O Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgou um relatório na última segunda-feira (19) mostrando a realidade de todos os estados do Brasil no quesito violência, durante os seis primeiros meses do ano.
O Acre ganhou destaque em vários segmentos, inclusive no que trata do índice de violência doméstica e sexual contra mulheres na pandemia do coronavírus.
Os dados mostram que 226 casos de lesão corporal dolosa foram registrados em 2020. No ano de 2019, durante o mesmo período, 368 ocorrências foram contabilizadas. A variação é de -38,6%.
No primeiro semestre de 2020, São Paulo foi o Estado que mais somou crimes contra mulheres, com 24.069 notificações.
Quando o recorte é sobre “Estupro e estupro de vulnerável, por número de vítimas do sexo feminino”, também no mesmo período, 80 casos foram notificados em 2019 (no primeiro semestre) e 52 casos em 2020, no estado acreano.
É possível perceber que houve uma diminuição na quantidade de denúncias realizadas quando é feita uma comparação entre os dois períodos.
Aproximação dos agressores e diminuição de investimentos no enfrentamento
Procurada pela reportagem do ContilNet para falar sobre os aspectos psicológicos e sociais que interferem na subnotificação dos casos, a psicóloga clínica, professora e pesquisadora da área de violência contra mulheres, Madge Porto, explicou que o medo gerado pela aproximação do agressor, por conta do período de isolamento decorrente da pandemia do coronavírus, é um dos fatores.
Além disso, a especialista declarou que as mulheres agredidas se sentem impedidas de denunciar, por conta da falta de investimentos nos setores que devem combater os comportamentos misóginos.
“A violência contra mulheres, apesar de histórica, tem ganhado a percepção delas num período muito recente, por conta da estruturação de políticas públicas e novas medidas nas áreas de segurança e assistência social para combater a prática criminosa”, defendeu.
“Associado ao medo de denunciar, pela aproximação do agressor, está o sentimento de desamparo da mulher, por não ter a quem recorrer. Ela [que sofre violência doméstica e sexual] está impedida de procurar ajuda, também pela insuficiência de recursos para os setores que devem combater os crimes e punir os agressores. É uma espécie de desidratação de recursos. O Brasil sofre com isso diariamente”, finalizou.