PSL oficializa Joice como candidata contra pressão de aliados de Bolsonaro

Em convenção anunciada com um dia de antecedência, o PSL lançou formalmente nesta segunda-feira (31) o nome da deputada federal Joice Hasselmann como sua candidata à Prefeitura de São Paulo. O partido vinha sofrendo pressão da ala bolsonarista por um nome mais simpático ao presidente.

Joice e Bolsonaro estão rompidos desde o fim do ano passado, época em que o presidente deixou o PSL e se engajou na tentativa de construir seu próprio partido, o Aliança pelo Brasil.

A convenção foi realizada presencialmente no diretório municipal do PSL. Apesar da pandemia do novo coronavírus, não foi possível manter o distanciamento social durante o evento. Cerca de 40 pessoas se juntaram numa das salas do diretório. Todos usavam máscaras e o partido disponibilizou álcool em gel. Convidados para o evento, jornalistas tiveram de ficar aglomerados enquanto os parlamentares faziam o anúncio da candidatura.

Ao lado do deputado federal e seu coordenador de campanha Júnior Bozzella e do senador Major Olímpio, Joice negou que a convenção marcada na primeira data possível fosse uma tentativa de neutralizar a pressão de Bolsonaro para tirá-la do pleito.

Segundo fontes do PSL, Bolsonaro teria colocado a desistência de Joice Hasselmann como condição para ele voltar ao partido. Bolsonaristas como a deputada federal Bia Kicis (DF) têm defendido o nome de Luiz Philippe de Orleans e Bragança para a disputa.

“Não, ninguém está com pressa de nada. E em qual partido não existe resistência interna?”, declarou ela.

Desde o rompimento com Bolsonaro e especialmente em razão de seu depoimento à CPMI das Fake News no Congresso, em dezembro, a deputada está em pé de guerra com a ala bolsonarista e os apoiadores do presidente, de quem ela foi alvo de pesados ataques virtuais ao longo dos últimos meses.

Apesar da convenção, a candidatura de Joice não está totalmente garantida. Segundo o advogado eleitoral Helio Silveira, a direção nacional pode cancelar uma convenção partidária e lançar outro nome à disputa “se a escolha inicial contrariar normas internas e deliberações do partido”.

Joice afirmou que Júnior Bozzella se reuniu com Orleans e Bragança na última semana para conversar sobre uma possível candidatura a vice. No entanto, ela negou que seja uma articulação do próprio presidente Bolsonaro para ter uma candidatura de seu gosto na capital paulista.

Além do ex-secretário da Receita, Marcos Cintra, a quem Joice chamou de “meu posto Ipiranga”, ela disse cogitar Ivan Leão Sayeg, empresário do ramo de joalherias, como seu vice. Ela tem o apoio do Democracia Cristã (DC) e negocia com PMB e PTC.

Questionada sobre negociações com Jair Bolsonaro para ele e Flávio voltarem à legenda, a deputada também desdenhou da suposta negociação.

“Acho que o presidente tem que ficar onde está. O retorno do presidente é um balão de ensaio da turma do Aliança pelo Brasil. E não me sentiria confortável em conversar de novo com os filhos do presidente. Não quero sentar do lado de quem cometeu rachadinha”, declarou.

Apoio de Bolsonaro

Para demonstrar que o PSL pode ter apoio de Bolsonaro sem precisar mexer na candidatura, Joice já deu indicativos de que está disposta a ser a candidata do presidente na eleição. Ela afirmou ao GLOBO na semana passada que se Bolsonaro quiser “resgatar as bandeiras com as quais foi eleito, será bem-vindo”.

“O que não queremos é alguém que venha gerar mais divisão. Sempre defendi as bandeiras lavajatistas e do governo. Quem desvirtuou isso no meio do caminho foram os bolsonaristas”, declarou ela.

Em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, Joice havia dito que ela é a melhor candidata para ser apoiada pelo presidente.

Luiz Philippe de Orleans e Bragança, entretanto, nega que Joice possa ter apoio da ala bolsonarista. Ele disse ao GLOBO que “não podemos apoiar quem ataca o presidente” e colocou as fichas no presidente do PSL, Luciano Bivar, a quem cabe a última palavra sobre a definição das candidaturas.

“O Bivar é quem manda no fim das contas. Ele tem noção de política e vai ter que avaliar se quer uma candidata para marcar posição, ainda que perca a eleição, ou ter um candidato com apoio do governo federal com chances de vencer”, afirmou o deputado.

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