Quem prega que rock’n’roll é coisa do capeta, vai se surpreender ao descobrir que Elvis Presley, considerado o eterno rei desse estilo musical, frequentava igreja evangélica e foi muito influenciado pela música gospel. Prova disso é que ao longo da carreira ele gravou dezenas de canções para louvar a Deus e com elas ganhou todos os seus prêmios Grammy, além de discos de ouro e de platina e entrou para Hall da Fama da Música Gospel em 2001.
Além disso, desde que morreu, em 1977, Elvis Presley inspirou mais de uma centena de seitas religiosas no mundo inteiro, de diversas doutrinas, do cristianismo ao hinduísmo, sendo que algumas delas chegaram até a reverenciá-lo como um messias. Nem o Brasil escapou desse “fenômeno”. Por aqui, há cerca de dez anos, foi noticiado que havia em Florianópolis (SC), um fã-clube evangélico que celebraria Elvis e reuniria mais de 20 mil fiéis dentro e fora do país.
O rebelde da igreja
Até nome bíblico Elvis Presley adotou para si. O seu do meio era “Aron” e foi modificado pelo cantor para “Aaron”, que em português significa “Aarão” e para as religiões abraâmicas era um profeta e irmão do personagem bíblico Moisés. O contato de Elvis com o meio religioso começou ainda na infância. Nascido em 1935, no Mississipi (EUA), pertencia a uma família pobre e cristã que frequentava a igreja. Os Presley eram membros da Assembleia de Deus.
Nessa época, Elvis então teve contato com os louvores e aprendeu noções básicas de violão com um pastor. Gostava ainda do cantor gospel Jake Hess, que influenciou mais tarde e de forma significativa seu estilo de cantar em baladas. Outra fonte de inspiração sua foi Rosetta Tharpe, cantora e guitarrista negra de música gospel muito popular na década de 1940 e considerada por alguns historiadores a mulher que, antes de Elvis, teria inventado o rock.
Assim, descobriu que a música era o caminho que gostaria de trilhar e com o tempo se aperfeiçoou e foi coroado astro do rock. Sua carreira estreou em 1954, quando lançou o single “That’s All Right”, que nada tinha a ver com religião. A partir daí começou a conquistar fãs, assinar contratos para gravar discos, participar de programas de TV e de rádio, fazer turnês, atuar no cinema e não parou mais. Manteve-se no topo do sucesso até o final dos anos 1960.
Rei da música gospel
Ao longo de sua trajetória artística, Elvis, mesmo sendo o rei de um estilo de performance sexualmente provocante, também não abandonou seu apego à crença e até usava músicas gospel para ensaiar e se soltar antes dos shows e do início das sessões de gravação. Em 1960, ele lançou “His Hand in Mine”, seu primeiro LP gospel, que dedicou em memória à mãe, falecida em 1958, e o colocou no topo do ranking das músicas mais populares desse período.
Lançou pouco depois “Crying in the Chapel”. Dizem que Elvis depois de uma longa noite gravando canções gospel só que queria “chorar na capela”. Esse hino tornou-se um dos mais bem sucedidos comercialmente de todos os discos gospel do cantor. Mas a música favorita de Elvis seria “How Great Thou Art”, conhecida no Brasil como “Quão Grande És Tu”. Foi com ela que conquistou seu primeiro Grammy, em 1967, e o último, em 1974, após cantá-la ao vivo.
Em 1972, recebeu ainda outro Grammy, por seu último LP gospel “He Touched Me”. De acordo com Dave Marsh, crítico da revista americana Rolling Stone e autor de vários livros de música e membro do Hall da Fama do Rock, Elvis foi, em suas palavras: “indiscutivelmente o maior cantor gospel branco de seu tempo e realmente o último artista de rock a tornar o gospel um componente tão vital de sua personalidade musical quanto de suas canções seculares”.
“Padroeiro” do rock
No entanto, ser “religioso” não evitou que Elvis tivesse um final trágico e precoce. Após o fim de seu casamento e de travar uma batalha contra o vício e a obesidade, o astro, que também enfrentava complicados problemas de saúde, faleceu de insuficiência cardíaca aos 42 anos. Entrou para a História como uma lenda do rock americano e mesmo morto continua a dar o que falar. Tem gente que afirma que ele não morreu e até o consagrou como um santo pop.
Em Memphis (EUA), onde Elvis tinha uma casa, que é a segunda mais visitada do país, atrás apenas da Casa Branca, e virou um local de peregrinação de seus adoradores, foi fundada a primeira Igreja Presleyteriana. Além dela, existem outras, como a Igreja Congregacional de Elvis, na Virgínia Ocidental, e a Igreja da Vida Universal, da Califórnia e que compara Elvis a um santo moderno. Roy Farris, um “ministro” dessa igreja até adotou o visual temático do ídolo.
Mas não só entre os “cristãos” que o astro provocou revisões significativas de doutrina. No meio hindu, foi criada uma igreja chamada El-vishnu que prega ser Elvis uma das encarnações do deus Vishnu, que é representado com uma das mãos segurando um disco dourado. Para David H. Rosen, psiquiatra pela Universidade da Califórnia e que estudou a influência de Elvis na vida da sociedade, os fãs desse rei, ou messias, desejam sua volta desde que ele se foi.
Fontes: Sites The Elvis Encyclopedia, Washington Post, The New York Times, The Riverfront Times, Elvis Triunfal, Rolling Stone, Elvis Presley History Blog, CBS News; e livros “Elvis: By Those Who Knew Him Best”, de James Heard e Dick Clayton; “Understanding Elvis”, de Susan Doll; “Elvis Culture: Fans, Faith, and Image”, de Erika Lee Doss; “The King on the Road”, de Robert Gordon; “Elvis After Elvis, The Posthumous Career of a Living Legend”, de Gibert B. Rodman.