19 de abril de 2024

Conheça histórias de sucesso de brasileiras que decidiram empreender para viver em Portugal

Após atravessarem o oceano, imigrantes brasileiras seguem em jornada múltipla em Portugal. Em busca de melhores oportunidades e qualidade de vida, encontraram no negócio próprio a maneira de vencer o desemprego e o desequilíbrio de gênero, tanto no mercado de trabalho quanto nas funções domésticas e familiares.

Elas são maioria nas iniciativas de empreendedorismo apoiadas pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM).

Aluna de uma das últimas turmas presenciais pré-pandemia do curso gratuito de Apoio à Criação de Negócios do ACM em Lisboa, a carioca Franciane Amoedo estava com a vida cheia de pontas soltas quando chegou em Portugal. Em 2016, não possuía visto de residência nem trabalho, mas tinha um filho para sustentar.

Demorou cerca de quatro anos para regularizar documentos e amarrar a ideia da You Need It, empresa de revenda de enxovais de bebês importados da Polônia. Em 2019, sentou em frente a uma máquina, aprendeu a costurar vendo tutoriais no YouTube e passou a criar sem a intermediária estrangeira.

— Não sabia costurar nem com agulha e linha. Mas vi uma oportunidade de mercado com a chegada de mais brasileiros. Continuo importando o material têxtil da Polônia, que é mais barato. Aprendi no curso a importância da pesquisa de mercado, de investir em networking, da dinâmica do e-commerce e gestão de estoque — disse Franciane, 33 anos, ressaltando que as brasileiras foram a maioria em sua turma.

Mesmo no auge da pandemia, 22 negócios foram criados com apoio do ACM até agosto, sendo a maioria por mulheres (13) e de nacionalidade brasileira.

O órgão ajudou na implementação ou manutenção do empreendedorismo de 2.300 pessoas desde 2016: 1.400 do sexo feminino e cerca de 700 de nacionalidade brasileira, ainda que o ACM não tenha especificado a quantidade por sexo.

Rotina mais segura

Os brasileiros são o maior grupo de estrangeiros em Portugal, com mais de 151 mil residentes oficiais. Um grande mercado de serviços direcionados a obtenção de vistos e cidadania, abertura de empresas e questões burocráticas.

— Durante a pandemia, aumentou em 90% a procura de brasileiros que querem vir. Trabalhei muito, mesmo com filho pequeno, porque, como empreendedora, se não trabalhar muito, não rende — contou a advogada carioca Caroline Campos, de 34 anos, que atende em Lisboa e vive com a família na tranquila Mafra, área metropolitana da capital.

Caroline acrescenta:

— Costumava ver arrastões no Túnel Rebouças e aqui fico boba de ver Porsche e Land Rover passando à noite na rua.

Ana Carolina Santos também ficou assustada nas ruas de Cascais. Não pela quantidade de carros luxuosos, mas pela tranquilidade com a qual o casal de filhos poderia, enfim, caminhar sem o medo da violência do Espírito Santo.

Formada em Direito, tentou passar em concurso público, mas acabou tendo aprovada uma licença de guia de turismo e iniciou uma empresa de enoturismo só para mulheres:

— Quando emigrei, desisti do Direito. Já tinha um blog de viagens (Um olhar novo) e enveredei pelo enoturismo. Visitava quintas e eventos de vinhos, onde só havia homens. Então, por que não eventos destes só para mulheres?

A pandemia, no entanto, tem sido um duro golpe para o turismo, e Ana Carolina concilia a atividade com um trabalho administrativo na Universidade Nova de Lisboa. Quando fez o curso do ACM, sua turma também era composta por maioria feminina:

— A mulher imigrante tenta empreender para fugir do horário rígido, porque tem casa e filhos para cuidar. Ainda há desequilíbrio grande nessa área, mesmo se o pai for presente.

Ainda há preconceito

No índice do Fórum Econômico Mundial que mede a igualdade de gênero no mercado de trabalho, Portugal subiu apenas duas posições em 14 anos e ocupa o 35º lugar em 2020. Na União Europeia, a disparidade salarial entre homens e mulheres é de 14%.

— Existe, sim, preconceito. É muito complicado arranjar emprego. Sou psicóloga, tenho curso técnico de personal trainer, morei na Argentina e nos Estados Unidos, trabalhava em relações com a mídia em uma empresa de São Paulo e achei que seria fácil arrumar trabalho em Lisboa. Mas estava enganada — disse a Dayane Araújo, 39 anos, que terminou há pouco o curso da ACM.

Dayane Araújo investiu € 8 mil e criou a Real Tasty, de marmitas saudáveis [Foto: Jenniffer Yanagawa]

Angustiada com a falta de perspectivas, ela investiu cerca de € 8 mil para montar uma cozinha de produção, e criou a Real Tasty, que entrega marmitas saudáveis:

— Quando fui alugar a cozinha, dois portugueses ficaram com a postura de “é brasileira, mulher e ainda quer  empreender…”. Ser imigrante não é para amadores.

Foi na quarentena que a carioca Daniele Loppes, de 38 anos, abriu uma barbearia em Aveiro. Ela já era dona de um espaço de estética em Canidelo, Vila Nova de Gaia. Em ambos, diz que, às vezes, há mais clientes que espaços na agenda. E credita o sucesso à combinação de agilidade on-line com o ambiente que criou:

— Aqui, não usam muito o WhatsApp nem investem em marketing nas redes. Eu sou on-line. Criei playlist de MPB — diz Daniele. — Até as portuguesas querem fazer unhas com as brasileiras. Porque não é só fazer unhas, é criar ambiente sem mudar a originalidade. Eu não fico falando português de Portugal. Mantenho meu gerúndio…

Mais liberdade

— Eu me sentia reprimida em Gaspar, cidade do Sul do Brasil. Resolvi emigrar e empreender em Portugal porque procurava mais liberdade para explorar este momento de afirmação das mulheres, que, assim como eu, brasileiras e estrangeiras, buscam uma outra direção no mundo — conta a designer Ana Siqueira, de 29 anos.

Demitida em plena pandemia do bar onde trabalhava, ela passou a quarentena trabalhando em suas ilustrações com cunho político e inaugurou a estamparia Flora para atender outras marcas. [Foto de capa: Carol Andrade]

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