Moradores de Lagoa da Confusão, na região oeste do Tocantins, gravaram vídeos para mostrar uma nuvem de poeira branca que vem atingindo a cidade. Se as imagens não tivessem sido gravadas no Tocantins seria possível até pensar que se trata de uma região que está enfrentando uma nevasca. Só que o fenômeno é causado pelos resíduos de uma indústria de calcário instalada na área urbana da cidade.
Um vídeo gravado na TO-374, nos fundos da empresa, mostra um cenário peculiar com o solo e a vegetação totalmente embranquecidos. Em outra gravação é possível ver ruas tomadas pela nuvem de resíduos. “38 graus na sombra, mas aqui na Lagoa é uma cidade que neva. Olha a neve”, brincou um morador.
A empresa Calcário Cristalândia informou ao G1 que está providenciando a transferência da empresa para outro local e que vai cumprir o prazo estipulado pelo Ministério Público, até janeiro de 2021. Veja a nota abaixo.
O calcário é muito utilizado na agricultura para corrigir os níveis da acidez do solo, favorecendo o aumento da produtividade das lavouras. Só que o contato direto com a substância causa riscos à saúde. No caso da inalação, além de irritação no trato respiratório, a exposição prolongada pode causar problemas respiratórios crônicos piratórios crônicos.
Moradores de Lagoa da Confusão informaram que a nuvem de calcário acontece principalmente durante a madrugada e nas primeiras horas da manhã. Um homem que pediu para não ser identificado contou que a indústria foi instalada anos atrás fora da cidade, mas com o crescimento habitacional ela acabou ficando inserida próximo da área habitada.
Segundo o médico Dowglas Oliveira, o risco é ainda maior para quem vive próximo das áreas mais afetadas. “O calcário é um minério que se deposita no pulmão e ocasiona microinflamações no tecido pulmonar, fazendo aumentar a fibrose. Um feito parecido com o que acontece com quem fuma. Porém, quem fuma apresenta outros sinais como o odor, já nesse caso a pessoa pode achar que não tem nada, mas a médio e longo prazo existe essa possibilidade de desenvolver um problema grave”, disse o clínico.
Apesar dos riscos à saúde a licença de operação da indústria tem sido renovada pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins). Em nota, o órgão ambiental informou que “o empreendimento encontra-se licenciado para operação pelo órgão ambiental e já tramita no Instituto um novo processo de solicitação de licenciamento para a mudança da planta do local atual próximo à área urbana, para um novo local, afastado da zona urbana”.
A empresa Calcário Cristalândia informou que “depois de quase três décadas funcionando naquele local foi adquirida judicialmente por um grupo empresarial que, durante as negociações fechou um acordo com o Ministério Público para retirar a planta daquele local, que era fora da zona urbana no início”.
Disse ainda que um novo lugar para funcionamento já foi escolhido e a empresa está preparando a mudança. Segundo a Calcário Cristalândia, o prazo ajustado com o Ministério Público se encerra em janeiro de 2021 e será cumprido. “A empresa desejava cumprir antes, mas a pandemia acabou impondo uma morosidade em todos os procedimentos”, disse.