‘Acabou a narrativa do rouba, mas faz’, diz pesquisador sobre rejeição a candidatos

A desconstrução da rejeição de candidatos rechaçados pela população deverá fazer com que a campanha ganhe toques mais beligerantes, com ataques diretos entre os adversários. A avaliação é de Maurício Moura, diretor da Idea Big Data e pesquisador na Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Em entrevista ao GLOBO, Moura afirma que é mais fácil desconstruir os outros do que a própria rejeição. Diz, ainda, que os casos de corrupção pesam na imagem frente à população e que a Operação Lava-Jato extinguiu a narrativa do “rouba, mas faz”. [Foto de capa: Divulgação]

Como superar a rejeição no curto espaço de campanha?

Não há uma fórmula mágica. O que acontece, na prática, é que fazer desconstrução dos outros com narrativas é muito mais fácil do que desconstruir sua própria rejeição, que é um trabalho de longo prazo.

A campanha na televisão e as redes sociais podem ajudar?

Sou da filosofia de que não existe separação entre rádio, televisão e redes sociais. O conteúdo circula em todos os meios. Agora, em todas as plataformas, esses candidatos vão expor quais são as estratégias. Teremos muitos ataques, principalmente na reta final, para desconstruir o candidato que está na frente.

Candidatos com maior rejeição tendem a ser mais beligerantes?

Sim, e isso é global. No Brasil, isso se torna mais acentuado porque as campanhas são muito curtas, os candidatos têm pouco tempo para construir o voto, há uma limitação em postagens e em como se comportar. Em países como Estados Unidos e da Europa, você pode viver em campanha. Aqui, é um espaço limitado de tempo. Antes, você não pode parecer candidato, pedir voto. A campanha brasileira é restritiva.

Geralmente, os candidatos mais rejeitados pela população são os com casos de corrupção no histórico. Herança do “lava-jatismo”?

A maior herança da Lava-Jato foi extinguir ou fazer virar exceção a narrativa do “rouba, mas faz”. Essa narrativa não para mais em pé. Vivemos um segundo momento do “lava-jatismo”. 2018 foi o ápice do antissistema, do antipolítico, antiestablishment. Agora, em todo o mundo, antissistemas e antigovernos têm mais dificuldades. Não basta ser honesto, vai ter que resolver problemas.

Que outros elementos pesam para o eleitor?

Com a pandemia, quem está no poder teve maior exposição. Antes dela, um terço da população de São Paulo não sabia quem era o Bruno Covas (PSDB), agora ele é amplamente conhecido. Isso também aconteceu com o Kalil (candidato em Belo Horizonte pelo PSD), que já era bem avaliado e agora é mais. Prefeitos que saíram mal avaliados da pandemia vão ter maior dificuldade na campanha.

O que um candidato com rejeição acima de 50% pode esperar?

Não me recordo de alguém que tenha conseguido ser eleito com rejeição tão alta.

PUBLICIDADE