Landon Donovan, co-proprietário e treinador do San Diego Loyal, que joga na USL Championship, segundo escalão do futebol nos Estados Unidos, retirou sua equipe de campo na noite desta quarta-feira (30) após um de seus jogadores, abertamente gay, ter sido alvo de insultos homofóbicos por parte de um adversário.
O San Diego Loyal jogava contra o Phoenix Rising e vencia por 3 a 1 no primeiro tempo quando Collin Martin, meia do Loyal que é expressamente gay, teria sido discriminado com um insulto homofóbico supostamente em um dialeto jamaicano por parte de Junior Flemmings, do Rising.
Os jogadores do Loyal cercaram o árbitro para reclamar do episódio, enquanto à beira do gramado Donovan discutia com o treinador do Phoenix Rising, Rick Schantz. Neste instante, um jogador do Loyal se aproximou de Schantz e disse: “Não se faça de bobo, você sabe o que significa”.
Donovan conta que, depois do intervalo, sua equipe havia decidido que, se o jogador não fosse retirado do jogo, seja pelos árbitros ou por seu treinador, Schantz, o time todo deixaria a partida. “Porque se eles não estão dispostos a agir, então nós precisamos agir, não temos escolha”, explicou o ex-jogador da seleção norte-americana.
Primeiro, Donovan foi até o árbitro para pedir por providências. “Ele disse que ouviu a palavra, sabia que era uma palavra triste, mas não sabia o que ela significava e, então, não poderia interpretá-la e não queria expulsá-lo. Justo, eu o entendo, se você não fala uma outra língua, e ele não fala o que quer que aquilo tenha sido, jamaicano, então tudo bem.”
Em seguida, Donovan foi até o técnico do Phoenix Rising, Rick Schantz, e falou: “Vou ser bem claro, tivemos uma semana bem difícil, ele e eu conversamos antes do jogo sobre o tanto de coisas pelas quais passamos, e eu disse que se não tirasse seu jogador do campo, nossos atletas não iriam jogar, porque temos que nos posicionar. Então ou você faz, ou nós faremos”. Schantz descartou substituir Flemmings, e então o San Diego Loyal agiu.
“Nossos jogadores disseram que não iriam aceitar aquilo. Eles estavam conscientes naquele momento de que estavam abrindo mão de qualquer esperança de chegar aos playoffs. Eles estavam derrotando um dos melhores times da liga, mas disseram que não importa, que há coisas mais importantes na vida, que é preciso defender aquilo em que acreditamos. Então, eles tomaram a decisão de sair, e eu tenho um orgulho tremendo desse grupo e dessa organização de que faço parte”, contou Donovan, em vídeo publicado pela conta oficial do San Diego Loyal no Twitter.
O duelo com o Phoenix Rising foi o último da fase regular da temporada da USL Championship. O Loyal brigava por uma vaga nos playoffs da competição e na rodada passada já havia abdicado do ponto conquistado no empate com o Los Angeles Galaxy II depois de um jogador do time adversário, Omar Ontiveros, ofender racialmente um atleta negro do Loyal, Elijah Martin, e também não ser expulso. Neste caso, no entanto, Ontiveros foi suspenso pela liga e, em sequência, cortado do grupo por parte do Galaxy II.
“Tivemos um incidente difícil na semana passada, na partida com o LA, e fizemos um voto a nós mesmos, à nossa comunidade, aos nossos jogadores, ao clube, à USL, que não toleraríamos intolerância, insultos homofóbicos, coisas que não pertencem ao nosso esporte. Tanto é que, em nossas placas de publicidade, fizemos uma declaração dizendo: ‘Vou agir, vou falar’. Porque, na semana passada, o nosso arrependimento foi não termos feito algo no momento quando o Elijah foi insultado racialmente”, comentou Donovan.
O mais lamentável de tudo é a constatação de que o episódio da noite desta quarta-feira aconteceu mesmo após San Diego Loyal e Phoenix Rising terem feito um acordo antes do jogo de que, aos 26 minutos do segundo tempo, momento em que Elijah Martin foi ofendido racialmente contra o Galaxy II, as duas equipes parariam o jogo e segurariam uma faixa condenando a discriminação, dizendo: “Eu falarei, eu agirei”.
Donovan afirma que, depois de tudo que sua equipe passou na rodada anterior, ouvir um outro insulto discriminatório foi a gota d’água para ele. “Eu sei aquilo pelo que esta equipe passou, sei o quão difícil foi para eles sequer entrar no campo nesta noite, considerando tudo o que aconteceu, e então acontece de novo, uma semana depois. É devastador para mim.” [Foto de capa: Imago/OneFootBall]