Bolívia quer renegociar acordo de gás com o Brasil. Entenda o que está em jogo

A declaração de Luis Arce, que deve ser eleito presidente da Bolívia, de que pretende renegociar os contratos de fornecimento de gás com a Petrobras causou surpresa entre especialistas e a própria Petrobras. Isso porque o Brasil depende cada vez menos da commodity do país vizinho devido ao aumento da produção no pré-sal, que neste ano cresceu 32%.

Em março, a Petrobras e a estatal da Bolívia, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPFB), assinaram um aditivo que prevê a redução da obrigação de fornecimento da YPFB para a Petrobras do volume atual de 30,08 milhões de metros cúbicos por dia para 20 milhões de metros cúbicos por dia.

E desses 20 milhões de metros cúbicos por dia, a Petrobras paga por 14 milhões de metros cúbicos por dia consumindo ou não. É o chamado take or pay.

A redução por parte da Petrobras feita em março, dizem analistas, ocorre porque o Brasil já não é mais dependente do gás do país vizinho como nas décadas anteriores, já que a produção de gás do pré-sal é crescente. Além disso, os preços do GNL (gás liquefeito) no  mercado internacional estão em baixa.

Rivaldo Moreira Neto, presidente da consultoria Gas Energy, diz que a declaração de Arce é apenas uma mensagem política. Para ele, a Bolívia vive incerteza futura com a menor demanda dos países vizinhos pelo seu gás.

— O Brasil já vem reduzindo seu consumo de gás da Bolívia ao longo dos anos, por conta do pré-sal. Além disso, atualmente,  os preços do GNL no mercado internacional estão baixos, o que torna mais vantajoso do que o gás da Bolívia — explica ele.

O especialista cita ainda que a Argentina, país que compra gás da Bolívia, acaba de lançar um plano para aumentar a produção interna de gás:

— São contratos importantes para a Bolívia. A aposta do mercado é que o Luis Arce apenas deu uma mensagem política, mas quando ele assumir e se inteirar do assunto vai ver que não há sentido renegociar com a Petrobras.  Pelo contrário, vai ter que buscar compradores para seu gás.

Um outro analista lembrou que o acordo feito entre a Petrobras e a YPFB permite ainda que  o excedente de volume de gás natural, não usado pela Petrobras, possa ser comercializado diretamente pela YPFB com outros agentes do mercado no Brasil.

Mas esse analista ressalta que isso ainda vai depender da abertura do mercado de gás no Brasil.

Segundo uma fonte ligada à estatal, o ideal é esperar o presidente da Bolívia ser de fato eleito e entender o que ele pretende. Lembrou ainda que “causa surpresa esse tipo de declaração”. [Foto de capa: Ueslei Marcelino/Reuters]

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