isso ou nos fazer desconfiar. Se faziam, era tão escondido, que nenhum membro sabia”, acredita Luana.