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Denúncia: Equipe econômica de Trump repassou informações que beneficiaram investidores

Por O GLOBO

Em fevereiro, enquanto o presidente americano, Donald Trump, minimizava publicamente o coronavírus nos Estados Unidos, sua equipe econômica dizia o oposto a um grupo seleto de investidores do mercado financeiro e doadores do Partido Republicano. É o que mostram e-mails e relatórios trocados entre gestores de instituições financeiras aos quais o jornal New Times teve acesso.

Segundo a reportagem, ao que tudo indica, os pareceres — contrários ao discurso do Trump e que alertavam antecipadamente sobre os riscos da pandemia para a economia — ajudaram doadores ricos do partido a obter vantagem financeira durante os dias caóticos do início da pandemia, quando os mercados globais estavam oscilando.

As informações privilegiadas partiram de um e-mail de um consultor veterano de fundos multimercados, William Callanan, membro do conselho da Hoover Institution, um centro de estudos conservador ligado à Universidade Stanford que estuda economia, segurança nacional e outras questões. O centro tem relações próximas com o governo Trump, já que muitos membros da Casa Branca passaram por lá.

Durante uma reunião com o conselho da Hoover, um dos conselheiros do governo Trump Tomas J. Philipson, disse ao grupo que ainda não podia estimar os efeitos do vírus na economia dos EUA. Isso aconteceu no dia 24 de fevereiro. Horas depois, no entanto, Trump disse no Twitter que o “vírus estava sob controle” e enviou uma mensagem a investidores: “O mercado de ações está parecendo muito bom para mim!”

No dia seguinte, o conselho — cujos membros eram doadores do Partido Republicano — recebeu outra prova dos discursos conflitantes que o governo mantinha. Horas depois de afirmar ao canal CNBC que a pandemia estava controlada, o diretor do Conselho Econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse a membros da instituição que o “virus estava controlado por ora”, mas que não sabia dizer até quando, segundo consta em um documento que descreve as reuniões entre integrantes do governo e a Hoover.

Nesse mesmo documento, Callanan escreveu: “O que me surpreendeu foi que quase todos os funcionários [do governo] indicavam o vírus como um ‘ponto de preocupação'”.

O documento rapidamente se espalhou pelo mundo dos investimentos. Nesta época, o mercado acionário dos EUA já sofria fortes oscilações por causa do alerta de um funcionário federal de saúde pública de que o vírus provavelmente se espalharia.

O memorando exagerava a gravidade das advertências de alguns funcionários do governo à Hoover e incluía projeções terríveis dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), sem atribuição clara, que não parecem ter vindo da reunião. O New York Times optou por publicar apenas as passagens do documento que foi possível confirmar.

Para muitos dos investidores que receberam o documento ou ouviram falar dele, esse foi o primeiro sinal significativo de ceticismo entre os funcionários do governo Trump sobre sua capacidade de conter o vírus.

Troca de e-mails

Callanan descreveu os briefings da Hoover em um longo e-mail que escreveu para David Tepper, o fundador do fundo de hedge Appaloosa Management, alertando sobre o nível de preocupação entre as autoridades americanas a respeito da propagação do vírus nos EUA. No e-mail, o consultor também mencionou como as agências de saúde pareciam estar mal preparadas para combater uma pandemia.

Dentro do Appaloosa, o e-mail circulou entre os funcionários, que por sua vez informaram pelo menos dois investidores externos das partes mais preocupantes descritas por Callanan, segundo pessoas que também receberam a mensagem.

Esses investidores também repassaram as informações para seus próprios contatos, e elas alcançaram pelo menos sete investidores de pelo menos quatro empresas de gestão de dinheiro em todo o país. No final da tarde de 26 de fevereiro, os mercados de ações dos EUA caíram cerca de 300 pontos em relação à alta da semana anterior.

Tepper tinha sido um dos primeiros gestores financeiros de relevo a sinalizar preocupação com a covid-19 nos Estados Unidos. No dia 1º de fevereiro, em entrevista à CNBC, ele descreveu o vírus como um possível “divisor de águas”, dizendo que os investidores precisavam ser “cautelosos” até que se soubesse mais sobre o impacto que a pandemia teria. O e-mail de Callanan confirmava o temor do fundador da Appaloosa.

“Acabei de sair da capital e queria responder à sua pergunta o mais rápido possível”, escreveu Callanan a Tepper e a um de seus assistentes em um e-mail em 25 de fevereiro. “Se você puder manter os comentários abaixo confidenciais, ficaria grato.”

Nessa mensagem, Callanan relatou que vários funcionários do governo Trump expressaram um grau maior de alarme sobre o coronavírus do que a Casa Branca dizia publicamente.

Em nota, Callanan disse que seu e-mail para Tepper continha “opiniões pessoais e profissionais com base em extensa pesquisa e informações disponíveis publicamente”, mostrando sua “preocupação com a pandemia global que estava surgindo”. O e-mail foi compartilhado com outras pessoas sem seu conhecimento ou consentimento, afirmou.

Tepper inicialmente negou ter recebido a mensagem de Callanan. Depois reconheceu em uma entrevista que ele provavelmente recebeu o e-mail, mas que não se lembrava dele. [Foto de capa: Anna Moneymaker/NYT]

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